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Literatura: Professor ou “stor”, “stôr”, “s’tor”, ou “s’tôr”?

Imagem: Verdade na Prática 



  Professor ou “stor”, “stôr”, “s’tor”, ou “s’tôr”


 Há alguns dias ouvimos das nossas filhas uma expressão que havíamos ouvindo por aí, no entanto, uma vez que a expressão entrou no ambiente dos Brancos, minha esposa e eu discutimos o assunto para decidir se permitíamos o uso da expressão ou ensinávamos nossas filhas a falar corretamente. A expressão em questão é a forma como os alunos referem-se aos professores nas escolas em Portugal: — “stor”, “stôr”, “s’tor”, ou “s’tôr”.

As expressões supracitadas enquadram-se no domínio da oralidade, não se encontram nos dicionários tradicionais da língua portuguesa, nem mesmo como abreviatura ou simbologia. Desta forma resta a opção de que a expressão séria apenas uma gíria estudantil.

No entanto, para meu espanto, a ouvi em uma das sessões da academia de letras na forma de tratamento como um académico referiu-se a um professor presente. Há gírias e gírias. Uma gíria original surge como um vocabulário desconexo vulgar ou popular que mantém-se do domínio da oralidade. O meu problema com o uso do “stor”, “stôr”, “s’tor”, ou “s’tôr” é que não há sequer originalidade, mas uma fusão irregular de palavras — senhor e doutor —, mais propriamente da simplificação das duas palavras no discurso oral informal — senhor = “sô” + doutor = “tor”.

Em Portugal o título doutor é usado para qualquer pessoa que tenha concluído uma licenciatura, independentemente de possuir ou não o grau de doutor. O que para mim é um pouco confuso, não que eu tenha dificuldades de chamar um bacharel ou licenciado de doutor, mas em saber de fato, em especial no meio académico quem é ou não pós-graduado. Creio que os académicos entenderão o motivo da minha confusão.

Voltando para o “stor”, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa(2009), da Porto Editora, assim como no Vocabulário Ortográfico do Português, da responsabilidade do ILTEC, qualquer uma das formas indicadas não pode ser considerada uma abreviatura, porque não se restringe à escrita, como são os casos de «Sr. = senhor», «pág. = página», «fac. = faculdade», «Fr. = frade», «fl. = folha», «Dr.= Doutor», «V. Exa.= Vossa Excelência» (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2009).

A abreviação das palavras é tratada pelos gramáticos Cunha e Cintra como fruto do «ritmo acelerado da vida intensa dos nossos dias [que nos] obriga, necessariamente, a uma elocução mais rápida [resultando] na redução de palavras até limites que não prejudiquem a compreensão» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Sá da Costa, 1997, p. 116), de que são exemplo «auto (por automóvel), foto (por fotografia), moto (por motocicleta), pneu (por pneumático), quilo (por quilograma), etc.» (idem).

O termo em questão, segundo a professora e escritora Eunice Marta, (licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre (Mestrado Interdisciplinar em Estudos Portugueses) pela Universidade Aberta. Professora de Português e de Francês. Coautora do Programa de Literaturas de Língua Portuguesa, para o 12.º ano de escolaridade em Portugal), “parece tratar-se de um caso de amálgama — «processo irregular de formação de palavras que consiste na criação de uma palavra a partir da junção de partes de duas ou mais palavras» (Dicionário Terminológico) —,  uma vez que tais formas resultam da junção de duas palavras — senhor e doutor —, mais propriamente da simplificação das duas palavras no discurso oral informal — senhor = “sô” + doutor = “tor”. De qualquer modo, essa reprodução oral não tem nenhuma representação gráfica que esteja legitimada pelos vocabulários ortográficos (dos mais antigos aos mais recentes) ou pelos dicionários da língua portuguesa.”

Resumindo, o correto será utilizar as formas de abreviatura encontrada no Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa, da Porto Editora, 2009: «Prof. = professor», assim como «Prof.ª = professora». Sendo assim, aqui em casa ensinaremos nossas filhas o uso correto da língua, mesmo que a sociedade continue a insistir em assassinar aos poucos a nossa belíssima língua portuguesa.


Autor:  Luis Alexandre Ribeiro Branco




Tambem publicado em:

Verdade na Prática 

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Cascais - Lisboa - Portugal

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Geraldo Brandão

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