Leitura e reflexão: A ilusão do amor.

Foto: Verdade na Prática 

A ilusão do amor

“O amor é uma arte!” – Como arte impressiona por sua beleza. Mas como um soneto ou uma sonata, repete-se ou seria um sentimento detestável. [Luis A R Branco]

Criado num ambiente cristão conservador fui doutrinado à acreditar na ilusão do amor eterno, não importa o que venha em nosso caminho.

Entretanto, com o passar dos anos, como homem, como pastor e também como filósofo tenho debruçado-me sobre este tema, às vezes de forma mais profunda, outras vezes de forma meio que superficial. A realidade é que inúmeros casais que juraram um amor eterno no altar, acabam por se separarem. Já vi casos de casamentos que não duraram um mês, já outros, ao longo da vida, tal como uma árvore em pleno outono, vai perdendo suas folhagens, restando pouco ou quase nada do que antes era chamado amor, assim acontece com estas relações. 

Confesso que já perdi a esperança no absolutismo das relações matrimoniais como algo impossível de ser desfeito ou ultrapassado por outras experiências. Não estou aqui a fazer propostas de novos caminhos ou mesmo a sugerir a aceitação daquilo que passa a ser normal na sociedade. O que pretendo com este breve texto é abrir uma janela que nos permita olhar para fora. A menos que sejamos capazes de entender o que se passa, não reuniremos as condições para lidar com estes casos cada vez mais comum em todos os círculos sociais.

A verdade é que se o amor é uma arte, então, como uma arte, impressiona por sua beleza. Mas assim como um soneto ou uma sonata, repete-se ou seria um sentimento detestável. Muitos agarram-se ao texto bíblico que diz que o “amor jamais acaba” para justificar a manutenção de uma relação que já chegou aos seus limites. O amor jamais acaba como um dom, como uma manifestação da graça de Deus para com os indivíduos e dos indivíduos para com o seu próximo. Mas o amor conjugal precisa um pouco mais do que fé e determinação. Este amor precisa de manutenção e de um renovar contínuo dos elementos que o envolve.

Muitos casamentos chegam ao fim quando um casal deixa de ter um sonho em comum. Outras relações são desfeitas pelo abuso de uma das partes na relação. E ainda há o caso do amor que simplesmente deixou de existir, foi desgastado pelo tempo, pela mesmice. O que resta? O conformismo. A tentativa incessante de manter a relação por meio de aconselhamentos, encontros de casais, o medo de um Deus irado que lançará todos os divorciados no inferno.

A Bíblia nos dá espaço para pensarmos nas duas direções. A primeira do divórcio como algo irremediável. Esta era uma prática comum entre os judeus. A segunda é entender que embora esta prática fosse comum entre os judeus, ela não era o ideal de Deus para os matrimônios, mas Deus permitida devido a dureza do coração humano. O certo é que em ambos os casos há uma permissão divina ou uma pratica religiosa que buscava absorver esta prática na comunidade sem acrescentar mais dores. E talvez você me pergunte: “Mas o que Deus uniu poderá separar o homem?” A minha resposta a esta pergunta vai como outra questão: “E foi Deus quem uniu este casal?” Acredito que a resposta será dada à medida em que este casal seja capaz de vencer seus obstáculos, manter a paixão e interesse um pelo outro, continuarem a ser sexualmente atraentes um para com o outro. Não sendo este o caso, continuaremos a ver mais e mais divórcios na igreja, a medida em que as pessoas vencem seus medos e seus tabus.

Não acredito que a normalização do divórcio seja a solução para a igreja, no entanto, nem tampouco é o absolutismo. A pós-modernidade trouxe ao ser humano o sentimento de ser livre, e de fato ele o é, portanto, o amor entre um casal para sobreviver terá que passar pelos testes da vida. O importante é não divinizarmos nem satanizarmos as relações, mas examinar cada uma delas à luz de seu contexto existencial e buscarmos formas não apenas de salvar o casamento, mas as pessoas envolvidas nele.


Autor: Luis Alexandre Ribeiro Branco



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Geraldo Brandão

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