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Há exatos 100 anos, numa segunda-feira feira do dia 14 de novembro de 1921, falecia a Princesa D. Isabel. No dia 15 fariam 32 anos de uma de suas maiores tristezas: o exílio. Em 1920 a lei que proibia a família de colocar os pés no Brasil foi revogada, mas ela já estava muito doente para vir… Com certeza não resistiria ao desgaste físico e emocional da viagem e chegada.
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Para conter o calor que beira aos 50°C, os Emirados Árabes Unidos apelaram à tecnologia para fazer chover. Conseguiram, nesta semana, graças ao lançamento de drones que geram atividade elétrica nas nuvens a ponto de fazê-las desaguarem em chuvas torrenciais. A ideia é de que os choques elétricos nas gotículas de água das nuvens façam com que elas fiquem mais propensas a precipitar.
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Uma estátua da Medusa segurando a cabeça decepada de Perseus foi instalada em Manhattan, em frente ao Tribunal Criminal do Condado de NY, o local de casos de abuso de alto perfil.
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JONATHAN - O ANIMAL TERRESTRE MAIS VELHO DO MUNDO
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Em 1974, Marina Abramovic fez uma performance em que ela dizia para visitantes que não se moveria durante seis horas, não importa o que fizessem com ela.
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Uma das mais famosas personagens das lendas do folclore brasileiro, a Caipora é representada na forma de uma jovem índia de cabelos avermelhados, com orelhas pontudas e dentes esverdeados. É considerada uma das principais protetoras dos animais e da floresta, como um todo.
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Hades é o deus grego do submundo, do reino dos mortos, e na mitologia romana, ele é chamado de Plutão.
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Pindorama era o nome dado ao Brasil pelos indígenas antes da chegada européia, habitantes que somavam de 6 a 8 milhões falantes de cerca de 1300 línguas diferentes.
Hoje, os indígenas no Brasil são 800 mil habitantes distribuídos em 230 povos, falantes de 200 línguas. Isso representa uma queda de 98% da população desde 1500, compondo 0.47% da população nacional.
Como o interior brasileiro só foi explorado parcialmente por europeus a partir do século 17, as fontes sobre os diferentes povos na costa são mais numerosos e específicos do que no interior brasileiro, que geralmente são possíveis generalizações de grupos do mesmo tronco-linguístico. No mapa, na costa, boa parte dos grupos indígenas são de origem tupi.
Mesmo com a desbravada do território nos séculos seguintes, pouco esforço foi feito para registrar as culturas e povos existentes nas regiões.
Logo após a chegada europeia os indígenas pereceram rapidamente devido a conflitos armados, trabalho escravo ou disseminação de doenças como varíola. No Rio de Janeiro, após os tupinambás resistirem a tentativas de escravidão e aliarem-se aos franceses em uma tentativa fracassada de expulsar os portugueses, viram-se obrigados a imigrarem para o interior do estado.
No norte, sul e oeste brasileiro alguns viveram comunitariamente com jesuítas espanhóis e portugueses nas Missões. Apenas em 1755 através do decreto de Marquês de Pombal, primeiro-ministro de Portugal, a escravidão indígena seria proibida nas colônias portuguesas.
A partir do século 19, com uma grande miscigenação entre tupis e europeus, surgem culturas como o caboclo e o caipira, romantizando figura indígena na cultura brasileira, seja na literatura como no livro "Iracema" ou na música como na ópera "Guarani".
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O TOPLESS
Mulher fazendo topless, Riviera Francesa, 1974.
Nos anos 1960, o topless se tornou uma símbolo das feministas francesas. “Se os homens não precisam usar a parte de cima, por que nós precisamos?”, clamavam elas. A quebra de barreiras se tornou moda, e foi nessa época que fotos de Brigitte Bardot na Cote d´Azur circularam o mundo.
O frisson apenas aumentou quando a prática foi denunciada pelo Vaticano e condenada pela igreja espanhola. Quando a França recusou um movimento conservador nos anos 1970 e decidiu não banir o topless das praias, usar o monoquíni (biquíni de uma peça só) se tornou um símbolo do orgulho francês.
Mas um dos ícones das praias da França está se tornando cada vez mais raro: o topless feminino. Apenas 2% das mulheres francesas com menos de 35 anos querem tirar a parte de cima do biquíni em público.
CAUSAS
Os tempos mudam, assim como as roupas de banho. Alguns associam a falta de adesão ao topless a uma simples mudança no estilo de moda no país, com a tendência recente de usar maiôs completos ou biquínis que acentuam a parte de baixo do corpo.
Mas sociólogos afirmam que o topless deveria ser levado mais a sério, e alguns dizem que as mulheres francesas esqueceram as conquistas do feminismo. “As jovens de hoje são mais conformistas. Elas já conseguiram a liberdade, então se tornaram preguiçosas”, diz Jean-Claude Kauffman, autor do livro Sociologia dos Peitos Nus.
REDES SOCIAIS - PROBLEMAS
Por último, há que culpe as redes sociais pela impopularidade do topless. Algumas banhistas podem ser desencorajadas pelo aumento das câmeras de celular e o medo de que seu corpo acabe aparecendo nas redes sociais de estranhos.
Bibliografia
KAUFFMAN, Jean-Claude. Sociologia dos Peitos Nus.
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CABRA-MACHO COM BORDADO, SEDA E OURO
No território brasileiro nos anos 1920 e 1930, não havia uma pessoa com mais motivos para se esconder do que Virgulino Ferreira da Silva, aquele que você conhece como Lampião. Periódicos do Brasil inteiro — e até do exterior — narravam, de forma dramática, as façanhas e crueldades de Lampião e de seus homens, que tocavam o terror pelo sertão do Nordeste. Existia até premiação
para quem entregasse o fora-da-lei à polícia, vivo ou morto, de modo que o recomendável seria Lampião e seu bando aderirem a uma certa discrição, quase uma camuflagem — para que tentassem, afinal, passar desapercebidos.
Mas, definitivamente não era. Lampião tinha muitas preocupações, mas a discrição, indiscutivelmente, não era uma delas.
No ano de 1933, o grande escritor Graciliano Ramos deixou um registro incrível da passagem de Lampião pela cidade Palmeira dos índios, em Alagoas, onde fora prefeito de 1928 a 1930:
"Quando Lampião esteve no município de Palmeira dos Índios, [...] trazia mais de cem homens que não se escondiam na capoeira nem transitavam em veredas. Corriam pela estrada real, muito bem montados, espalhafatosos, pimpões, chapéus de couro enfeitados de argolas e moedas, cartucheiras enormes, alpercatas que eram uma complicação de correias, ilhós e fivelas, rifles em bandoleira, lixados, azeitados, alumiando"
Em outros termos, os cabras eram exibidos. Queriam mais era aparecer e, suas vestimentas eram uma maneira de ostentar os valores associados àquele fenômeno do banditismo rural: poder, relevância, invencibilidade e glória. Uma estética traduzida em cores vibrantes, brilhos e intrincadas padronagens geométricas.
Estilo, de fato, nada básico.
1- A PRESENÇA FEMININA
Foi somente no início dos anos 1930, quando as mulheres entraram no bando de Lampião, que as roupas e acessórios dos cangaceiros ganharam a aparência única que sobreviveria a mais de oito décadas. A primeira cangaceira a ingressar no grupo, Maria Bonita, não costurava tão bem quando Lampião, mas Dadá era uma mestre do ramo.
Dadá produzia as próprias bonecas de pano — quando foi raptada pelo futuro marido, tinha apenas 12 anos — e deu vida aos bornais, as bolsas de alças largas usadas pelos cangaceiros, aplicando sobre as peças bordados de formas geométricas e motivos florais multicoloridos.
As mulheres também disputavam entre si — incentivadas pelos homens — o posto de mais arrumada do grupo. Quanto mais luxo ostentassem, maior era o poder do cabra ao qual pertenciam (no bando de Lampião, os cangaceiros consideravam as mulheres suas propriedades).
Além do broche, Maria Bonita gostava de usar, no pescoço, sete correntes de ouro que haviam pertencido a Joana Vieira de Siqueira Torres, a baronesa da cidade alagoana de Água Branca, cujo casarão fora invadido por Lampião em 1922.
Ao passo que se destacavam nos acessórios, as mulheres não conseguiam inventar com as roupas. Tinham, basicamente, dois tipos de vestimenta. No dia a dia, adotavam o vestido de batalha, de mangas compridas e na altura do joelho, feito com pano resistente para suportar as incursões pela caatinga.
Apesar do calor, usavam meias grossas e perneiras de couro de bode — o objetivo era proteger a pele dos espinhos. Pelo mesmo motivo, também calçavam luvas; estas, sim, um pouco mais caprichadas — era comum que se dedicassem a bordá-las com motivos florais. Quando a ocasião propiciava algum sossego, como nas temporadas em fazendas de coronéis aliados dos cangaceiros, usavam vestidinhos de seda.
2- OS HOMENS
No caso dos homens, a quantidade de enfeites no chapéu (à semelhança de como se ornava sua mulher), era proporcional ao poder do cabra. Um dos mais bonitos de Lampião, feito de couro de veado, exibia cerca de 70 moedas de ouro, além de estrelas de oito pontas bordadas nas abas.
O guarda-roupa básico dos homens consistia de camisa de pano cáqui ou azul, com calças de cós alto e pernas curtas, para permitir o uso das perneiras de couro. Lampião preferia os botões de ouro. Em ocasiões especiais, escolhia camisas listradas.
O que dava aos cangaceiros a aparência de verdadeiros espantalhos eram as cartucheiras cruzadas no peito, os diversos bornais coloridos carregados de dinheiro e mantimentos e os enormes chapéus reluzentes. Seus corpos adquiriam a serventia de verdadeiros cabides ambulantes, onde penduravam tudo, de cobertores a fuzis, de modo a precisarem andar com os braços esticados afastados do corpo.
