Literatura: Contos, poesias e prosa.

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Contos do dia a dia...




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Mania estranha


Aquela senhora, aparentemente fina e educada, sempre envergonhava o marido quando ia a restaurantes ou cafés elegantes.
Desta vez foi demais. O marido muito empolgado com a beleza da esposa,  levou-a a um almoço baiano, com aquele exagero de comidas típicas.
A mulher ficou muito feliz porque iria matar a saudade de comer aquele xinxim de galinha, que há muito tempo não degustava...
E o marido teve a maior decepção da sua vida ,  pois a mulher foi a última que terminou, porque ela teve de roer todos os ossinhos, pegando com as mãos lambuzadas de azeite o que ainda lhe restava no prato...
Decepção e vergonha diante de seus amigos, e o marido jamais voltou a convidá-la para qualquer tipo de festa quanto mais para um almoço...

Autora: Maria José Camelier

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Foi o tempo ou nós dois?


O tempo passou, passou

E nada se renovou...


Eu não senti a sua falta

Quando você se afastou

Apenas senti saudade

De algo bom que ficou...


Uma saudade tranquila

Uma estranha sensação

Que entrava diretamente

No meu pobre coração


Mas depois eu descobri 

que o amor não existia

E assim fiquei no meu canto

Sorrindo e  chorando assim

Mas mesmo em pranto estou vendo

Que você gosta de mim...


Autora: Maria José Camelier

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Esta mulher não se chama Amélia


Todos os dias quando o marido chegava, ele a encontrava ouvindo novela no rádio. Sempre comentava que ela era muito preguiçosa.

Foi chegando de mansinho , uma certa vez, e disse:

- minha filha, olhe aqui um servicinho para você...

E ela pensou que fosse uma novidade qualquer e falou:

- me mostre logo, quero ver... 

Era um sacolão de feira, um mocó, cheio de coração de galinha para ela tratar e fazer uma moqueca para a noite. 

Não deu outra. Olhou para um  lado, para o outro, jogou fora metade da encomenda e preparou tranquilamente o que sobrou...

De noite,  quando o marido chegou, e viu aquela quantidade tão mínima, perguntou:

- finalmente, somente isso foi o que sobrou?

- Claro que sim, seus filhos também comeram...

E até hoje o marido da falsa Amélia não sabe o que aconteceu.


Autora: Maria José Camelier

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15 anos em Cajazeiras


Como eu sempre queria conhecer os bairros de Salvador, resolvi aceitar um convite para a comemoração dos 15 anos da filha de uma amiga minha.

Uma menina muito linda, rapidamente cresceu e fez questão da minha presença.

Para não ir sozinha, levei um amiguinha também de 15 anos para participar das alegrias...

Para chegar até lá tivemos que pegar um ônibus cheio e fiz pensamento positivo para conseguir me sentar, e me sentei logo no início porque fiz uma cara de cansaço e o rapaz que estava me olhando me deu o lugar...

Chegando na rua indicada do aniversário não havia ninguém nós fomos as primeiras, mas fomos bem recebidas e estranhamos a falta da Simone, estava no salão arrumando o cabelo.

Precisamente às 11 horas, chega a menina toda paramentada, e nós, morrendo de fome de sede a esperar pelo bolo de aniversário desses 15 anos tão falados...

Resultado, conseguimos beber um refresco e resolvemos imediatamente dar o fora daquele aniversário, pois estávamos morrendo de fome e o bolo ficou para o outro dia, conforme nos disseram na porta.... Aniversário de 15 anos nunca mais. A amiguinha que eu levei foi logo me dizendo : 

- de outra vez , não me chame não...

Autora: Maria José Camelier

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Confiança exagerada


Todos os dias, aqueles meninos saíam para passear de bicicleta sem licença da mãe...

De um certo modo, ela confiava naqueles guris de 10 e 12 anos e nada fazia com que ela os proíbisse de sair de bicicleta...

Mas aconteceu algo de imprevisto: desta vez eles resolveram ir para a ilha de bicicleta e tudo. 

Como conheciam o rapaz que dirigia a lancha, conseguiram ir com a bicicleta 2 horas da tarde para casa de veraneio da tia Maria.

Ao ver os meninos de bicicleta e tudo perguntou:

- vocês estão vindo de onde?

- de Salvador...

- onde está sua mãe?

- ela não sabe que nós estamos aqui...

Imediatamente a tia Maria ligou para a mamãe dos impossíveis garotos e...haja promessa de castigo...

A Mãe surpresa com o ocorrido, largou o que estava fazendo e foi buscar ligeiro em Mar Grande, com receio de não encontrar mais lancha para voltar... 

Já de volta, ela prometendo puxavão de orelhas, e eles? Felizes

por mais uma aventura de adolescentes. 

Quanta irresponsabilidade !!!

Autora: Maria José Camelier

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Betina


Dona Betinha ia fazer aniversário e todos os anos oferecia um sarapatel. Era muita gente convidada e ela sentia prazer em comprar os ingredientes ali nas Sete Portas onde morava.

Convidou-nos para comer o tal quitute e era só o que se comentava lá em casa; sábado vai ter sarapatel de Betinha...

E a aniversariante comprou tudo na feirinha, tudo inteiro e lá se vem ela com o material dentro de um mocó. Quando chegasse em casa iria cortar tudo miudinho, lavar bem lavado, cheirando a tempero verde e muita cebola...

No meio da animação esquecemos o número da casa da aniversariante e quando chegamos perto das Sete Portas sentimos aquele cheiro diferente parecendo cheiro de esgoto... 

Será que é o cheiro do sarapatel? Fomos naquela direção e acertamos. O cheirinho do esgoto da rua se misturou com o cheiro do sarapatel ou foi o contrário?

Betinha ficou contente com a nossa presença, porque havia muito sarapatel na panela e pouca gente para comer...

- Vocês vão comer aqui e levar para casa, mas quem disse que ninguém aguentou? O cheiro estava terrível...dentro de casa e era do... sarapatel.

Nunca mais ninguém quis saber de aceitar convite para comer sarapatel fora de casa...

 Dessa vez a aniversariante sobrou, o cheiro do sarapatel não agradou...

Autora: Maria José Camelier

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Mulher corajosa?


Aquela senhora, mãe de muitos filhos, morava pobremente em uma avenida onde havia mais ou menos umas 10 casas, com quarto,  sala e banheiro.

Cada um se preocupava com sua vida mas não havia os requisitos de higiene como se exige, apenas o essencial para viver.

Aconteceu o inesperado: o serviço de água e esgotos cortou o consumo daquela avenida de casas que já estavam devendo há muito tempo.

Foi um corre- corre,  um Deus- nos- acuda, ninguém sabia onde conseguir água para beber e para higiene.

Uma mulher teve coragem nesta hora: na calada da noite,  ela pegou um alicate, abriu o chumbo e a água jorrou... Começou a chamar os vizinhos que aproveitassem, que trouxessem suas vasilhas para encher com o líquido precioso...
foi aquele corre corre maravilhoso e todo mundo elogiando aquela mulher corajosa que burlou a vigilância e  serviu a todos os necessitados do precioso líquido...

Autora: Maria José Camelier

- pronto, disse ela, chega minha gente, está na hora de fechar o chumbo de novo...

O resultado da volta da água eu não sei explicar porque ninguém tinha dinheiro para pagar a dívida que estava altíssima.

Autora: Maria José Camelier