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Leitura e reflexão: Apenas um supositório.

Foto: Verdade na Prática


Apenas um supositório 


Ao longo da minha caminhada profissional tive a oportunidade de trabalhar numa grande empresa que, não sendo do ramo petroquímico, possuía uma unidade implantada no Polo Petroquímico de Camaçari, Bahia. A companhia tinha uma grande área ao ar livre, destinada ao armazenamento de matéria-prima. Nela se distribuíam grandes pirâmides de carvão vegetal e muitas pilhas de toros de madeira especificada, tudo de alto valor econômico.

Um problema surgiu. É que a partir de certa altura os controlos da empresa passaram a indicar um sumiço de parte deste material estocado na área de armazenamento, sem a contrapartida da receita financeira. Por outras palavras, estava a haver perda patrimonial.

Avisado acerca do produto desviado, o chefe da Divisão, o mais graduado na hierarquia da Unidade, foi à minha sala para conversarmos sobre a questão. Convocamos a essa reunião o chefe da Área de Estocagem, um rapaz de conduta irrepreensível, que, curiosamente, também era portador de um diploma de professor, provavelmente primário, suponho.

O sério rapaz ouviu a nossa exposição. Na altura, recebeu a incumbência de investigar as causas do problema, devendo retornar à nossa sala, no prazo de oito dias, para apresentar-nos as suas propostas de resolução.

Decorrido o tempo estipulado, o aludido chefe da Área de Estocagem procurou-nos para relatar o que conseguira apurar. Disse-nos que apesar de ter refinado a vigilância e de ter apertado os controlos, não nos podia oferecer um relatório conclusivo quanto às causas do desaparecimento do material. Enfim, com ar de verdadeira frustração e desalento, ele nos disse achar que os ladrões deveriam agir às escondidas durante a madrugada, ocasião em que passariam o produto por sobre a cerca, de um lado para o outro, com a conivência de eficazes comparsas. Cautelosamente, porém, alertou-nos de que tudo isto eram meras hipóteses com fundamento incerto. E rematou:

– Na verdade, concretamente não pude constatar nada. Tudo isto é apenas um supositório.

Confundiu-se. Ele quis dizer suposição. Por isso, depois que o jovem professor se retirou da nossa sala, nós nos rimos muito. De novo a sós com o meu chefe [e amigo], fi-lo lembrar-se de que, já que aparecera esse providencial supositório, no rigor da ordem hierárquica descendente, o tal deveria destinar-se ao maioral, ao capitão-mor. Ele, porém, num rasgo de suspeita benevolência, acentuou não ter o mais pequeno interesse pelo repentino e desnecessário medicamento, muito menos na forma farmacêutica sugerida.

Pois sim, se o chefão não o tinha, eu é que o teria? Estava e ainda tô fora.
Supositório? Não! Vade retro…


Autor: Magno Reis Andrade




Tambem publicado em:

Verdade na Prática 

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Cascais - Lisboa - Portugal

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Geraldo Brandão

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