Alerj quer evitar operações policiais nos horários de entrada e saída de escolas

Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil Edição: Maria Claudia

Uma reunião entre autoridades policiais, diretores de creches e de escolas da Rocinha, na zona sul da cidade, será feita em julho para debater a realização de operações policiais na favela e tentar evitar que elas ocorram nos mesmos horários de entrada e saída de crianças nas escolas. A ideia é da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que pretende convidar ainda produtores socioculturais e movimentos sociais.

A coincidência de operações policiais e os horários das crianças foi um dos problemas relatados ao deputado Marcelo Freixo (PSOL) pela família do jovem Wesley Barbosa, de 13 anos, atingido por uma bala perdida de raspão, na última quarta-feira (17), em casa. Presidente da comissão, o deputado recebeu a mãe do menino, Claudionora Barbosa da Silva, preocupada com a situação.

“As operações são sempre nos mesmos horários. Ou 6h da manhã, quando está todo mundo indo para a escola, para o trabalho, meio-dia ou 4h, quando estão saindo”, destacou. Para Claudionora, os serviços de inteligência deveriam propor horários que reduzissem o risco de colocar os mais vulneráveis em eventual linha de tiro. “Eles [os policiais] entram [na favela], tem o confronto, e quem paga [com risco de morte] somos nós, os moradores”, afirmou.

O filho de Claudionora, Wesley, estava na janela, de manhã, quando foi atingido. O projétil, que passou de raspão no olho dele, poderia ter atingido a própria mulher, se não tivesse sido desviado.

Durante o encontro com o deputado, a professora Adriana Pirozzi, uma das líderes comunitárias da Rocinha, confirmou que a coincidência entre as operações e a saída das crianças é frequente. “Uma vez, eu reclamei com um policial, e ele me mandou fazer um abaixo-assinado, e apresentar ao comandante da polícia. Disse que cumpria ordens, e não ia suspender a ação”, revelou.

Adriana também reclamou da falta de integração entre as polícias e contou que a delegacia da área não sabia da ação que o Comando de Operações Especiais realizava no dia em que Wesley foi atingido. “Ou seja, nem eles mesmos sabem o que estão fazendo”, disse a professora.

O deputado Marcelo Freixo disse que procurou o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) para compreender o contexto da operação e confirmou que os policias da área também não foram informados da operação do Comando de Operações Especiais, o que considerou preocupante. “Quando o delegado 11ª Delegacia não tem conhecimento da operação, ou seja, não tinha mandado [de busca, apreensão ou prisão], percebe-se que não era uma operação cuidadosa.” Segundo o parlamentar, é preciso rever procedimentos. “Não importa de onde veio o tiro, mas o fato de termos uma criança ferida, que poderia ter sido mais morta em casa.”

Em nota, a Polícia Militar confirmou que a operação na Rocinha começou cedo, às 5h, mas sem dar explicações sobre a coincidência com o horário das escolas e e das pessoas saem para trabalhar na comunidade. Sobre a falta de integração, o texto diz que a “comunicação [com outros órgãos policiais] trata-se de uma ação estratégica a Polícia Militar”.

A comissão da Alerj vai encaminhar Wesley para atendimento psicológico, por meio do governo do estado, e solicitar pagamento de aluguel social para que a família mude de casa. Segundo os pais do jovem, que levou 34 pontos no rosto, ele está traumatizado.

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