O que o mundo está sabendo sobre a vacina que a Rússia acabou de registrar para a prevenção contra o Covid-19 e por que esta provocando tantas dúvidas em tantos?
Atualizada em 12/08/2020 às 7:40 h.
Nessa quarta-feira dia 11 de agosto, o mundo ficou sabendo o que já não era nenhuma novidade para ninguém.
A Rússia, através seu presidente, Vladimir Putin anunciou que, "A vacina desenvolvida para covid-19 recebeu aprovação regulamentar após menos de dois meses de ser testada em humanos e que, vai começar uma vacinação em massa em outubro."
Afirmou ainda Putin que, "a minha própria filha já havia tomado a vacina".
Por que não foi surpresa para o mundo?
Tem uns meses que o presidente russo vem falando dessa vacina e que, "os EUA vão ter uma surpresa como quando lançamos o primeiro veículo espacial na frente deles", se referindo ao lançamento do Sputnik.
Vocês podem ver nossa reportagem publicada no JC sobre o assunto AQUI com o título "Vacina russa contra o Covid-19 com previsão de ser aprovada em agosto e produzida em setembro desse ano?".
Para nós, cidadãos leigos na área de saúde, das ciências, que desejamos um medicamento eficaz para curar os infectados e uma vacina tambem eficaz e que a tomemos despreocupados sabendo que foi devidamente estudada, testada e teve comprovação científica para combater o vírus e não a nós, ficamos assustados. Será que o remédio vai ser pior que a doença?
Para quem está assistindo de fora, tem a impressão que são pesquisas econômicas, políticas e não pesquisas científicas.
O que nos tranquiliza, é que existe, ainda maioria, profissionais da área de saúde trabalhando arduamente e com muita responsabilidade para encontrarem a tão sonhada vacina eficaz contra o Covid-19.
Não somos apenas nós, população de fora da área médica que ficamos inseguros e preocupados, tambem profissionais da área médica - científica que tambem estão questionando.
Diversos especialistas internacionais levantaram preocupações sobre a velocidade com que a Rússia criou a vacina.
A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) solicitou a Rússia na semana passada a seguir as diretrizes internacionais para a produção de uma vacina contra a covid-19.
Segundo a organização, a vacina russa não está na lista da OMS das seis vacinas que alcançaram a fase três dos testes clínicos, que envolvem testes mais amplos em humanos.
Putin disse que, "A vacina, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya de Moscou, oferece imunidade sustentável contra o coronavírus."
Mikhail Murashko, ministro da Saúde da Rússia, disse que, "A vacina provou ser altamente eficaz e segura, saudando-a como um grande passo para a vitória da humanidade sobre a covid-19."
Na semana passada, o governo russo anunciou que, "Estava se preparando para iniciar a vacinação em massa após testes bem-sucedidos da vacina."
Dezenas de outras vacinas no mundo vêm sendo desenvolvidas e embora algumas tenham tido um avanço rápido, a maioria dos especialistas acredita que uma vacina não estará amplamente disponível até meados de 2021.
Ainda em 4 de agosto, Christian Lindmeier, porta-voz da OMS reforçou os pedidos de cautela dizendo, "Às vezes, pesquisadores afirmam que encontraram algo. Isso é, obviamente, uma boa notícia mas, há uma grande diferença entre descobrir, ou ter uma pista, de uma vacina que funcione e passar por todas as fases de testes".
Não houve nenhum estudo ou dado científico sobre os testes que realizou divulgado e também não se conhecem os detalhes sobre as fases do processo que geralmente devem ser cumpridas antes de se aprovar e lançar no mercado uma vacina, segundo cientistas.
No começo desse mês de agosto, Anthony Fauci, principal especialista do governo dos Estados Unidos para doenças infecciosas, afirmou que, "Nós também poderíamos ter uma vacina amanhã. Não seria segura ou eficaz, mas poderíamos ter uma vacina amanhã".
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS disse em entrevista que, "Várias vacinas se encontram agora em ensaios clínicos de fase três, e todos esperamos ter várias eficazes que possam ajudar a prevenir a infecção nas pessoas. No entanto, não há uma solução imediata neste momento e pode ser que nunca haja".