Produziam, por onde passavam, uma imagem de morte e vida; de medo e fascinação; violência e resistência unidas em uma mesma simbologia. Uma estética que sobreviveria à história.
Bibliografia
NEGREIROS, Adriana. Maria Bonita - Sexo, Mulheres e Violência no Cangaço.
Imagem - foto retificada e colorizada por Rubens Antonio sobre original de Benjamin Abrahão Botto.
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MARECHAL RONDON- UM BRASILEIRO GIGANTE
Cândido Mariano da Silva Rondon, nasceu em Mimoso, hoje Santo Antônio de Leverger, no Mato Grosso, no dia 5 de maio de 1865, era descendente da etnia dos bororo, por parte de mãe. Foi pioneiro nos campos da Etnologia, Antropologia e da Linguística.
Ele realizou expedições que o alçaram à condição de um dos maiores exploradores da história, acima de sir Richard Francis Burton, Ernest Shackleton e David Livingstone, tanto em número de expedições empreendidas, a extensão da exploração, o número de quilômetros viajados, o tempo da carreira militar (1890 a 1930). Em todos os sentidos ele vai muito além dos outros exploradores.
O presidente norte-americanoTheodore Roosevelt participou de uma expedição comandada por Rondon e ficou impressionado com seu vigor e resistência.
Rondon realizou a construção física de linhas telegráficas (com o objetivo de estender as comunicações entre o Rio de Janeiro e Cuiabá, passando por Uberaba e Goiás), de pontes e estradas, suas expedições acabaram fundando colônias. Ele descobriu e nomeou rios, montanhas, vales e lagos.
PACIFISTA
Recebeu duas indicações ao Prêmio Nobel, uma delas feita por Albert Einstein.
A única campanha convencional que ele comandou foi em 1924, contra a Coluna Prestes. Fora isso, suas missões foram de construção do país e de projeto nacional.
Em 1934, foi fundamental para dirimir o conflito entre o Peru e a Colômbia pela posse da região de Letícia.
ANTROPÓLOGO
Foi o primeiro a gravar cantos/músicas dos povos nativos com a colaboração do seu assistente Roquete Pinto. E o primeiro a filmar os ritos e o cotidiano desses povos.
ACADÊMICO
No âmbito acadêmico, forneceu a base de pesquisa de Lévi-Strauss na década de 1930, que visitou as mesmas aldeias que Rondon visitou 20 anos antes. Strauss deu continuidade na obra de Rondon, chegando às suas próprias conclusões. A Comissão Rondon, publicou mais de 100 artigos científicos sobre as suas descobertas, com assuntos que iam do clima aos costumes locais.
1- INDIGENISTA
Foi o idealizador do Parque Nacinal do Xingu e Criador e Diretor do Serviço de Proteção ao Índio (antecessor da Funai).
Tinha como lema: "Morrer se for preciso, matar nunca" e seguiu seu lema até as últimas consequências, ele foi flechado pelos nativos Nambiquara. Os soldados dele quiseram reagir, mas ele proibiu qualquer reação violenta. Em outras ocasiões, homens foram flechados e alguns morreram. No boletim da comissão, louvava o falecido por ter aderido até o fim a filosofia de não violência. Alguns militares questionaram muito. Mas ele foi fiel às palavras.
Rondon fez pesquisas sobre os povos nativos, estabeleceu contato pacífico, lutou para que os povos nativos possam ter posse da terra tradicionais. Ele dizia que os ameríndios "Tem o direito de escolher o grau de acercamento que quer ou não com a sociedade brasileira. É uma decisão soberana de cada povo."
Para Darcy Ribeiro, ele "O maior brasileiro de todos os tempos."
Bibliografia:
ROHTER, Larry. Rondon - uma biografia.
ALMEIDA, S.L. Augusto de Andrade. Expedição Científica Roosevelt - Rondon.
RIBEIRO, Darcy. Cândido Mariano da Silva Rondon.
Crédito das Imagens:
Brasiliana Fotografia - Acervo Arquivo Nacional.
Extra: Até 1917, a Comissão Rondon havia construído 2.270km de linhas telegráficas, instalado 28 estações que deram origem a outros povoados, havia realizado o levantamento geográfico de cinquenta mil km lineares de terras e de águas, determinado duzentas coordenadas geográficas e incluído 12 rios no mapa do Brasil e corrigido o curso de outros.
Extra II: Em 1956, em sua homenagem, o território de Guaporé passou a denominar-se Rondônia.
Extra III: Com autorização do Ministério da Guerra, acrescentou o sobrenome Rondon, em homenagem ao tio que lhe criou Manuel Rodrigues da Silva Rondon.
Extra IV: Pelas fronteiras do Brasil
“Nenhum córrego ou morro à tua vista escapa,
Nem salto ou corredeira, ou charco ou terrapleno.
E o Brasil que Rio Branco ampliou sobre o mapa,
Vais, milha a milha, demarcando no terreno.”
(Ode em louvor de Rondon, de Bastos Tigre)
Autora - Maria Elizabeth Brêa Monteiro.
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GÊNGIS KHAN — "SENHOR DO UNIVERSO" O MAIOR CONQUISTADOR DE TERRITÓRIOS DA HISTÓRIA
"Eu sou um castigo de Deus. E se você não cometeu grandes pecados, Deus não teria enviado um castigo como eu".
Nas planícies remotas e geladas da Mongólia, em plena Ásia Central, um menino pobre acabaria se transformando num dos maiores conquistadores de todos os tempos. Seu nome: Genghis Khan. Impiedoso, com fama de cruel e sanguinário, o guerreiro mongol conseguiu a proeza de derrotar o Império Chinês. Multiplicou seu território por 3 em menos de 20 anos, entre 1206 e 1225. Quando morreu, em 1227, seus domínios se estendiam do mar Cáspio ao oceano Pacífico.
Nasceu na década de 1160 à beira do Rio Onon, na Mongólia, foi chamado de Temujin. Filho de Yesugei Baghatur, chefe de uma das tribos nômades que viviam constantemente em confronto. O menino nasceu com um coágulo em uma das mãos, o que foi interpretado como um sinal divino de que ele seria um grande guerreiro. O pai de Temujin morreu envenenado por uma tribo rival quando o menino tinha 9 anos. Ele herdou a liderança de uma tribo pequena e vulnerável. Mesmo jovem, soube usar a estratégia e buscou se aliar a outros clãs. Foi assim que conheceu Borte, sua esposa.
RESGATOU A ESPOSA
Os merkits, antigos inimigos do pai de Temujin, invadiram e saquearam sua tribo, além de raptar Borte. O líder mongol convocou os aliados e armou a vingança. Massacrada, a tribo merkit sumiu do mapa, e Borte, enfim, foi resgatada. Temujin ganhou o respeito dos mongóis.
MODIFICOU AS TRADIÇÕES
Temujin abandonou tradições hierárquicas na distribuição de cargos. Passou a ser promovido quem ele julgava merecedor, independentemente das origens da pessoa. Ele começou também a disciplinar todo o povo: treinamentos como atirar com arco e flecha se tornaram obrigatórios desde a infância.
1- SENHOR DO UNIVERSO
Em 1204, o desrespeito à tradição levou Temujin a enfrentar no campo de batalha um amigo de infância, Jamuka. Temujin venceu com táticas psicológicas, como acender cinco archotes por soldado para fazer seu exército parecer maior. Derrotado, Jamuka, que também queria ser o grande líder mongol, foi executado. Com o caminho livre de concorrência, Temujin adotou o título Gêngis Khan, que significa “Senhor do Universo”.
Gêngis Khan logo tratou de fazer jus ao título e invadiu a China, o império mais poderoso da época. Conforme avançava rumo à capital, Zhongdu, deixava um rastro de chacinas e estupros. Trinta quilômetros de muralhas cercavam a cidade, mas ela não estava totalmente protegida. Os mongóis interceptaram a entrada de alimentos, matando milhares de fome. Depois, usaram civis como escudos humanos para se proteger das flechas chinesas. Quando finalmente invadiram, atearam fogo, pilharam e destruíram tudo e todos.
2- ESTRATÉGIA DE GUERRA
Um só lema: matar ou morrer – com preferência pela primeira, claro. Os mongóis eram cavaleiros ágeis, mas o que fazia diferença era o sangue nos olhos da tropa. Eram absolutamente determinados, jogavam sujo, escondiam punhais e machados por baixo de seus casacões e chapéus cônicos. A inteligência estratégica do chefe também surpreendia: ele dividia a turma em unidades de 10, 100, 1000 e 10 mil e mantinha membros treinados para fazer a comunicação entre as fileiras. Ele infiltrava espiões para nos locais que iria atacar para fazer o levantamento através de mapas e de quantas guarnições existiam no local.
E não parava por aí, entra aqui a parte da psicologia: os mongóis prezavam e dependiam de sua reputação de invencíveis e implacáveis. A cada cidade que desejavam incorporar, eles davam a opção da rendição, que era muito menos perigosa a eles próprios. Isso dependia de as notícias correrem para que, se um local conquistado pensasse em se revoltar, tivesse certeza de que eles voltariam para se vingar fulminantemente.
3- A TÁTICA
A outra parte era a tática: as armaduras pesadas dos cavaleiros diminuíam, ao menos em parte, sua vantagem de velocidade. O que os mongóis faziam era protelar ao máximo possível o combate corpo a corpo. Avançavam e recuavam atirando, faziam todo tipo de armadilhas em flancos, através de floresta. Atraíam os inimigos para emboscadas fingindo estar batendo em retirada – às vezes, por dias.
As flechas não eram muito eficientes contra cavaleiros em armadura, mas obrigavam reação, e, no corre-corre, o cavalo europeu, com menos resistência, acabava se cansando, tornando a perseguição ainda mais infrutífera. Com os cavaleiros exaustos e separados da ala principal, finalmente os mongóis acionavam seus lanceiros, que usavam armadura, em combate direto (eram quatro lanceiros para cada seis arqueiros). Aí, era basicamente uma execução, com os europeus oferecendo pouca resistência.
