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Leitura e reflexão: A origem da saudade.

Foto: Verdade na Prática

A origem da saudade


O movimento saudosista teve seu início em 1910,

através da fundação da revista A Águia, que circulou em Portugal até 1932. Teixeira Pascoaes envolveu-se com a revista em 1912, com uma grande influência sobre o movimento.

Segundo alguns tentam explicar, a palavra saudade é uma palavra sem equivalente noutras línguas, e, por isso, é um “sentimento-ideia”, “emoção reflectida”, e ainda, “a promessa de uma nova civilização lusitana” – em suma, uma religião, uma filosofia, uma política tipicamente portuguesa.

A obra de Teixeira Pascoaes, “Regresso ao Paraíso”, trata-se de uma belíssima tragédia, ao estilo de Dante, sobre a saudade. O livro inicia-se com a descrição do Inferno, onde “Satã consome o fogo dos seus dias cuidando, com amor, do martírio das almas” que ali lhe chegam. Da fronte do Diabo sobressai o símbolo do seu Império, a serpente que seduziu Eva ao enroscar-se na árvore do Paraíso, transformando-a, e a Adão, nos dirigentes das nocturnas legiões de Satã.

Quando Satã, ouvindo a serpente que prevê o fim da humanidade, envia Adão e Eva para o mundo “à frente dos demónios aguerridos”, não esperava que, através das recordações do Paraíso, estes revivessem o amor original, sentindo piedade dos seus filhos. Trava-se, assim, uma batalha entre Anjos e Demónios em que, se Adão vencer o demónio que nele se entranhou, poderá regressar ao Paraíso. O homem vive, em Regresso ao Paraíso, uma tragédia onde os personagens principais são Deus e Satã.

Como bem escreveu Teixeira Pascoaes em sua obra “A Saudade e o Saudosismo”:

Sem Poesia não há Humanidade. É ela a mais profunda e a mais etérea manifestação da nossa alma. A intuição poética ou orfaica antecede, como fonte original, o conhecimento euclidiano ou científico. E nos dá o sentido mais perfeito e harmónico da vida. Aperfeiçoando o ser humano, afasta-o do antropóide e aproxima-o dos antropos. Que a mocidade actual, obcecada pela bola e pelo cinema, reduzida quase a uma fotografia peculiar e uma espécie de máquina de fazer pontapés, despreza o seu aperfeiçoamento moral; e, com o seu fato de macaco, prefere regressar à Selva a regressar ao Paraíso. E assim, igualando-se aos bichos, mente ao seu destino, que é ser o coração e a consciência do Universo: o sagrado coração e o santo espírito. Eis o destino do homem, desde que se tornou consciente. E tornou-se consciente, porque tal acontecimento estava contido nas possibilidades da Natureza. Sim, a nossa consciência é a própria Natureza numa autocontemplação maravilhosa. Ou é o próprio Criador numa visão da sua obra, através do homem. E, vendo-a, desejou corrigi-la, transfigurando-se em Redentor.

O sonho inconsciente do regresso ao paraíso seria na verdade a fonte de toda saudade da humanidade. A saudade das coisas, lugares e pessoas trata-se de uma saudade mais profunda, subjetiva e inconsciente daquilo que a humanidade perdeu: o paraíso. E apenas em seu retorno para Deus através de si mesmo transfigurado em Redentor é que a saudade poderá ser definitivamente satisfeita. Obviamente não nesta esfera, mas no regresso ao paraíso.

Autor: Luis Alexandre Ribeiro Branco



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Verdade na Prática 

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Cascais - Lisboa - Portugal

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Geraldo Brandão

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