Essa declaração tambem não é nada animadora e que traga esperança a população.
Na fase 3 que é a última delas para aprovação de uma vacina, e também a mais decisiva, pois é quando se produzem as evidências reais sobre o seu uso contínuo.
A agência estatal russa de notícias Itar-Tass, quando a vacina ainda se encontrava na etapa final da fase 2, fez o anúncio da campanha de vacinação em massa.
Tatiana Golikova, vice-primeira-ministra russa, afirmou que, "A vacina é uma das mais promissoras em teste atualmente no país, será submetida a um ensaio clínico maior neste mês. Em agosto de 2020, planejamos testá-la sob outras condições, ou seja, depois do registro se planeja outro ensaio clínico com 1,6 mil pessoas. Esperamos o lançamento para produção industrial em setembro de 2020".
Segunda-feira dia 9 de agosto, em entrevista a Itar-Tass, Denis Manturov que é ministro da Indústria e Comércio, afirmou que, "No próximo mês 3 empresas russas vão começar a produção comercial."
Além do Instituto Gamaleya, a vacina será produzida pela farmacêutica Binnopharm, que faz parte do AFK Sistema.
Vladimir Chirakhov, presidente do AFK Sistema se pronunciou dizendo que, “As capacidades da planta Binnopharm permitem produzir atualmente cerca de 1,5 milhão de doses de vacina por ano. Pretendemos equipar a fábrica com equipamentos adicionais, o que aumentará o volume de produção de vacinas".
Com relação ao Brasil.
Essa Vacina deverá ser produzida tambem no Brasil segundo Kirill Dmitriev, chefe de fundo soberano russo a partir de novembro. Com o nome de Sputnik 5 (referência ao 1° satélite lançado ao espaço pela Rússia) ela será exportada para os países interessados.
Jorge Callado, diretor-presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná, disse, "Estamos numa fase muito inicial dessas tratativas, para que tenha qualquer troca de informações, qualquer reunião mais avançada, é necessária a assinatura do acordo entre o governo do Paraná e a Rússia, que está prevista para acontecer. Estamos num momento de pandemia, possivelmente essas reuniões ocorrerão por videoconferência, quando for muito necessário, atendendo a todos os limites e prudência sanitárias algumas reuniões presenciais, mas o importante é que existe mais uma opção de vacina".
O Governo do Paraná, emitiu o seguinte comunicado.
"O Governo do Paraná informa que está em tratativas com a Embaixada da Rússia no Brasil para participar do desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19. Neste momento, as negociações ainda estão em andamento. Dentro deste processo, na quarta-feira dia 12 de agosto haverá uma reunião técnica com o embaixador da Rússia no Brasil, Sergey Akopov, e equipe. O encontro é para definir os termos de um possível acordo entre as partes, e será coordenado pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior. O Governo do Estado reforça que o Instituto Tecnológico do Paraná (Tecpar) é um órgão com capacidade técnica para participar do processo. Após o encontro novas informações serão fornecidas."
Com Informações das Agências:
BBC, Reuters, AFP, DW, RFI.
Vamos agora dar uma olhada em algumas manchetes de publicações feitas hoje pelo mundo.
RFI:
"Sputnik V": Putin anuncia homologação da "primeira vacina" contra um Covid-19 e conta que filha foi cobaia;
Agência Reuters:
OMS não tem informações suficientes para avaliar vacina russa contra Covid-19, diz Opas (Organização Panamericana ds Saúde);
AFP:
OMS registra necessidade de "procedimentos rigorosos" após anúncio de vacina russa;
UOL:
Anvisa diz que não recebeu pedido de autorização para vacina russa;
Estadão:
Opas procura Rússia para ter mais informações sobre vacina contra covid-19;
Viva Bem:
Vacina da Rússia, por que o registro sem concluir testes não é confiável?
Ansa:
Vacina russa precisa de avaliação 'rigorosa', diz OMS;
CNN:
A vacina da Rússia para a Covid-19 é confiável?
Geraldo Brandão