4- MUITO À FRENTE DO SEU TEMPO
Esses truques todos também dependiam de algo que o inimigo não tinha: comunicação. Mongóis basicamente operavam por “rádio”: eles tinham um sistema de bandeiras, cornetas e flechas para transmitir ordens, passadas pelos generais geralmente posicionados em terreno alto, acompanhando tudo. Os cavaleiros europeus, quando se separavam de seus generais, basicamente estavam por si mesmos.
Em outras palavras, a sofisticação tática e estratégica dos mongóis os colocava à frente de seus concorrentes. Operações militares tão bem organizadas só se tornariam comuns de novo na Era Napoleônica.
5- O MONSTRO SAIU DA JAULA
A princípio, Gêngis queria conquistar o mundo pelo comércio, não pela espada. Enviou embaixadores ao Império Corásmio, potência da Ásia Central, mas os corásmios não queriam papo e mandaram de volta a cabeça de um dos representantes, em 1218. Aí, o monstro saiu da jaula. A fúria mongol cavalgou com 200 mil homens para enfrentar o inimigo. Foi tanto sangue que, para evitar que vivos se escondessem em pilhas de mortos, os mongóis decapitavam o corpo e depois fincavam a cabeça em estacas. O Império Corásmio acabou incorporado ao mongol.
6- A MORTE
Gêngis voltou à China, onde queria conquistar novos reinos. Nessa incursão, em 1227, ele morreu, possivelmente por causa de uma queda de cavalo (outras fontes citam malária e uma flechada no joelho). Conta- se que Subedei, general Mongol, atravessou o deserto de Gobi (na região central da Ásia), carregando o corpo de seu senhor por planícies e montanhas. A sepultura nunca foi encontrada.
7- O MAIOR IMPÉRIO DO MUNDO
Após a morte de Genghis Khan, um de seus filhos, Ogodai, tratou de dar continuidade às guerras de conquista. Resultado: por volta de 1280, os mongóis controlavam mais de um quinto do planeta – o maior Império que a humanidade já viu, em área contígua. Da Europa Oriental a Vladivostok, tudo pertencia àquele povo. Com o tempo, essa vastidão territorial foi se desintegrando, dando lugar a uma constelação de Estados independentes. Era o fim do sonho de Genghis Khan e seus descendentes. Eles queriam conquistar o mundo. E quase conseguiram.
Extra: Manias: Quem machucasse os olhos de um cavalo, praticasse a sodomia, abandonasse um colega ferido ou se negasse a dividir comida era morto. Gêngis não tolerava desertores – chegava a mandar decapitar ex-soldados. E tinha senso prático: apesar de a praxe ser assassinar toda uma população, às vezes poupava profissionais de valor como carpinteiros, pedreiros e, quem diria, atores.
Extra II: Os mongóis inventaram o "correio express". Com entrepostos entre 32 e 64 km pelo caminho, de forma que cavalos e cavaleiro podiam ser trocados, operando dia e noite, correspondências que levavam até 10 dias para chegar passaram a ser entregues em apenas 24 horas.
Foi no contato com os mongóis que o aventureiro italiano Marco Polo acabou conhecendo o macarrão. Mais tarde, ele teria levado a novidade para a Itália, onde fez enorme sucesso.
Nos tempos do Império Mongol, a Rota da Seda reviveu seus dias de glória. O comércio entre Europa, Ásia Central e Extremo Oriente enriqueceu cidades ao longo do caminho e promoveu intenso intercâmbio cultural.
Tolerância religiosa foi uma característica do Império Mongol. Cristãos, islâmicos e budistas viveram em paz sob seus domínos.
Extra III: No período em que comandou seu Império de 1206 a 1227, Gêngis conquistou quase 20 milhões de km².
EXTRA IV: Aos interessados, dois documentários: Genghis Khan: A Fúria Mongol (BBC), e Ancients Behaving Badly (History Channel).
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CLEÓPATRA - A RAINHA DOS REIS
Ano 51 a.C. Cleópatra, aos 18 anos, torna-se rainha do Egito com a morte de seu pai Ptolomeu XII. É provável que os oráculos profetizassem que a jovem ambiciosa, meio grega, meio macedônica, estava destinada a interferir nos meandros da História. Mas tudo que Cleópatra queria era manter-se no poder. O Egito, celeiro do mundo ocidental e uma das nações mais ricas do Mediterrâneo, representava um troféu muito cobiçado pelos inquietos romanos; afinal, uma centena de anos antes eles haviam começado sua expansão para o Oriente. Mais de uma vez falara-se em anexação e o próprio pai de Cleópatra só conseguiu manter-se no trono distribuindo subornos. Assim, a rainha ainda adolescente sabia muito bem que o caminho para a permanência no poder passava por Roma — e seus governantes. Tornou-se amante e aliada de Júlio César (100-44 a.C.), o primeiro ditador romano. Mais tarde, conquistou as atenções de seu sucessor, Marco Antônio (82 ou 81-30 a.C.).
ROMANCE, DESEJO E POLÍTICA
A história desses romances, misto de desejo e jogo de interesses, repercutiria intensamente na política romana, que passava por um período crucial. A República, implantada em 509 a.C., agonizava em meio à guerra civil. Os generais mais ricos, que podiam pagar seus exércitos, procuravam obter o poder para si. “Nesse tabuleiro de xadrez Cleópatra manobra com habilidade”, avalia Ciro Flamarion Cardoso, professor de História Antiga da Universidade Federal Fluminense. “Num mundo em que os negócios do Estado estavam nas mãos dos homens, ela usou a sedução para vencer como estadista.” A personagem Cleópatra, na maioria dos livros de história, encarna como nenhuma outra mulher da Antiguidade o papel de irresistível sedutora. “Mas esta é uma visão deformada”, critica Flamarion Cardoso. “Cleópatra foi uma administradora competente, uma mulher culta, que além do mais devia ter consideráveis dotes eróticos. Apostou na sua estratégia e perdeu". E a história não costuma ter complacência com os vencidos.
1- O OUTRO LADO DA RAINHA
Surpreendentemente, apenas há poucas décadas, passou-se a pesquisar com outro enfoque a vida da rainha do Egito. Até então, baseados no que diziam seus inimigos, que por sinal não eram poucos, os textos clássicos a descreveram de maneira extremamente pejorativa— mulher venal, amante de orgias, que conseguiu, com seus ardís, enfeitiçar dois generais romanos. Além das lendas, são poucos os registros históricos dignos desse nome sobre Cleópatra. Para evocar a sua aparência existem algumas efígies em moedas e um busto no Museu Britânico, em Londres. Não se sabe, portanto, se a moça tinha os olhos claros e cabelos loiros dos macedônios, ou a tez morena dos gregos. Parecia ter olhos grandes, boca pequena e bem desenhada. “Se o seu nariz tivesse sido mais curto, toda a face da Terra teria mudado”, disse o matemático francês Blaise Pascal (1623-1662), pioneiro da Teoria da Probabilidade. O nariz era aquilino . O fato é que a beleza não constituía o seu maior atributo. Plutarco, o historiador romano que viveu um século depois, explicava de outro modo o fascínio que ela exercia: “A presença de Cleópatra era irresistível e havia tal encanto em sua pessoa e no seu modo de falar, misturado com uma força singular que permeava cada palavra e cada gesto, que a todos ela subjugava.”
2- DINASTIA
Cleópatra pertencia à dinastia de Ptolomeu, um dos generais de Alexandre, o Grande (356 a.C.-323 a.C.), cujo império se estendia do Egito até a Índia. “Alexandre, de origem macedônica absorveu a cultura oriental e se comportou como um monarca divino”, classifica o professor de História Antiga Ricardo Mário Gonçalves, da Universidade de São Paulo. “Os sucessores imitaram o seu exemplo.” Depois da morte do imperador, suas terras foram divididas, cabendo a Ptolomeu o Egito. Para consolidar seu poder, o general se fez sagrar faraó, retomando as tradições das linhagens que comandaram o país durante três milênios, sob cuja autoridade se desenvolveu uma peculiar civilização de que as pirâmides são o signo mais conhecido. Cleópatra VII Thea Philopator (deusa que ama o pai, em grego) era o seu nome todo. Herdeira da dinastia ptolomaica, gostava de vestir-se como Ísis, a deusa-mãe, de quem se dizia a reencarnação.
3- UMA DEUSA?
Nascida em 69 a.C., na rica Alexandria cujo porto era o mais importante da época, nada mais natural que Cleópatra se sentisse uma deusa. Dos jardins do seu palácio, ela podia ver algumas das maravilhas legadas ao mundo por seus antepassados: a mais famosa biblioteca da Antiguidade, com mais de 700 mil volumes, e um museu frequentado por sábios do Mediterrâneo. Os Ptolomeu eram patronos das artes e muito do que se conhece hoje de filosofia e ciência gregas foi conservado em Alexandria, a capital do Egito. Do palácio também se avistava a féerica agitação do porto, os monumentos e o magnífico farol, construído por Ptolomeu II, uma das Sete Maravilhas do Mundo. Como regente do Egito, Cleópatra controlava, com a ajuda de administradores gregos, não só a vida da cidade mas a agricultura ao longo do Nilo, de onde provinha a fabulosa riqueza de seu país. Dispondo de poder absoluto, tinha objetivos definidos para o seu reinado, além de obstinação suficiente para dedicar a vida à realização de suas ambições: garantir a riqueza e a independência do Egito e restaurar a glória dos faraós.
