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Leitura e reflexão: O amanhã.

Foto: Verdade na Prática 


 O amanhã


Dizem que os pontos negros nos poros da pele são células mortas,
Bem como a poeira que insiste em surgir sobre os móveis quando a casa está fechada. 


Por mais que eu atrase o relógio,
O tempo insiste em ir adiante.
Há aqueles que sentem a necessidade de mentir a idade,
Minha tia nunca saiu dos trinta e oito anos.
Viver é andar para frente,
Lá atrás fica somente a saudade.
A saudade é o portal de um paraíso trancado,
Guardado por um querubim com espada nas mãos.
Quero que chegue logo semana que vem,
Tenho tantas coisas a minha espera!
Mas semana que vem será uma semana a menos na minha existência,
Será um tempo no pretérito de onde me sorrirá a saudade.
Sinto o meu presente a escorrer pelas minhas mãos como areia fina.
É inútil tentar reter o que se esvai lentamente.
Gosto de olhar as dunas que se formam à beira da estrada no Guincho,
São como todo o tempo esvaído do mundo.
Vou dormir,
Amanhã é outro dia e por mais que eu insista nesta luta contra o sono tentando preservar o tempo,
O ontem já passou.
Logo nascerá o sol de um novo dia,
Sem piedade de células,
Sem preocupação com pontos negros e poeira.
Por onde passar deixará um rasto de saudade,
Uma distância à mais entre tudo o que amei.
Uma distância à menos entre tudo aquilo que ainda não sei.
Que venha o amanhã,
Enfrentá-lo-ei como quem já descobriu a eternidade.


Autor: Luis Alexandre Ribeiro Branco




Tambem publicado em:

Verdade na Prática 

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Cascais - Lisboa - Portugal

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Geraldo Brandão

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