Foto: Miguel Ângelo |
O Programa Casa Verde e Amarela, por exemplo, projeto de financiamento habitacional que remodelou o Minha Casa, Minha Vida, foi instituído com expectativa de beneficiar 1,6 milhão de famílias até 2024, com juros a valores em torno de 4,5% ao ano. Mas o desabastecimento de materiais pode prejudicar os empreendimentos dos imóveis ligados ao programa.
José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), foi enfático em uma reunião on-line com representantes do setor. “A Casa Verde Amarela pode parar? Claro que sim, essa é a grande preocupação. Estamos procurando agir, mas às vezes nos dá uma aflição muito grande, porque esse nosso agir não é suficiente para reverter tudo isso”.
Os Indicadores Imobiliários Nacionais divulgados pela CBIC do quarto trimestre de 2020 mostram aumento dos preços do material de construção e risco de desabastecimento, algo que permanece em 2021, afetando principalmente a faixa populacional com renda mensal de R$ 2.500 a R$ 4.500, que representa menor margem de lucro para as empresas contratadas.
Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) apresentados na reunião por José Carlos Martins apontam que os preços do material de construção subiram 19,60% no ano passado, com alguns insumos registrando aumentos acima de 50%. Os valores são avaliados como as maiores altas registradas no Brasil após o Plano Real.
Motivos e impactos
Dionyzio Klavdianos, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), explica o que levou a isso. “O aumento inesperado e elevado do preço dos materiais da construção civil, como também o desabastecimento e dificuldade de estoque de vários insumos, foi um efeito inesperado causado pelo rápido crescimento que o setor da construção teve durante o período da pandemia. Esse aumento persiste até hoje.”
O especialista lembra que esse cenário causa paralisações de obras, como aquelas do Programa Casa Verde, que têm margem de lucro pequena, e ainda afeta licitações públicas, que podem enfrentar o problema de falta de participantes.
“Em 2021, materiais importantes tiveram aumento e as construtoras continuam sofrendo. Se isso permanecer, terá efeito nocivo para todo setor. E é uma pena, porque a construção civil vem garantindo a recuperação de parte da economia, oferecendo emprego notadamente para aqueles trabalhadores advindos das classes menos favorecidas”, pontua.
José Carlos Martins disse que a CBIC vai continuar debatendo o tema com representantes políticos. “Nós vamos levar ao governo propostas para melhorar o comércio internacional de materiais de construção. Nesses itens mais pesados, trabalhar contra barreira técnica e imposto de importação. Estaremos levando essa solicitação ao governo com toda base que nós temos de informação.”
No orçamento familiar
Além dos setores governamentais de infraestrutura, quem também observa esses efeitos na prática são os cidadãos que estão construindo. Gabriela Tavares, moradora de Sobradinho I, no Distrito Federal, começou as obras de reforma da casa em abril de 2020 e encontrou barreiras desde aquele período.
“Logo no início da nossa reforma tivemos problemas com materiais de construção, não achamos mais tijolos, porque não estava tendo material para fabricação. Logo depois, a gente se viu novamente nessa questão de demora para entrega, porque as fábricas estavam demorando a produzir e entregar determinados materiais, como a cerâmica”, exemplifica.
Thainara Oliveira, moradora do Riacho Fundo I, também no DF, precisou pausar a construção da casa. “Tivemos que paralisar a obra por não ter condições de seguir, devido à pandemia. Agora, retomando, nos deparamos com alta de materiais como ferro, tijolo, que impedem a gente de voltar. Não conseguimos executar como imaginamos nem temos previsão de quando a obra será concluída”, lamenta.
Um levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção entre 12 a 18 de fevereiro deste ano, com participação de 26 unidades da federação, mostrou que o aço é o principal material em falta nas regiões. O produto ainda registrou aumento de preço acima de 10% para 72,7% dos entrevistados, e alta de até 10% para 25,4%.
Reportagem: Alan Rios
Fonte: Brasil 61