4- CLEÓPATRA NÃO CONHECIA LIMITES
Cercada de uma corte corrupta, Cleópatra não tinha escrúpulos. Mandou matar quatro dos cinco irmãos que podiam atrapalhar-lhe os planos. Era porém uma mulher culta. Nas negociações comerciais e nos encontros diplomáticos dispensava intérpretes, sendo a única rainha macedônica a falar o egípcio — além de nove outras línguas. Durante o seu reinado, patrocinou as artes e as ciências e teria, segundo alguns historiadores, escrito duas obras: um improvável tratado sobre pesos e medidas e outro, mais compatível com sua figura no imaginário popular, sobre penteados e cosméticos. Para conquistar a confiança do povo, subiu o Nilo até Tebas, onde presidiu uma cerimônia de culto ao touro sagrado, manifestação do deus Ra. Nos 21 anos em que governou o Egito, evitou que a massa se rebelasse, o que contraria a afirmação de que era odiada por sua crueldade.
5- CONSPIRAÇÃO
Em compensação, logo que se tornou rainha, enfrentou a primeira conspiração palaciana. Como de costume entre os Ptolomeu, Cleópatra deveria dividir o trono com seu irmão Ptolomeu XIII, de apenas 10 anos, de quem era formalmente a mulher. Temendo, com bons motivos, que ela pretendesse governar sozinha, os tutores do irmão-marido a expulsaram para a Síria. Nesse meio tempo, o triunvirato que governava Roma desde 60 a.C. havia se desfeito e César disputava com Pompeu o controle da República. Pompeu foi assassinado em 48 a.C. no Egito, para onde César se dirigiu com suas legiões. A fim de entrar incógnita em Alexandria e conquistar as graças de César, Cleópatra arquitetou um plano ao seu estilo. Detalhe miúdo, ela se fez embrulhar num tapete, colocado nos ombros de um servo. Pode-se imaginar a expressão do ditador romano, ao ver o que continha o tapete desdobrado aos seus pés. Não espanta que a apresentação tenha terminado na cama. Seja como for, no dia seguinte César entregaria o controle do Egito para Cleópatra. Era um presente sujeito a condições. Em troca, a rainha, que mais tarde deu à luz a um filho apropriadamente chamado Cesário Ihe garantiu riquezas para sustentar seus exércitos.
6- CÉSAR
Assim, apesar do que diziam na época, a sedução de César não era cega. Mas, ao voltar a Roma, em 46 a.C., depois de uma vitoriosa campanha na Ásia Menor, o ditador convidou a rainha a visitá-lo. E, para provar a todos que Cleópatra era mais do que uma amante casual, mandou colocar sua estátua no templo dos próprios ancestrais dedicado a Vênus, como se sabe, a deusa do amor e da beleza na mitologia romana. César tinha então 54 anos. Cleópatra, 23. Os dias do conquistador, no entanto, estavam contados. Os inimigos acreditavam que ele pretendia tornar-se rei e instalar o governo do império em Alexandria para ficar junto da amante. Em 44 a.C., num dos episódios mais dramáticos da história de Roma, César foi assassinado por um grupo de republicanos. Sua morte pôs um fim à primeira campanha de Cleópatra pelo poder. Discretamente, retirou-se para o Egito à espera dos desdobramentos que não tardariam, na luta em Roma.
7- MARCO ANTÔNIO
Divulgado por Marco Antônio, o melhor amigo de César, o testamento do finado não mencionava sequer uma vez o nome de Cleópatra nem fornecia indicação de um eventual projeto monárquico. Os conspiradores que acreditavam que a morte de César traria de volta a República tiveram de sair do país. Formou-se um novo triunvirato com Marco Antônio, Otávio — um jovem de 18 anos, herdeiro de César — e Lépido, o maior de seus generais. Logo ficou claro que a ambição dos dois primeiros iria jogá-los um contra o outro. Em 42 a.C., na primeira batalha de que os dois participam juntos, em Filipos, na Grécia, o maior quinhão da glória cabe a Marco Antônio — ou assim parece, já que nessa época Otávio era apenas um rapaz doente. Para consolidar o poder recém-conquistado, Antônio sonha com uma invasão da Pérsia e, para esse objetivo, convoca todos os aliados da República Romana a um encontro em Tarso, na Síria. É a oportunidade que Cleópatra esperava para voltar a cena. Sua entrada é nada menos que triunfal. Baseado nos textos de Plutarco, o dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616) imortalizaria a cena na peça Antônio e Cleópatra, em que a rainha, adornada como Vênus, aparece na popa dourada de um barco com velas de cor púrpura enfunadas ao vento. Cleópatra se faz abanar com plumas de avestruz por meninos vestidos de Cupido, enquanto, ao som de flautas, oboés e alaúdes, escravos movem ritmicamente os remos de prata. Dado a festas e exageros, como poderia Marco Antônio resistir? No golpe de misericórdia, Cleópatra, aos 29 anos e no auge de seus encantos, convida o general quarentão para um banquete inigualável. Segundo Plutarco, dai em diante Cleópatra fez o que quis de Marco Antônio: “Ela despertou e inflamou paixões até então adormecidas em sua natureza, abafou e finalmente corrompeu quaisquer resquícios de bondade e justiça que ainda subsistissem nele." E como explica Flamarion Cardoso, "na realidade, o general era emotivo, bêbado e mulherengo."
8- AMANTE GENEROSO
Marco Antônio desistiu da campanha da Pérsia e aceitou o convite da rainha para visitar Alexandria. Na bela cidade eles formaram uma sociedade chamada “os que vivem para o prazer”, bem ao gosto do general romano. Em 34 a.C., Antônio deu a Cleópatra, como prova de amor, a ilha de Chipre, mais a Líbia e a Síria, a Armênia, a Média (no noroeste do atual Irã) e a Cilícia (sudeste da atual Turquia) — e, é claro, o velho Egito. Em troca, como já havia acontecido com César, a rainha sustentaria com suas riquezas as legiões romanas. Marco Antônio foi um amante mais generoso do que seu antecessor. Numa das festas que promoveu, deu a Cleópatra o título de Rainha dos Reis, repartindo entre Cesário, o filho que ela tivera com César e as três crianças que eram filhos dela consigo, partes das terras conquistadas pelo seu exército.
9- ROMA
Em Roma, tais doações foram usadas por Otávio para indispor o populacho contra seu rival. Segundo o professor Ricardo Gonçalves, “ao unir-se com Cleópatra, Marco Antônio tornou-se para os romanos um monarca despótico e absolutista. Enquanto Otávio, embora também quisesse o poder absoluto, parecia agir como um defensor da República.” Não tardou para que ambos guerreassem. A batalha de Ácio, no leste da Grécia. em 31 a.C., foi definitiva. Embora seu exército fosse melhor preparado, Antônio não conseguiu furar o bloqueio marítimo montado por Otávio. Cleópatra, ao lado do amante, foi a primeira a reconhecer a derrota e fugir para o Egito. Para não perdê-la, Marco Antônio foi atrás, abandonando os que ainda lutavam — pecado imperdoável para um chefe militar. No Egito, o par formou a sociedade dos “inseparáveis na morte”. Como bom soldado, ele matou-se com a espada. Cleópatra, porém, tinha apego à vida. Prisioneira dos romanos, com 39 anos, apelou para a velha fórmula, tentando seduzir Otávio. Mas este recusou o jogo. Não restou mais nada à rainha senão suicidar-se, fazendo-se picar por uma áspide, pequena cobra venenosa.
A COR DA PELE DE CLEÓPATRA
Com relação a cor da pele de Cleópatra, o historiador Adrian Goldsworthy faz alguns comentários interessantes, confira:
"Não são conhecidas a cor de seu cabelo e sua compleição. Há uma tradição popular em alguns círculos de que ela era negra, mas não existe a menor prova para fundamentar isso. Os Ptolomeus eram macedonienses, embora também existisse algum sangue grego e, em consequência de alguns casamentos com selêucidas, também um pouco de sangue persa nos registros de sua linhagem familiar. Não conhecemos a identidade da avó de Cleópatra. Também existe alguma dúvida em relação à mãe, embora a maioria aceite que era irmã de Auletes por parte do mesmo pai e mãe, o que aumentaria, então, a importância da avó. A conjectura aceita é que a última fosse uma concubina e, possivelmente, não tivesse ancestrais macedônios, talvez, fosse egípcia, ou de outro povo distante. Não é absolutamente impossível, portanto, que Cleópatra tivesse sangue especificamente africano, mas não há provas para sustentar isso. Tampouco é absolutamente impossível que fosse loura, pois alguns macedônios tinham cabelo claro (o que, novamente, é um termo muito subjetivo), mas, igualmente, nenhuma de nossas fontes menciona esse detalhe. Essa incerteza permitirá que povos diferentes continuem a imaginar Cleópatras muito diferentes." (GODSWORTHY, p. 572)
▪️A historiadora britânica Mary Beard, explica que as milhares de representações de Cleópatra ao longo do tempo são "baseadas em uma série perigosa de deduções de evidências fragmentárias ou flagrantemente não confiáveis".
Sabe-se tão pouco sobre ela que Beard defende que Cleópatra deveria aparecer para nós hoje como "a rainha sem rosto".
Extra: Com uma história que mistura política, intriga, violência, luxo e erotismo, é natural que a arte se apropriasse da figura da rainha do Egito, desde as pinturas que descrevem de forma romântica e grandiloquente o seu suicídio às peças de Shakespeare e Bernard Shaw e ao romance histórico de Théophile Gautier. Vivendo num ambiente de opulência e sensualidade — a corte dos faraós na faustosa Alexandria — Cleópatra é esculpida como a mulher irresistível que usa o corpo para conseguir o que quer dos homens e depois os descarta. Ou, segundo analisa o psicanalista Renato Mezan, professor da PUC, “como ela não tem existência real, sendo apenas a projeção dos desejos masculinos, o mito a despoja de sentimentos”.
