Peixe-boi-da-amazônia reabilitado pelo Instituto Mamirauá é devolvido ao ambiente natural

por Fábio Paschoal - National Geographic Brasil



Quando chegou ao Centrinho, Cassi, um peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis), tinha 45 quilos e media 1,25 metros de comprimento. A espécie é considerada vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês) – Foto: Amanda Lelis

Cassi, um peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis) que há dois anos estava sob os cuidados d0 Centro de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico de Base Comunitária (conhecido como Centrinho), do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, foi devolvido a natureza na última semana. O evento aconteceu em um lago na Reserva Amanã, município de Maraã, Amazonas.

Cassi foi resgatada por moradores locais que fizeram contato com o Instituto. De acordo com os relatos dos moradores, ela foi capturada acidentalmente em uma rede de pesca. Chegou ao Centrinho com aproximadamente oito meses, 45 quilos e 1,25 metros de comprimento. Quando foi liberada, estava com 128 quilos e 1,86 metros – medidas que, segundo o Instituto Mamirauá, indicam um bom desenvolvimento do filhote durante a reabilitação.


Veterinários, biólogos, educadores ambientais e técnicos, além dos moradores da região, contribuíram e participaram da reabilitação de Cassi – Foto: Amanda Lelis

“Todos os animais que soltamos passaram pelo processo de reabilitação e foram considerados aptos a serem soltos – e preparados para a vida em ambiente natural – baseado em tamanho, peso, comportamento e exames de saúde,” explica Miriam Marmontel, pesquisadora do Instituto Mamirauá.

Segundo Marmontel, a área para a soltura foi escolhida porque possui características favoráveis para a readaptação de peixes-boi ao ambiente natural.  “O lago apresenta grande quantidade de alimento disponível, muitas ressacas e recantos para o animal se esconder, e também a presença de outros peixes-boi. É um lago protegido, de preservação, e a soltura teve a concordância da comunidade.”


Cassi estava sob os cuidados da equipe do Instituto Mamirauá desde 2014. Após dois anos foi considerada apta para a soltura – Foto: Amanda Lelis


No dia em que foi solta, Cassi estava com 128 quilos e media 1,86 metro, indicativos do bom desenvolvimento do filhote durante a reabilitação – Foto: Amanda Lelis

Um cinto equipado com transmissor de sinais de rádio foi adaptado na cauda do animal e a equipe do Instituto acompanha o deslocamento de Cassi na região para saber quais os movimentos do peixe-boi de acordo com a variação do nível da água. “Cassi agora precisará se readaptar ao ambiente natural, explorar seu ambiente muito mais expandido, encontrar locais de abrigo e de alimentação. O monitoramento nos permite acompanhar remotamente estes deslocamentos e comportamentos, e avaliar sua readaptação”, disse Marmontel.

A pesquisadora e sua equipe querem saber se o animal aprenderá a fazer a rota migratória que o levaria de volta a seu local de origem, se permanecerá no lago da soltura ou se buscará outro local para se estabilizar. “Cada animal é diferente, faz suas próprias escolhas. Algumas podem ser equivocadas e nesse caso teríamos que intervir”, completou a pesquisadora.

Um cinto equipado com transmissor de sinais de rádio foi adaptado na cauda de Cassi para que a equipe do Instituto Mamirauá possa  acompanhaer seu deslocamento - Foto: Amanda Lelis
Um cinto equipado com transmissor de sinais de rádio foi adaptado na cauda de Cassi para que a equipe do Instituto Mamirauá possa acompanhar seu deslocamento – Foto: Amanda Lelis
Histórico

A reabilitação de Cassi foi o quarto evento de soltura de peixes-boi amazônicos realizado pelo Instituto Mamirauá. A última vez que isso aconteceu foi em 2015, quando seis indivíduos foram devolvidos à natureza. Os animais também receberam cintos com radiotransmissores e continua sendo monitorados. “O Piti foi o grande caso de sucesso. Foi o primeiro animal a deixar o lago de pré-soltura depois que a água começou a subir e, com a subida da água, ele fez a rota migratória como um animal nativo, o que nos sugere que tenha sido acompanhado por outro animal. Além do Piti, um macho e duas fêmeas permanecem sendo monitorados nas imediações do lago Amanã”, comenta Marmontel

Com a soltura da Cassi, um animal ainda permanece em reabilitação no Centrinho, um criatório conservacionista autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) que recebe peixes-boi órfãos que se perderam das mães por alguma razão (algumas vezes por episódios de caça).  A ação conta com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para o pagamento de bolsas.