Impunidade para os agentes da ditadura era total, diz Clarice Herzog

Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil Edição: Aécio Amado




As mortes em sequência do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e do metalúrgico Manoel Fiel Filho, em janeiro de 1976, três meses depois, foram para Clarice Herzog, viúva do jornalista, uma demonstração de como a impunidade acobertava as ações criminosas dos agentes da ditadura.

“A impunidade era tão grande. Eles se sentiam tão poderosos que podiam mostrar aquela foto do Vlado enforcado com pé no chão e o Fiel Filho enforcado, sentado numa privada. É uma vergonha, porque nem se preocupavam em fazer uma farsa bem-feita, porque a impunidade para eles era total”, disse à Agência Brasil.

 O jurista Helio Bicudo atuou no processo sobre a morte de Fiel e colheu depoimentos de presos que estiveram com o metalúrgico no DOI-Codi

O jurista Hélio Bicudo atuou no processo sobre a morte de Fiel e colheu depoimentos de presos que estiveram com o metalúrgico no DOI-CodiRovena Rosa/Agência Brasil

O jurista Hélio Bicudo, na época promotor público, colheu depoimentos de ex-presos da época da ditadura para validar a versão de assassinato praticado por agentes do Estado. “Ninguém que atuava na área poderia acreditar que aquilo foi suicídio. Sabia-se, como foi no caso do Herzog, que era uma morte praticada pela polícia política”, disse.

Bicudo destaca que os dois episódios, as mortes de Herzog e de Fiel Filho, foram importantes para reconstrução da democracia no Brasil. “Essas duas mortes mostravam que a atuação dos agentes da repressão se manifestava não só na classe média, mas também na classe operária, como é o caso do Manoel. Foi uma morte que trouxe um anseio de mobilização para a sociedade, de necessidade de mudança”, afirmou.