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AS "MULHERES GIRAFAS" DA TAILÂNDIA
Durante séculos, as mulheres da nação indígena Kayan exibiram elaboradas argolas de ouro em volta do pescoço, o que fez com que fossem apelidadas de mulheres girafas.
Ao contrário do apelido, as mulheres Kayan têm pescoços de tamanho normal. No entanto, a ilusão de um pescoço mais longo é criada pelas pesadas argolas, pois com o tempo elas empurram a clavícula, vértebras e as costelas para baixo.
O MÉTODO
A partir dos cinco anos de idade as meninas Kayan recebem a primeira argola e podem acumular vinte e cinco ao longo da vida. Antigamente as argolas eram de ouro, mas agora são de bronze, pois existia o risco da mulher ser decapitada para ter o ouro roubado.
As mulheres não estão proibidas de tirar as argolas, porém muitas vêem a utilização como uma forma de beleza, exibindo sua feminilidade, dando a impressão de um pescoço longo e esguio. Elas tiram suas argolas quando precisam trocá-las, ou quando um médico precisa examiná-las.
Uma teoria observada por trás do uso das argolas é que ajudavam a proteger as mulheres da tribo de ataques de tigres, pois as espirais cobrem o pescoço. No entanto, a teoria mais aceita é que ela é usada como uma forma de realçar a beleza e feminilidade da mulher.
Muitos antropólogos, teorizaram por que as mulheres usam as argolas, alguns acreditam que foi usado séculos atrás como uma forma de evitar que as mulheres da tribo fossem escravizadas pelas comunidades vizinhas, pois seriam consideradas pouco atraentes.
RISCOS E PODER DE ESCOLHA
O peso das argolas que em uma mulher adulta pode chegar a 10 kg, faz com que sua clavícula, vértebras e as costelas colapsem, o que ajuda a dar a impressão de um pescoço estendido. Apesar dos riscos potenciais para a saúde, muitas mulheres Kayan ainda as usam como um emblema de honra e as veem como uma parte vital de sua cultura.
Na teoria, hoje em dia as mulheres da tribo têm a opção de usar as argolas ou não, mas a tradição é imposta de maneira subliminar, pois as que se recusam a usar só recebem uma cesta básica do governo, para sua sobrevivência.
ATRAÇÃO TURÍSTICA
Os Kayan fazem parte de um grupo tribal que historicamente viveu nas colinas de Myanmar perto da fronteira tailandesa, especificamente na província de Mae Hong Son, no noroeste da Tailândia.
Enquanto seus maridos trabalham no campo e em fazendas, elas trabalham com tecelagem e artesanato.
Desde meados dos anos 1980, muitos turistas se aglomeraram na área para ver as várias aldeias da tribo Kayan espalhadas pela paisagem acidentada da região e essa procura dos turistas acaba alimentando a tradição, pois é necessário pagar para entrar nas vilas onde essas mulheres habitam e isso acabou gerando um forte comércio e incentivando a utilização das argolas.
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Se algum dia um inventor satisfez os requisitos românticos das obras de Júlio Verne, foi Nikola Tesla. Comunicando-se com Marte, extraindo unidades de calor da atmosfera para fazer funcionar os motores, usando toda a terra como ressonador elétrico para que um homem na China pudesse se comunicar sem fio com outro na América do Sul, transmitindo energia através do espaço - era para tais possibilidades que ele dedicou os últimos quarenta anos de sua longa vida.
Tesla, foi para os Estados Unidos em 1884, é considerado um dos maiores engenheiros elétricos do início do século XX. Ele era o grande rival de Thomas Edison, trabalhou com George Westinghouse para desenvolver sistemas de iluminação precoce e demonstrou um transmissor de rádio antes de Guglielmo Marconi. Mas ele também teve algumas ideias estranhas e passou grande período da última parte de sua vida explorando assuntos como viagem no tempo e o que ele descreveu como uma teoria da gravidade.
Tesla não era muito bom em administrar seus negócios. Ele teve longas disputas com Edison e Marconi, entre outros, e embora ganhasse muito dinheiro, também perdia muito.
1- RECONHECIMENTO
O mundo da ciência está reconhecendo tardiamente a genialidade de um de seus inventores mais importantes, excêntricos e enigmáticos. Um século depois de chegar sem um tostão às docas da cidade de Nova York, Tesla está recebendo crédito por realizações brilhantes que superaram as de seus contemporâneos, Edison e Marconi. E mais de 60 anos depois que o recluso inventor morreu em um quarto de hotel em Manhattan, na companhia dos pombos que foram seus companheiros favoritos nos anos finais de sua vida, ele está finalmente sendo elevado ao panteão dos maiores inventores do mundo. Foi Nikola Tesla, não Marconi, quem inventou o primeiro rádio; foi Tesla, não Edison, que planejou o sistema de distribuição de energia elétrica agora usado em todo o mundo. Trabalhando em pequenos laboratórios no centro de Manhattan e Greenwich Village, Tesla inventou o motor elétrico polifásico, a turbina a vapor sem pás e o torpedo guiado por rádio. Alguns cientistas dizem que foi Tesla quem primeiro concebeu as ideias para um escudo militar do tipo '' Guerra nas Estrelas '' no espaço. Para ajudar a analisar e divulgar as realizações do gênio recluso, um grupo de cientistas e engenheiros formou o Comitê do Centenário de Tesla realizando simpósios, para estudar os feitos de Tesla.
"Ele ajudou a gerar a revolução industrial", disse Toby Grotz, presidente do Comitê do Centenário da Tesla e engenheiro da Martin Marietta Aerospace em Denver. “Não poderia ter acontecido sem ele. Ele veio de um período em que um único indivíduo ainda podia mudar o curso da história.'' Os eventos centenários ocorreram em grande parte no Colorado, onde o inventor construiu um laboratório para criar enormes raios artificiais.
“Estamos tentando trazer seu nome à proeminência de direito”, explica William H. Terbo, que é sobrinho-neto de Tesla e presidente honorário da Tesla Memorial Society.
2- TESLA
Tesla nasceu em 1856 na Croácia, então parte do Império Austro-Húngaro, e logo mostrou talento para invenções e consertos. Em 1884, ele embarcou para Nova York e foi imediatamente trabalhar para Thomas Alva Edison. Mas os dois rapidamente se separaram após uma disputa sobre uma invenção.
Apesar dos problemas com Edison, Tesla continuo empenhado e logo desenvolveu a base para o sistema de corrente alternada em uso mundial hoje. Ele percebeu que a corrente contínua pode ser transportada por fios por apenas alguns quilômetros, enquanto a corrente alternada de alta tensão pode durar quase para sempre sem sofrer grandes perdas de energia. Para tornar o novo sistema prático, ele inventou e patenteou uma variedade de geradores, transformadores e motores de corrente alternada. Edison apoiou a corrente contínua como a fonte elétrica perfeita do futuro, e os dois homens travaram uma batalha acalorada pelo melhor sistema. Ficou na história da ciência como a '' guerra das correntes '' - uma competição que Tesla venceu.
3- DISPOSITIVOS FUTURISTAS
Chega de história convencional da Tesla. O Comitê do Centenário diz que ele fez muito mais do que apenas desencadear a era da eletricidade - visualizando e inventando uma gama deslumbrante de dispositivos futuristas.
"Toda a literatura diz que Marconi inventou o rádio", relata Toby Grotz. “Mas muito antes de Marconi ter uma patente, Tesla estava demonstrando um modelo de barco controlado por rádio e falando sobre a transmissão de energia elétrica através do Atlântico. Compare isso com o S-O-S de Marconi.'' De fato, em 1943, os juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos anularam a patente de Marconi porque descobriram que ela havia sido precedida pelas realizações práticas de Tesla na transmissão de rádio. Outro exemplo é o radar, que emprega sinais de rádio de comprimento de onda curta que podem ser refletidos de volta de objetos sólidos, já em 1900, Tesla sugeriu que esses comprimentos de onda poderiam ser usados para localizar navios.
Em seu laboratório Tesla promoveu experimentos espetaculares, construiu enormes bobinas que geraram de 10 milhões a 12 milhões de volts de eletricidade e enviou relâmpagos artificiais a 135 pés no ar, um feito que nunca foi igualado.
4- TRABALHO ENVOLTO EM MISTÉRIO
Até hoje, os cientistas debatem o que Tesla realizou no Colorado, pois grande parte do trabalho estava envolto em mistério. Dr. Robert W. Bass, um engenheiro elétrico da Litton Industries, relata que uma das afirmações mais controversas de Tesla - que ele havia criado um raio de bola - era provavelmente verdade e ele citou teorias contemporâneas da física para explicar como Tesla poderia reproduzir um fenômeno natural raro. O laboratório de Tesla em Colorado Springs era uma estrutura semelhante a um celeiro que ficava no topo de uma colina na pradaria e era coroada por uma torre de 24 metros e, além dela, um mastro de 36 metros. A cerca alta que o rodeava trazia cartazes com os dizeres: "Fique longe - grande perigo". Os trovões de seus raios artificiais podiam ser ouvidos a quilômetros de distância. De acordo com Charles Wright, um engenheiro aposentado que trabalhava para a Public Service Company of Colorado, o laboratório estava repleto de uma série de invenções, incluindo transformadores de alta tensão, dínamos, bobinas, dispositivos de descarga de capacitores, capacitores isolados a óleo e um grande controle medido painel. No Colorado, Tesla descobriu o que ele pensou ser uma forma revolucionária de enviar eletricidade pelo ar. "Não só era possível enviar mensagens telegráficas a qualquer distância sem fios'', escreveu ele sobre o insight, ''mas também imprimir em todo o globo as fracas modulações da voz humana, muito mais ainda, para transmitir poder, em quantidades ilimitadas, a qualquer distância terrestre e quase sem qualquer perda."
