Leitura e reflexão: Coisas Inanimadas.

Foto: Verdade na Prática 


 Coisas Inanimadas


Levantei numa destas noites em que despertamos com fome e fui até a cozinha,
Como nunca ando só, nem mesmo pela casa, fiz-me acompanhar de um livro amigo, papel e caneta,
Sentei-me na cozinha e comecei a comer cereais com leite e banana. 


Um silêncio completo, se não fosse pelos cereais que uma vez mordidos gemiam entre meus dentes.
A mente cansa mas não para, e ali rodeado de objetos inanimados fui levado a tantos momentos da minha vida, que passaram e não existem mais,
Não, existem sim, mas existem de forma diferente: Existem na presente lembrança que nem o hoje ou o amanhã conseguirão apagar.
Na verdade, nem mesmo serão capazes de afastar de mim estes momentos de maneira que já não os sinta mais,
Meus sentimentos fazem do meu passado um ato presente e do meu futuro uma realidade.
Sou eu lá, aqui e acolá.

A banana fez-me lembrar do velho Tião, meu pai, que envelheceu sem eu perceber e morreu sem eu esperar… banana… quantas vezes vi meu velho as comer com pão.
O leite quente lembra-me da minha mãe, sempre com um leitinho quente no fim da noite para me forrar o estômago e não dormir com ele vazio.
O silêncio faz-me lembrar das tantas vozes que já não ouço mais.
Lá ao longe vejo um cômodo escuro, daqui parece vazio, mas basta acender a luz para ver tudo o que lá está, não será assim o futuro, uma escuridão, um aparente vazio, que nos aguarda para que ao seu tempo as luzes sejam acesas e sejamos absorvido pela surpresa? Não será assim nosso presente, uma escuridão constante, um aparente preenchimento com coisas que nós cercam e imaginamos serem reais enquanto a realidade se esconde por trás do imaginário, da ilusão, das coisas inanimadas, mas basta um acender das luzes, para descobrirmos o que de fato nos rodeia?

O leite, o cereal e a banana já desapareceram, a caneta e o papel juntaram-se para escrever estes versos.
Aos poucos até as coisas inanimadas se rendem ao silêncio das horas.
Mas ainda tenho diante de mim um livro, um amigo de fala doce e silenciosa, enquanto o sono não chega ele me convida para uma viagem, futuro ou passado não sei, que importa, para quem tem alma é sempre presente.



Autor: Luis Alexandre Ribeiro Branco




Tambem publicado em:

Verdade na Prática 

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Cascais - Lisboa - Portugal

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Geraldo Brandão

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