Cirurgia para corrigir orelha de abano não é só estética, diz médico

Flavia Villela – Repórter da Agência Brasil Edição: Aécio Amado

A maioria das pessoas que fazem cirurgias de correção de orelha de abano busca fugir do bullying, segundo o cirurgião plástico Marcelo Assis, especialista no assunto. Ele é coordenador nacional do Projeto Orelhinha, organização da sociedade civil de interesse público que há cinco anos faz mutirão de cirurgias pelo país para todas as classes sociais. Hoje (19) cerca de 300 pessoas participaram de um mutirão de consultas para triagem de pacientes no Rio de Janeiro.

“Crianças e adultos sofrem muito com o problema por causa de apelidos, humilhações na escola ou no trabalho, e isso acaba gerando uma dificuldade na vida da pessoa. Então existe uma demanda muito grande na sociedade por esse tipo de cirurgia”, disse o médico.

Assis lamentou que tais operações sejam consideradas estéticas, não sendo cobertas por pelos planos e raramente oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O valor da cirurgia pode chegar a R$ 8 mil. “Para nós, é uma cirurgia social, pois o impacto que gera no pós-operatório é muito grande”, destacou. Por isso, existe o Projeto Orelhinha, disse o especialista. Segundo ele, mais de 10 mil pessoas já foram operadas nos mutirões.

Chamada de otoplastia, a cirurgia é oferecida para pessoas a partir de 7 anos de idade. O projeto viabiliza subsídio de 70% do custo do tratamento. Os 30% restantes, cerca de R$ 1.800, são custeados pelo próprio paciente para pagar o material cirúrgico, os medicamentos e a ajuda de custo dos profissionais envolvidos, além das despesas hospitalares, operacionais e administrativas. Há também cirurgias com 100% de gratuidade para crianças entre 7 anos e 14 anos de famílias pobres.

Assis ressaltou que a orelha de abano não é uma deformidade, apenas uma característica hereditária – cerca de 3% da população têm esse excesso de cartilagem na orelha. “Outras causas [da orelha de abano] são a posição uterina, quando o neném fica com a orelha dobradinha no útero e acaba nascendo com uma orelhinha aberta e outra fechada”, explicou.

O publicitário João Roberto Souza operou as orelhas de abano aos 12 anos. Na escola, tinha apelidos de Dumbo e coelho da páscoa. “Morria de vergonha, chorava escondido. Depois da cirurgia, isso acabou. É uma pena precisar operar por ser diferente do padrão, mas foi o único jeito”, lamentou.

A cirurgia de otoplastia é feita com anestesia local e dura cerca de 40 minutos. O paciente recebe alta médica algumas horas após o procedimento. O pós-operatório consiste no uso de uma faixa de atadura durante quatro dias. Cinco dias após a cirurgia, o paciente já pode retomar as atividades normais e usa faixa tipo bailarina apenas para dormir durante mais 25 dias. Ele não pode praticar esportes com bola ou lutas e se expor ao sol e mergulhar em piscina ou no mar por um mês.

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