Bembé do Mercado celebra 128 anos de afirmação da religiosidade e da cultura negra

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A partir desta quarta-feira (10), a cidade de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano celebra a edição 128 da tradicional festa do Bembé do Mercado, o maior candomblé de rua do mundo. O evento, que comemora a libertação dos negros, em 1888, traz como tema este ano: “Juntos Somos Mais Fortes”. Em meio à festa babalorixás e ialorixás cumprem os rituais religiosos diante do olhar de centenas de pessoas quando mais de 45 terreiros de candomblé vão as ruas. Os cultos acontecem nesta quarta-feira (10), quinta-feira (11) e no sábado (13), sempre às 21h. Para Pai Poti, que está à frente da organização o momento é de comemoração, mas principalmente de reflexão, “É a afirmação do povo negro, da luta, da resistência das casas de matriz africana”, disse em meio a Roda de Conversa “Mestres e Maestros”, conduzida pelo Núcleo Egbé Oniré sobre a importância e comportamento dos Ogans dentro dos terreiros candomblé, que abriu a programação.

Registrado como Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2012 pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), entidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), o Bembé do Mercado também apresenta uma programação diária recheada de manifestações culturais, no Largo do Mercado. No palco montado no barracão, shows com grupos de samba de roda locais e de outras atrações como: Ilê Aiyê, Raimundo Sodré, Cortejo Afro, Ana Mametto, entre outros, animam o público.

O ponto alto da festa acontece na madrugada de sábado (13), para domingo (14), quando uma cerimônia anuncia o presente às águas. Às 14h, o povo de santo sai do Largo do Mercado em direção à praia de Itapema, também em Santo Amaro, para fazer a entrega da oferenda à Iemanjá (balaio com flores, perfumes e outros artigos).
São parceiros da festa a Associação Beneficente Ilé Axé Oju Oniré, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Santo Amaro, Secretaria de Turismo do Estado, Secretaria de Cultura do Estado através do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC, e a Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura.

A história
O Bembé está relacionado ao Treze de Maio, data emblemática, que marca a extinção legal da escravidão, no ano de 1888, momento em que os africanos, crioulos escravizados, bem como os libertos, se organizaram para celebrar suas lutas pela liberdade. Entretanto, desde 1808, festejos públicos que envolviam africanos eram comuns nas ruas de Santo Amaro da Purificação. Como bem analisa João José Reis (1991), Bembé é uma festa realizada pelas comunidades de terreiro.

Segundo a tradição oral, a Festa começou em 1889, quando João de Obá – “pai de terreiro”– reuniu filhos e filhas de santo e armou um barracão de pindoba, enfeitando-o com bandeirolas, para comemorar o aniversário da abolição. A atitude de João de Obá relacionava-se também ao costume dos pescadores em ofertarem flores e perfumes para a Mãe D’água. Eles iam, de canoas e saveiros enfeitados, até São Bento das Lajes, levar presentes para as “águas”. Esse ritual era acompanhado por toques de atabaques. Chegando ao encontro entre o rio e o mar, um pescador experiente mergulhava, para entregar as oferendas.

Preservação
O IPAC foi o responsável pelas pesquisas que transformaram a manifestação um "Patrimônio da Bahia", produzindo livro e videodocumentário sobre o tema. A coleção Cadernos do IPAC está no sétimo volume. São 160 páginas, mais de 170 imagens entre fotografias, mapas e infográficos, além do videodocumentário de 52 minutos.
Segundo o diretor geral do IPAC, João Carlos de Oliveira, ao decretar o reconhecimento de um bem cultural, o Estado passar a ter responsabilidades de proteção. "Preservação dos terreiros, projetos socioculturais para as comunidades e infraestrutura para a população devem ser prioridades", ressalta.