5- FINANCIADO POR J. P. MORGAN
Com o apoio financeiro de J. P. Morgan, Tesla embarcou em um plano para comercializar a descoberta, construindo uma torre de 60 metros em Shoreham em Long Island. Em 1905, entretanto, Morgan abandonou o projeto e a torre nunca foi concluída. Tesla, especialmente nos últimos anos, foi um homem de extraordinárias idiossincrasias e declarações arrogantes que às vezes deixavam seus colegas da ciência furiosos. Suas ideias de transmissão de força pelo ar foram rejeitadas por muitos como pura fantasia.
6- O FIM
O New York Times relatou em um artigo de primeira página em 1915 que Tesla iria compartilhar o Prêmio Nobel de Física daquele ano com Edison. Mas ele nunca recebeu o prêmio. Um biógrafo disse que Tesla se recusou a compartilhá-lo com seu antigo rival. Outra versão afirma que Tesla rejeitou o prêmio porque ele havia sido dado em 1909 a Marconi. Após a morte de sua mãe, Tesla tornou-se cada vez mais excêntrico e retraído. Ele discordou vigorosamente das teorias apresentadas por grandes cientistas de sua época, incluindo James Clerk Maxwell e Albert Einstein. Ele nunca se casou. Quase todos os dias ele ia ao Bryant Park, atrás da Biblioteca Pública de Nova York, e alimentava seus amigos, os pombos. Embora Tesla esteja apenas tardiamente sendo reconhecido pelo brilho abrangente de suas realizações, um testemunho de sua genialidade veio em 1917 de B.A. Behrend, um engenheiro que tinha uma vaga ideia da marca que Tesla deixaria na civilização ocidental. '' Se eliminássemos de nosso mundo industrial os resultados de seu trabalho, as rodas da indústria parariam de girar, nossos carros e trens elétricos parariam, nossas cidades ficariam escuras, nossas fábricas estariam mortas e ociosas." Seu nome marca uma época no avanço da ciência elétrica. De seu trabalho surgiu uma revolução.
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PIETÁ - 1499
Autor: Michelangelo Buonarroti
Técnica: Escultura em mármore Carrara (174x195x69 cm)
Acervo: Basílica de São Pedro, Vaticano. A Virgem é confrontada com a realidade da morte de seu filho. Em sua total tristeza e devastação, ela parece resignada com o que aconteceu e é envolvida em uma aceitação graciosa. Cristo parece dormir um sono tranquilo. Ao apoiar Cristo, a mão direita da Virgem não entra em contato direto com sua carne, mas em vez disso, é coberta com um pano que toca o corpo do filho. Isso significa a santidade do corpo de Cristo. Duas figuras lindas e idealizadas, apesar do sofrimento. Isso reflete a crença da Alta Renascença nos ideais neoplatônicos de que a beleza na terra refletia a beleza de Deus, então essas belas figuras estavam ecoando a beleza do divino.
A OBRA
A cena da Pietá mostra a Virgem Maria segurando o cadáver de Cristo após sua crucificação, morte e remoção da cruz, mas antes de ser colocado no túmulo. Este é um dos eventos-chave da vida da Virgem, conhecido como as Sete Dores de Maria, que foram objeto de orações devocionais católicas. O assunto provavelmente era conhecido por muitas pessoas, mas no final do século XV era representado em obras de arte mais comumente na França e na Alemanha do que na Itália. Esta foi uma obra de arte especial até mesmo na Renascença porque, na época, as esculturas multiformes eram raras. Essas duas figuras são esculpidas de modo a aparecerem em uma composição unificada que tem a forma de uma pirâmide, algo que outros artistas renascentistas (por exemplo, Leonardo) também gostaram. Um exame de cada figura revela que suas proporções não são inteiramente naturais em relação às outras. Embora suas cabeças sejam proporcionais, o corpo da Virgem é maior que o corpo de Cristo. A razão pela qual Michelangelo fez isso provavelmente foi porque era necessário para que a Virgem pudesse sustentar seu filho em seu colo; se seu corpo fosse menor, poderia ter sido muito difícil ou estranho para ela segurar um homem adulto tão graciosamente quanto ela o faz. Para ajudar nessa questão, Michelangelo juntou as roupas em seu colo em um mar de cortinas dobradas para fazê-la parecer maior. Embora esta cortina atenda a esse propósito prático, também permitiu a Michelangelo exibir seu virtuosismo e excelente técnica ao usar uma broca para cortar profundamente o mármore. Depois que seu trabalho foi concluído, o mármore parecia menos com pedra e mais com tecido real por causa de sua multiplicidade de dobras de aparência natural, curvas e reentrâncias profundas.
MICHELANGELO (1475-1564)
Michelangelo esculpiu várias obras em Florença durante seu tempo com os Medici, mas na década de 1490 ele deixou Florença e foi brevemente para Veneza, Bolonha e depois para Roma, onde viveu de 1496-1501. Em 1497, um cardeal chamado Jean de Billheres encomendou a Michelangelo uma obra de escultura para ir para uma capela lateral na Basílica de São Pedro, em Roma. O trabalho resultante - a Pieta - seria tão bem-sucedido que ajudou a lançar a carreira de Michelangelo ao contrário de qualquer trabalho anterior que ele havia feito. Michelangelo afirmou que o bloco de mármore de Carrara que ele usou para trabalhar era o bloco mais “perfeito” que ele já usou, e ele iria polir e refinar este trabalho mais do que qualquer outra estátua que ele criou.
Bibliografia
Consulta: Simone Martins, mestre em história da arte.
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PROCEDIMENTOS MÉDICOS DO PASSADO - EXTRAÇÃO DE DENTES
Para qualquer pessoa que já pronunciou as palavras “os bons e velhos tempos”, este post é para você.
Farei uma sequência de postagens que farão você feliz por estar vivo no século XXI. Antes de existirem os dentistas e suas especializações em cada área, o tratamento dental era feito de forma amadora e até com certo requinte de tortura. Isso porque não haviam exames para identificar os problemas e tudo era resolvido com a “extração do elemento causador”, sem anestesia e às vezes, com as próprias mãos.
DENTISTA?
Quem fazia o trabalho do dentista, quando ainda nem havia essa profissão, na Idade Média eram monges católicos, que também davam seus pitacos na medicina, realizando tratamentos e cirurgias, já que tinham maior acesso ao conhecimento do que a população em geral. Após a Igreja proibir essa prática, quem herdou a função foram os barbeiros, que teriam aprendido a prática com os religiosos.
“Os médicos não queriam colocar as mãos na boca das pessoas. Aí acabou sobrando para os barbeiros se aventurarem nesse ramo, uma vez que eles já eram conhecidos por cuidar da cabeça das pessoas, pois cortavam barba e cabelo”, explica Paulo Bueno, diretor e curador há 11 anos do Instituto Museu e Biblioteca de Odontologia de São Paulo.
Só que, sem os devidos conhecimentos e instrumentos (que em meados de 1840, não existiam), eles realizavam as extrações sem anestesia e na marra. “Se o dente doía, eles entendiam que era uma infecção que precisava de extração. Não sabiam dizer nem que tipo de infecção era e nem conheciam outra forma de curá-la. Na hora de retirar o dente, eles chegavam a estourar a boca da pessoa com instrumentos improvisados e até quebravam outros dentes sadios, era um horror”, relata Paulo.
1- NA ANTIGUIDADE
Em 2012, foi encontrado na Eslovênia, no Leste Europeu, um dos vestígios mais antigos da existência de um tratamento dentário. Um dente de aproximadamente 6,5 mil anos de idade foi achado com um preenchimento de cera de abelha na coroa. Os estudos mostraram que o material foi aplicado na época da morte do indivíduo, mas não se sabe se foi antes ou depois.
Documentos sumérios feitos em tabletes de argila dão conta que, em 2750 a.C., já havia procedimentos cirúrgicos em mandíbulas. Na mesma época foram encontrados, na região da Mesopotâmia, peças para limpeza dentária, como palitos de metal.
Alguns dos exemplos mais antigos de cárie dentária foram encontrados em crânios do Egito Antigo. Acredita-se que elas fossem causadas por pães duros e vegetais fibrosos. E nenhuma escova de dente ou artefato de cuidados dentários foram encontrados em qualquer um dos túmulos.
Uma das primeiras explicações para as cáries dentárias foi a ideia de que pequenos vermes ou demônios cavavam os dentes e gengivas. Os sumérios acreditavam que as terminações nervosas eram esses pequenos vermes - as quais tratavam de retirar.
Na Idade Média, as extrações de dentes eram realizadas sem anestesia, em público e por barbeiros.
Para isso, era utilizado um instrumento amedrontador chamado "pelicano dental" e, mais tarde, uma "chave dental" - fórceps para a extração de dentes.
2- O PAI DA ODONTOLOGIA
O médico francês Pierre Fauchard, escreveu um tratado chamado O Cirurgião-Dentista e
atuou entre o final do século XVII a princípios do século XVIII, é tido como o pai da Odontologia.
Ele é celebrado pelas explicações científicas da anatomia oral básica e por procedimentos dentários pioneiros, como a eliminação de cáries e transplantes dentários.
Mas ele também recomendava fazer bochechos generosos com... a própria urina.
3- DENTADURAS DOS MORTOS
No século XIX, os vivos usavam dentes postiços arrancados de cadáveres.
Depois da Batalha de Waterloo, ocorrida na região onde fica a Bélgica, foram retirados os dentes de 50 mil mortos, e isso não era um segredo: essas dentaduras ganharam o nome de "dentes de Waterloo".
4- EVOLUÇÃO
Porém, para a alegria dos pacientes, a odontologia evoluiu bastante com o passar do tempo. A invenção da anestesia injetável local, em meados de 1910 contribuiu, e muito, para que o sofrimento de quem tinha problemas dentais diminuísse durante uma extração ou tratamento. A partir dos anos 1960 a odontologia deu um impulso tremendo. E as responsáveis por isso foram as grandes guerras, que beneficiaram (ironicamente) o povo com seus avanços tecnológicos.
