Microcontos: Estante XVII...

 

Desenho: ilustraçã
Nesta coluna, teremos sempre alguns pequenos textos conhecidos como microcontos. Parece simples compô-los, mas não o é. Para os compor, o autor deve dispor de uma boa ideia primária a ser desenvolvida, combinada com alguma habilidade para brincar com as palavras, tudo a se encaminhar para um final contraditório, nalguns casos, ou surpreendente, noutros. 

Comida de gato

— Mamãe, o livro que estou lendo fala de um gato sorrateiro. O que é um gato sorrateiro?

— É um gato que só se alimenta de ratos. O daqui de casa não é só rateiro, porque ele também come sobras do almoço. Quer dizer, além de rateiro ele é sobreiro.


Autor: Marcos Mairton



Tecelã

Teceu a vida com os fios do desejo e cumpriu sua missão. Concluiu que vida é uma renda de bilro.


Autora: Zi Carloni



Indícios

Há muito, a esposa desconfiava que o marido tinha um sério caso. Acertou. Finalmente, depois de noites insones, ele proferiu a sentença.

Autor: Magno Reis Andrade



1249

Mahler no rádio, como deve ser. Continuei dirigindo. Épico.


Autor: Lucas Beça



Bargantaria

É tão “ruim de roda”, que não consegue obter a carteira de habilitação.

Plotou seu veículo como “Auto-Escola” e guia tranquilamente pelas avenidas da cidade.


Autora: Zi Carloni



Pintando e bordando

O centro de artesanato era um local de muito trabalho e confusão. Enquanto uns apenas trabalhavam, outros pintavam e bordavam.


Autor: Magno Reis Andrade



1104

Acabou a tinta da caneta. A luz também. O celular descarregado.

Suas ideias sumindo.


Autor: Lucas Beça



Shayeubad e o tempo

— O tempo nunca tem pressa — disse-me Shayeubad.

— Você costuma dizer que o tempo não existe.

— Os personagens dos seus contos existem?

— Na ficção, sim — respondi sorrindo.

— Pois é. O tempo é personagem da minha ficção. E ele nunca tem pressa.


Autor: Marcos Mairton








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Santa Isabel - São Paulo - Brasil

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