Leitura e reflexão: O problema da felicidade.


Foto: Verdade na Prática 

 O problema da felicidade


O tema da felicidade é e sempre foi motivo de inquietação e incessante busca por respostas satisfatórias entre filósofos. Entre eles podemos citar entre os mais antigos Epicuro e entre os mais recentes Bertrand Russell. 

Mesmo sendo dificilmente encontrada, a felicidade é oferecida de forma fácil em todos os lados, na indústria, na religião e nas relações sociais. A mídia é a mãe desta proposta de uma felicidade fácil e a cobiça o pai. As propostas passam por objetos, bens de alto valor aquisitivo, sexo, drogas e até a religião.

Meu tempo e espaço não me permite tratar de todas estas áreas, por isto, como teólogo, escolhi a apresentar a perspectiva cristã da felicidade como tema da nossa breve reflexão.

A felicidade no cristianismo é considerado um marco fundamental da salvação. Pressupõe-se que todo aquele que é cristão é feliz. Numa metáfora para nos ajudarmos em nosso pensamento, desejo explicar de forma simples como podemos entender a diferença entre a felicidade e a alegria. A alegria é um contentamento esporádico na vida, enquanto que a felicidade é o estado em que se vive. Se comparássemos a alegria e a felicidade com uma árvore, diríamos que a felicidade é a árvore e a alegria os frutos da árvore. Os frutos dependem das estações do ano, dependem de uma boa terra e de um bom jardineiro para surgir no momento certo, já a árvore está existe o ano inteiro.

Semelhantemente, a alegria pode estar a espera da estação certa para aparecer, mas a felicidade segue todo o ano, e em todas as estações. A ausência desta felicidade é vista pela maioria como o fim da vida. Nietzsche escreveu que: “A ideia do suicídio é um potente meio de conforto: com ela superamos muitas noites más.”[1] Portanto, não é de se admirar que aquele que se vê infeliz, veja o final da vida, muitas vezes pelo suicídio, como algo razoável. E Nietzsche disse ainda: “O suicídio é admitir a morte no tempo certo.”[2]

O teólogo espanhol José Maria Arnaiz escreveu algumas observações sobre a felicidade[3]:

É importante evitar o risco de confundir o bem-estar material com a felicidade; isso seria como confundir a fantasia com a realidade, os meios com os fins, a embalagem com o conteúdo, o prazer com a alegria, a aparência com a existência.

Todas as pessoas que foram à Jesus com um desejo genuíno de encontrarem a felicidade e se deixaram conduzir pelos padrões de Deus foram satisfeitas nas suas buscas. No entanto a Bíblia nos fala de um jovem, que rico, que pensava que sua felicidade estava condicionada às suas posses. Quando Jesus lhe mostra que o mais importante é dar do que receber (At 20:35), ele fica desapontado e o Evangelista Marcos registrou: “Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades” (Mc 10:22).

Semelhante, muitos estão a viver infelizes pois sua felicidade esta condicionada ao bem-estar material.

José Maria Arnaiz continua:

A felicidade é o bom depósito que deixam nossos anos, é o que nos devolve a vida como reação a tudo o que vivemos e demos de liberdade, de verdade, de justiça e amor; há vidas que deixam um sabor de insatisfação, de infelicidade e de tarefa não cumprida… Isso ocorre quando nelas há algo que não funcionou.

O viver irresponsável, seja em que área for, nos trará resultados negativos. O texto Sagrado fala de algo chamado pelos teólogos de “A lei da semeadura”, pois diz: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7). Se você só semeou tolices, arrogância, rejeição, inimizades, imoralidades, e coisas semelhantes a esta, o que espera colher? Mas, ainda há tempo para mudar as sementes, e semear as coisas certas, para colher coisas boas.

José Maria Arnaiz diz ainda:

A felicidade não se apresenta como uma diversão continua… nem sequer como um estar contentes e alegres todo o dia, nem mesmo como um sonho colorido do futuro… Esta claro que (a felicidade) não se trata de pedir uma carga leve para andar pelo mundo, e sim, bons ombros para carregá-la com facilidade. A felicidade está em algo mais profundo. Algo que subsiste sob os sofrimentos e alegrias de cada dia, do ter ou não ter, do mandar ou não mandar, da saúde ou da doença… Tem relação com o saber que estamos onde queremos estar e queremos estar onde temos de estar.

Sempre ouvimos a seguinte frase: “Ah, se o você soubesse da minha vida!” Com esta frase parece que temos todas as razões do mundo para sermos infelizes. O escritor português Miguel Esteves Cardoso escreveu que: “Em Portugal dizer «Eu sou feliz» é como dizer «Eu sou rico»… é como confessar uma anormalidade”.[4] Isto nos mostra que há aqueles que tem tornado a infelicidade uma cultura. Cardoso diz ainda que: “Em Portugal, o que convém é andar mais ou menos”.

Se esperamos um viver feliz, o cristianismo, nos convida fazer alterações na nossa maneira de ver a felicidade. Na cultura bíblica da felicidade, Deus é a sua essência, ele é a sua razão, ele é o seu motivo e sua causa. A Bíblia nos diz que: “…Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1:27).

Isaías 53:5 diz: “…o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. A palavra paz usada neste texto é “shalom”, cujo significado é muito além de simplesmente paz, mas compreende todos os aspectos necessários para uma vida feliz. Shalom também não significa a ausência da guerra, mas sim, a presença do Príncipe da Paz (Is 9:6).

Em Efésios 2:14 diz: “Porque ele é a nossa paz…” – Ele quem? Jesus, ele é o “shalom”. Terminaremos com uma citação de John Piper: “Na conversão encontramos o tesouro oculto do reino de Deus. Arriscamos tudo nele. E, ano após ano, nas lutas da vida, comprovamos repetidamente o valor do tesouro e descobrimos novas profundidades de riquezas que não conhecíamos. Assim a alegria da fé cresce. Quando Cristo nos chama para um novo ato de obediência que nos custe algum prazer temporal, lembramo-nos do valor insuperável que é segui-lo e, pela fé no seu valor insuperável que é segui-lo e, pela fé no seu valor provado, esquecemos o prazer mundano. Qual é o resultado? Mais alegria! Mais fé! Mais profunda que antes. E assim avançamos de alegria em alegria, de fé em fé.”

[1]Friedrich Nietzsche; Nietzsche’s Werke: Jenseits von Gut und Böse; Zur Genealogie der Moral – página 107, Friedrich Wilhelm Nietzsche, Ernst Holzer, Otto Crusius – C. G. Naumann, 1899.
[2]Nietzsche’s Werke: Der Fall Wagner. Götzen Dämmerung. Nietzsche contra Wagner. Umwerthung alle Werthe. Dichtungen – página 144, Friedrich Wilhelm Nietzsche – C.G. Naumann, 1906.
[3] Revista Beneditina – Número 28, Mosteiro da Santa Cruz, MG, Brasil, pág. 16, 17 e 18.
[4] Os Meus Problemas – Assírio & Alvim, 2001, Miguel Esteves Cardoso, Lisboa, Portugal, pág. 123.
[5] Teologia da Alegria – Shedd Publicações, 2003, John Piper, São Paulo, Brasil.

Autor: Luis Alexandre Ribeiro Branco




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Geraldo Brandão

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