E até aquela ideia de que qualquer dor de dente deveria ser tratada com a extração do dente, foi mudada. Essa ideia de sempre se extrair os dentes era coisa dos médicos. A partir de 1960 isso começou a mudar, pois os dentistas começaram a intervir nessas decisões médicas mostrando que era possível tratar o dente sem extraí-lo. Foi aí que os dentistas começaram a ganhar respeito, inclusive dos médicos.
Extra:
▪️A pasta de dentes mais antiga de que se tem notícia foi desenvolvida pelos egípcios por volta de 3 mil anos a.C.
▪️A composição incluía mirra, pedra-pome, cinzas e cascas de ovos.
▪️Na Grécia e Roma Antiga, eram usados ossos e conchas de ostras trituradas.
▪️Mais tarde, no século XVI, a pasta de dente adotada na Inglaterra incluía substâncias que nos aterrorizariam hoje, como pó de tijolos, porcelana e talheres triturados, além de conchas de moluscos.
▪️Atribui-se ao empresário inglês William Addis a confecção da primeira escova de dentes, em 1780, usando ossos de vacas e pelos de javali.
▪️A primeira escova comercial surgiu na década de 1930, nos Estados Unidos.
Bibliografia
BARNETT, Richard .The Smile Stealers: The Fine and Foul Art of Dentistry. Imagens: Wellcome Library
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Desde que há Brasil, este país inventado a partir de 1500, há crime de estupro previsto em lei. As Ordenações Afonsinas, o código legal que durou até 1513, explicavam como a vítima deveria se portar para registrar queixa:
_—"Que se alguma mulher forçarem em povoado, que deve fazer querela em esta guisa, dando grandes vozes, e dizendo, ‘vedes que me fazem’, indo por três ruas; e se o assim fizer, a querela seja valedoura: e deve nomear o que a forçou por seu nome."_
ESTAR PREVISTO EM LEI, GARANTE ALGUMA COISA?
Estar previsto por lei, porém, é coisa que ilude. Estupro foi compreendido de muitas formas, punido noutras tantas e evoluiu de forma muito lenta até a legislação atual. A história desta evolução diz muito sobre o Brasil.
As “ordenações” eram compilações. A reunião de todas as leis que um rei considerava válidas. Valeram as de dom Afonso V por um tempinho e, depois, passaram a vigorar as Ordenações Manuelinas, editadas pelo rei que liderou o "descobrimento". Em 1605 mudou de novo e vieram as Ordenações Filipinas, de Filipe II da Espanha. Tempos de União Ibérica. Mesmo quando o duque de Bragança reconquistou a independência portuguesa, o código foi mantido. É o pacote legal que valeu por todo o período de formação do Brasil, começou a mudar após o Império mas manteve-se parcialmente em vigência até princípios do século XX.
Assim, no tempo de Cabral, a mulher estuprada tinha de ter presença de espírito para, imediatamente após o abuso, sair gritando pelas ruas que fora vítima do crime e, se possível, citando o nome do criminoso. Talvez muito machucada, possivelmente em choque, e ainda assim obrigada à exposição pública. Se soa bárbaro, piora. Porque para compreender a lei é preciso entender, antes, o lugar do homem e o da mulher naquela sociedade.
1- CRIME DE HONRA
Veja-se o caso de outro crime sexual previsto pelas Ordenações Filipinas, o adultério. A lei autorizava o marido de uma mulher adúltera que matasse tanto ela quanto seu amante desde que fossem, tanto marido quanto amante, de classe social equivalente. Um homem do povo não poderia matar um fidalgo, embora pudesse requerer dele uma indenização. Tratava-se de um crime de honra. A indenização ou a morte restabeleciam, perante a sociedade, a honra do homem traído. A mulher adúltera, não importava sua classe social, também perdia a honra. Só que de forma irrecuperável. Se o marido traído por adultério poderia perdoar sua mulher, esta era uma escolha dele apenas. A relação, dentro de um casamento, foi legalmente desigual por quase toda história. O marido tinha poder de vida e morte sobre sua mulher e, assim, ele tinha como recuperar a honra. Ela, não. Nem se adúltera, tampouco se estuprada. Não bastasse a violência, a honra da mulher era perdida para sempre. Uma marca indelével. Não à toa, muitas vezes era preferível não acusar o criminoso para evitar a exposição.
2- A PALAVRA DA MULHER VALIA MENOS
E, sim, é claro que piora. "Se alguma mulher for corrupta de sua virgindade por força, de noite ou de dia, bradasse logo no dito ermo: ‘fuão me fez isto’, mostrando logo sinal de corrompimento de sua virgindade". Fuão, a versão arcaica da palavra fulano, dizia a lei Filipina, precisava ser acusado rapidamente. O brado em público imediato tinha razão de ser. Era para permitir a possibilidade de flagrante. A Igreja Católica, origem indireta das leis, desconfiava da mulher. Ela perdia a honra mais fácil e era vista como pouco confiável, um tipo humano cheio de subterfúgios, essencialmente traíra. O crime não podia ficar apenas na palavra de algoz contra vítima pois a palavra da mulher valia menos. O receio é de que, para prejudicar bons homens, mulheres pudessem levantar falsas acusações de violência. Assim, para haver estupro, era preciso que antes a mulher fosse virgem. Estupro marital era conceito inexistente. E uma mulher solteira que já não fosse virgem não tinha honra para que a perdesse.
Porque o crime não era contra o ser humano. Era contra uma entidade abstrata que o ser humano porta: sua honra.
A definição de estupro, portanto, era bem distinta da atual. A mulher era propriedade do marido. Mesmo que casasse por desejo de seu pai quase criança, logo após a primeira menstruação. Uma escrava era propriedade do senhor. Em nenhum destes casos poderia uma relação sexual ser considerada crime. Não havia violação da honra mesmo que houvesse violência.
3- NO DIA A DIA
A vida prática, na colônia, forçava que todos relaxassem a lei. O número de mulheres brancas era muito menor do que o de homens na composição da elite. Em Minas Gerais, centro econômico do país durante quase todo o século XVIII, metade dos habitantes eram pessoas escravizadas. Em 1776, 60% da população era composta por homens. Mulheres brancas compunham apenas 8% dos mineiros. Boa parte dos casamentos entre pessoas livres, portanto, não se dava no papel e os relacionamentos estáveis entre homens brancos e mulheres negras eram a regra, não a exceção. O poeta inconfidente Inácio José de Alvarenga Peixoto casou-se com uma moça tida como uma das mais belas da elite local, Bárbara Heliodora, descendente dos bandeirantes que descobriram o ouro. Já tinham filhos quando finalmente um padre amigo os casou. Outro poeta revolucionário, Tomás Antônio Gonzaga, engatou uma longa relação com Maria Joaquina Anselma de Figueiredo, loura disputadíssima em Vila Rica. Teve com ela um filho e lhe dedicou alguns dos mais bonitos poemas de amor em português. Os historiadores a apelidaram de Marília loura, por ser uma das duas inspiradoras do Dirceu que ele encarnava em versos. Gonzaga era o número dois da administração portuguesa em Minas. Quando o número um, o governador Luís da Cunha Meneses, se mostrou interessado, Anselma virou as costas para o poeta. E este, com raiva, escreveu contra seu adversário as Cartas Chilenas nas quais Meneses se torna o corrupto governador Fanfarrão Minésio. A moça também teve com o segundo namorado outro filho. Nada disso era segredo na capital da província, e a atual Ouro Preto era a maior cidade das Américas. O terceiro poeta, Cláudio Manuel da Costa, jamais casou no papel, mas passou a vida com Francisca Arcângela de Sousa, uma escrava alforriada com quem teve cinco filhos. Xica da Silva, no Arraial do Tejuco, atual Diamantina, pode parecer exceção, mas não era. Metade das casas daquela cidade pertenciam a mulheres que haviam nascido escravas e se envolveram com homens da elite, quase sempre mais velhos, e que lhes deixavam por herança filhos, dinheiro e propriedades.
4- NO DIA A DIA
É impossível julgar, em cada um destes casos, onde há amor e onde há violência. Pois, em troca de sexo, garantiram cada uma destas mulheres não só deixar a senzala, com uma vida mais digna para elas e os filhos.
Embora a letra dura da lei fosse rígida, o conceito de honra e da liberdade sexual tinha sua fluidez, principalmente no povo, mas até mesmo na elite. Quem sofria particularmente eram as crianças. Quando engravidavam fora do casamento, as mulheres da elite sumiam por um tempo e os bebês recém-nascidos eram colocados nas rodas de expostos de conventos, dados sem muito destino. O primeiro filho de Anselma foi dado a um casal para que o criasse. Quando ela engravidou de Cunha Meneses, o governador a fez se casar com um militar, a quem subornou para assumir a criança. Mulheres negras que porventura ganhassem a alforria sem casar com o antigo senhor tinham só um jeito para o sustento: oferecer o corpo. Em muitas formas que não apenas o estupro, dos mais pobres aos mais ricos, a violência sexual contra a mulher era a norma.
A violência ligada ao sexo, por séculos, foi o pano de fundo do cotidiano brasileiro.
5- O ESTUPRO
O estupro só ganhou o nome de estupro em 1890, quando o Brasil já era republicano. Permaneceu um crime que atingia a “segurança da honra, honestidade das famílias e do ultraje público”. Em 1940, modernizada, a lei o enquadrou entre “os crimes contra os costumes”. Ou seja, o crime ainda não era contra sua vítima e sim contra os valores da sociedade.
É a marca afonsina. Filipina. Colonial. Imperial. Chocantemente velha. A vítima não sofre pela violência brutal. Sofre pelo que vão pensar dela. Uma mulher desonrada.
A civilidade só veio em 2009, quando o Código Penal enxergou estupro como um crime “contra a dignidade sexual”.
