Leitura e reflexão: Verbum Regis, sic!

 

Foto: Verdade na Prática


Verbum Regis, sic! 

Tenho o hábito de almoçar num bom restaurante de um centro comercial de Salvador, o mais próximo da minha morada. Quando me perguntam o porquê, digo-lhes que nada nos cobram para nos prepararem todo o tipo de comida, todos os dias, a nós bastando-nos escolher qualitativa e quantitativamente apenas o que queremos. Sem custos adicionais, pagamos tão-só o que a balança acusa. E de tanto frequentar o tal restaurante, até ganhei um espontâneo e bem-vindo descontozinho. Na sequência, vou a uma cafetaria interna a uma grande livraria, e lá, enquanto sorvo uma chávena de capuchino quentinho, ponho-me a “skim over” um ou outro livro interessante.

Os meus familiares já sabem: se eu sumir, encontrar-me-ão invariavelmente a vaguear em meio aos livros, nomeadamente no setor de gramáticas, dicionários e/ou publicações jurídicas. Dia desses, enquanto fiscalizava os dicionários, localizei um intitulado COGITO ERGO SUM. Depois de o ter compulsado um pouco, constatei que fora editado em Lisboa. Nesta obra o autor Orlando de Rudder comenta expressões latinas, oferecendo-nos ricas informações contextuais e históricas de como se formaram. O curioso é que, não sendo um trabalho de cariz teológico ou religioso, pode imediatamente perceber-se em que grupo confessional não se encontra o autor. Entretanto, este secundário e periférico aspecto não implica desmerecimento à obra.

Compro mais facilmente um livro do que uma camisa. Para adquirir esta peça de roupa, necessário certificar-me de que a loja a tem no tamanho adequado ao meu corpo, e no padrão e na cor que me agradam. Há ainda que se pensar na qualidade do produto. Por vezes, conjuga-se tudo isto, mas o preço praticado supera o da loja concorrente. Volto à loja rival e constato que há pouco foi vendida a última camisa adequada a mim. Há minutos. Agora, só há na loja peças com dois pontos acima do meu tamanho e em cores que não me apetecem. O vendedor frustra-se pela quase-venda, entra em pânico e oferece-me ansiosamente outra camisa, que não tem exatamente as especificações desejadas.

Algumas complicações poupam-se aos livros. Não os compro por causa do tamanho ou para satisfazer as minhas preferências cromáticas. Examino-lhes o conteúdo, a edição, o autor e o seu estilo. Evito os amassados e os sujos. Se puder escolher dentre duas ou mais livrarias, comprarei à que vender mais barato.

Decidi comprar o dicionário COGITO ERGO SUM. Estava tão resoluto que nem o submeti ao leitor ótico para aferir-lhe o preço. Ao fazer o pagamento, tomei um susto: o seu preço estava bem acima das minhas expectativas. Pudera, veio d´além-mar! Se se tratasse de uma camisa, eu teria desistido na hora. Contudo, um dicionário não merece ser relegado ao desamparo. Ensina-nos tanto! Livra-nos das dúvidas, é sincero e confiável. É um livro de palavra. Palavra que não volta atrás. *Palavra de rei, isto mesmo, de rei!

Autor: Magno Reis Andrade




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Verdade na Prática 

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Cascais - Lisboa - Portugal

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