Quase metade de professores entrevistados em pesquisa não recomendaria a própria profissão

Entre os motivos da insatisfação dos professores estão a desvalorização, a má remuneração, a rotina desgastante e a falta de infraestrutura e recursos

Foto: UFMG
O Brasil tem cerca de 2,2 milhões de professores, o que torna essa profissão a mais numerosa do país. Mas um levantamento feito pela organização Todos Pela Educação e pelo Itaú Social, com docentes da Educação Básica em todo o país, sugere que tem muito docente insatisfeito com a profissão.
De acordo com a pesquisa, quase a metade dos entrevistados (49%) chegou a afirmar que não recomendaria a própria profissão. É o que explica a gerente de projetos da ONG Todos pela Educação, Caroline Tavares.
“Os temas abordados iam em torno de atratividade da carreira, formação inicial, o que eles pensam da própria carreira e do seu desenvolvimento profissional e as reflexões deles sobre a gestão das políticas públicas do Brasil. Quando perguntados se eles indicariam a profissão para um jovem que queira seguir a carreira de professor, 49% dos entrevistados dizem que não. Não recomendam a carreira para ninguém.”
O estudo entrevistou mais de 2.100 profissionais da Educação Básica em redes públicas municipais e estaduais e da rede privada de todo o país. Desses, 33% afirmaram estar totalmente insatisfeitos com a atividade de docente e apenas 21% estão totalmente satisfeitos.
Os motivos da insatisfação apontados são desvalorização (48% das respostas), má remuneração (31%), rotina desgastante (15%) e falta de infraestrutura e recursos (13%). De acordo com a pesquisa, os professores também estão insatisfeitos com os critérios para progressão na carreira, aposentadoria e principalmente apoio à saúde.
A professora de Ciências Naturais Cibele de Lima é docente desde 2011. Ela se sente satisfeita com a profissão, mas acredita que os baixos salários e a falta de reconhecimento causam desânimo.
“Os baixos salários e principalmente a falta de reconhecimento do profissional causa desânimo, o que acaba fazendo que o jovem procure outra profissão ainda logo no início. Conheço muitos professores que abandonaram a sala de aula logo no início da carreira, pois o choque de realidade que a gente vê é muito grande entre a teoria e a prática. Mas eu acredito que ser professor é vocação, e realmente não é todo mundo que possui esse perfil, então a pessoa tem que realmente querer ser professor, e não apenas fazer uma licenciatura por fazer.”
Para a pesquisadora em comunicação Patrícia Cunegundes, a insatisfação com a profissão no País não é exclusiva à área da Educação.
“Eu acho complexo porque hoje a gente vive um pouco uma sociedade adoecida, né? Os profissionais competentes, profissionais sérios, que levam as suas profissões a sério, eles estão um pouco adoecidos também, porque a gente tem uma conjuntura social, socioeconômica, complexa. O mundo está complexo. Claro, a pesquisa foi direcionada para a questão dos professores, porém eu acho que a gente pode expandir essa questão para várias áreas.”
Ainda segundo a pesquisa, além de aumento salarial (62%), os professores querem urgentemente mais formação continuada (69%); escuta para a formulação de políticas educacionais (67%) e a restauração da autoridade e do respeito frente à comunidade escolar (64%).
A remuneração média dos professores no Brasil, atualmente, é de R$ 4.451,56, de acordo com o estudo. A maioria dos docentes (71%) tem a profissão como principal renda da casa e 29% afirmam ter outra atividade como fonte de renda complementar.
O Ministério da Educação informou que o estudo em questão é elaborado pelo Todos Pela Educação, uma ONG, e portanto, não é um estudo oficial do MEC. Além disso, os professores são vinculados às secretarias de educação dos estados e dos municípios, que possuem autonomia constitucional.
Procurado pela reportagem, o Conselho Nacional de Secretários da Educação, o Consed, não se manifestou sobre o assunto até a publicação desta matéria.

Reportagem, Cintia Moreira

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