Contra a dignidade humana.
Faz onze anos. E isso diz muito sobre nós.
Por quase toda a história, mulheres que não tivessem um comportamento casto e submisso eram mulheres de quem se devia desconfiar. 500 anos de Brasil pesam sobre nós. Sobre como pensamos. Sobre como agimos, sobre nossos costumes.
Observamos o quanto a história influencia a modernidade, pois até nos dias atuais a mulher é vista como causadora do seu estupro. Ainda vivemos em uma sociedade reacionária que a cada dia faz o passado mais presente.
É assim que nasce a cultura do estupro.
_Bibliografia_
_LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14ª edição, 20
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Ele era um injustiçado? Definitivamente não! A trajetória de delitos começou com pequenos golpes e acabou "evoluindo" para sequestro e latrocínio, Eugen Weidman havia deixado um rastro de seis mortos e, absolutamente todos assassinados de maneira cruel e por dinheiro.
Normalmente associamos a guilhotina às massas alucinadas que se aglomeravam durante a Revolução Francesa para ver a invenção do doutor Guilhotin trabalhando e cabeças rolando em praça pública, um fato inquestionável é que essa eficiente máquina foi utilizada na França para executar criminosos até bem recentemente. É justamente, da última pessoa a ser decapitada em praça pública com o uso da guilhotina no país que tratarei agora: Eugen Weidmann, em 1939.
Eugen não era francês, mas sim alemão, e foi condenado à morte depois de uma longa carreira de crimes — e de ter admitido ser o responsável pelo assassinato de seis pessoas. Ele começou a roubar quando ainda era menino, após perder a família na Primeira Guerra Mundial e, com o tempo, a gravidade dos delitos foi aumentando, rendendo a ele uma permanência de cinco anos em uma prisão na Alemanha.
1- AMIZADES PERIGOSAS
Durante o cumprimento de sua pena, Eugen acabou fazendo amizade com Roger Million e Jean Blanc — que também não eram, "flor que se cheire" —, e os três se tornaram companheiros de crime. Quando saíram da cadeia, tiveram a brilhante ideia de sequestrar turistas ricos como uma forma fácil de conseguir dinheiro, mas a primeira tentativa do trio foi patética, já que a vítima, um rapaz jovem, lutou tanto que eles não tiveram outro remédio senão deixar o cara escapar.
Aliás, logo ficaria evidente que o trio não tinha muito talento para os sequestros, pois, pouco tempo depois, no verão de 1937, Eugen e seus comparsas decidiram raptar uma jovem socialite de Nova York chamada Jean de Koven que estava em Paris visitando familiares. A moça tinha 22 anos, mas acabou sendo assassinada pelos criminosos antes que o pagamento do resgate fosse realizado.
Depois da turista norte-americana, o trio matou outras cinco pessoas nos arredores de Paris, e todos os crimes também aconteceram em 1937. As vítimas incluíam uma mulher chamada Jeanine Keller, que respondeu a um anúncio de emprego para uma vaga de governanta, o motorista de táxi Joseph Couffy, o produtor teatral Roger LeBlond, um alemão chamado Fritz Frommer, que Eugen havia conhecido na prisão, e Raymond Lesobre, um agente imobiliário.
Apesar da ideia inicial ser de que o trio se dedicasse aos sequestros, eles simplesmente roubavam o dinheiro de suas vítimas e, segundo algumas fontes, a soma total que os delinquentes conseguiram acumular foi de pouco mais de 14 mil francos. Uma ninharia, quando pensamos que seis pessoas foram assassinadas por dinheiro.
2- CAPTURA
As autoridades chegaram a Eugen porque ele, descuidado, esqueceu um cartão de visita no escritório de Raymond Lesobre, e os investigadores simplesmente seguiram a pista. Só que ele não se entregou facilmente, não. O alemão era extremamente agressivo e somente foi capturado depois de trocar tiros com os policiais.
Após a prisão, Eugen confessou ter assassinado as seis vítimas e foi julgado juntamente com seus comparsas por uma corte em Versailles. No fim, Jean Blanc e Roger Million escaparam da pena de morte e foram sentenciados à prisão perpétua — e Eugen foi o único a ser condenado a ser executado em praça pública na guilhotina.
3- A EXECUÇÃO
Na verdade, a intenção era de que a decapitação pública servisse de exemplo e desencorajasse a criminalidade na França. No entanto, as autoridades subestimaram a sede de sangue da multidão, pois, no dia da execução, 17 de junho de 1939, o que se viu foi as pessoas indo à loucura diante do espetáculo (bárbaro). Aliás, o alvoroço foi tão grande, que o local da sentença teve que ser alterado e seu cumprimento, adiado em várias horas.
Mas essas medidas não foram suficientes para acalmar a multidão. A guilhotina foi montada diante da prisão Saint-Pierre, em Versailles e, enquanto Eugen era conduzido até ela, as pessoas não pararam de gritar, assoviar e clamar para o criminoso.
Como se fosse pouco, de acordo com testemunhas que assistiram à execução, depois de Eugen perder a cabeça, muitas mulheres esperaram até que os policiais saíssem do local para molhar lenços com o sangue do criminoso.
Nos dias seguintes ao ocorrido, a imprensa francesa fez críticas duras ao comportamento histérico da população. Além disso, o presidente da época, Albert Lebrun, ficou horrorizado com o espetáculo que se formou em Versailles — e proibiu que as execuções públicas fossem realizadas no país.
Mas vale lembrar que a guilhotina não foi aposentada depois disso. A última pessoa a ser condenada à morte por decapitação na França foi o assassino de origem tunisiana Hamida Djandoubi, em setembro de 1977, e a pena capital só se tornou ilegal no país em 1981.
Bibliografia
ARBUCKLE, Alex.1939: France's last public execution by guillotine.
Imagens- domínio público
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Foto: Ilustração |
A DINASTIA DOS FARAÓS NEGROS
A cena deve ter sido incrível e assustadora. Imagine dezenas de embarcações lotadas de guerreiros descendo o rio Nilo por volta de 730 a.C. O exército havia partido do reino de Kush, na Núbia, território que hoje pertence ao Sudão. Objetivo: conquistar o Egito, já em franca decadência àquela altura.
SENHOR ABSOLUTO
Quem liderava o ataque era o próprio rei, Piye. No decorrer de um ano inteiro, ele e seus homens derrotaram todos os chefes egípcios que lhes apareceram pela frente. Alguns combates foram especialmente encarniçados. Mesmo assim, as tropas do governante núbio chegaram inteiras até o delta do Nilo. Ao final da campanha, Piye era o senhor absoluto de um império que ia do norte sudanês ao Mediterrâneo. Tornou-se, assim, o primeiro faraó representante de uma casta de núbios que controlaria o Egito antigo por décadas durante o que os historiadores hoje chamam de 25ª Dinastia.
Com a vitória sacramentada, Piye regressou a Napata, na Núbia, trazendo os tesouros que haviam sido pilhados pelo caminho. Daquela cidade, ele governaria o Egito por 35 anos sem jamais ter seu poder ameaçado. Ao morrer, em 721 a.C., foi sepultado no melhor estilo faraônico: numa pirâmide que havia mandado construir em El-Kurru, no Sudão, junto com seus cavalos favoritos.
SUCESSORES
Depois dele, vieram Shabaka e Taharqa, integrantes da mesma família. O primeiro, irmão de Piye, decidiu transferir o centro do poder para a cidade de Mênfis, em território egípcio. Ordenou a construção de vários monumentos em Tebas e Luxor, que estão lá até hoje. Em Karnak, Shabaka eternizou sua imagem numa estátua de granito rosa na qual ele aparece com uma coroa formada por duas serpentes – simbolizando a unificação do Alto e do Baixo Egito. Taharqa, por sua vez, era filho de Piye e assumiu o trono em 690 a.C., após a morte do tio Shabaka. Notabilizou-se como guerreiro e chefe militar antes mesmo de virar faraó. E encontraria nos poderosos assírios os seus maiores inimigos.
1- DEIXADOS DE LADO
Além de serem personagens historicamente importantes, os faraós negros do Egito deixaram para a posteridade monumentos fantásticos – como as pirâmides de Nuri ou Meroë, bem menos conhecidas e visitadas que as egípcias. Mesmo assim, foram solenemente ignorados ou subestimados por muito tempo. Só nas últimas 5 décadas os arqueólogos passaram a creditar-lhes a devida relevância. O motivo? Preconceito de boa parte dos arqueólogos que monopolizaram as pesquisas sobre o Egito do final do século XIX até a década de 1950.
2- APESAR DAS EVIDÊNCIAS....
Até o famoso egiptólogo americano George Reisner, da Universidade de Harvard, embarcou no racismo. Entre 1916 e 1919, ele descobriu no Sudão as primeiras evidências de que reis núbios haviam conquistado o Egito. Recusava-se, no entanto, a acreditar que pudessem ter sido negros. Preferia a tese de que, embora controlassem um reino de africanos negros e “primitivos”, eles teriam a pele mais clara – herança de antepassados egípcios e líbios.
3- INQUESTIONÁVEL
A partir da década de 1960, essa hipótese começou a ser desmontada. Até ser definitivamente arquivada em 2003, quando o arqueólogo suíço Charles Bonnet encontrou em território sudanês 7 grandes estátuas dos faraós negros. Hoje, ninguém mais questiona que o controle dos núbios sobre o Egito foi total. Seu reinado só chegaria ao fim em 670 a.C., com uma ocupação assíria que duraria 8 anos. Ao final desse período, os egípcios passariam a ser governados por Psamtik I, que nada tinha a ver com a dinastia núbia. O Egito ingressaria numa fase de recuperação econômica conhecida como renascença saíta, assim chamada por ter sido liderada pelos soberanos da cidade de Sais.
PARA LER MUITAS OUTRAS,