Deveríamos ter 50% de mulheres na Microsoft, diz CEO

EXAME.com  |  De Marina Demartini



Microsoft, Facebook e Apple têm algo em comum: as três empresas já tiveram Paula Bellizia em seu quadro profissional.

No Facebook, ela foi diretora de vendas para pequenas e médias empresas na América Latina e, na Apple, foi presidente das operações brasileiras.

Desde junho do ano passado, ela ocupa o cargo de CEO da Microsoft Brasil – empresa pela qual já havia passado entre 2002 e 2012.

Em entrevista a EXAME.com, Bellizia fala sobre um grande desafio: aumentar o número de mulheres dentro da companhia.

Entre os funcionários da área de tecnologia, apenas 16,9% são mulheres na Microsoft (número global). Nesse quesito, a empresa está atrás de concorrentes como Apple (que tem 22% de mulheres em cargos de tecnologia) e Google (que tem 18% de mulheres nesses cargos).

"Não temos 50% de mulheres na sociedade? Então, deveríamos ter 50% de mulheres na Microsoft". Veja a conversa com Paula Bellizia abaixo.

EXAME.com: Quando você fez faculdade de ciências da computação na Fatec/Unesp, sentiu preconceito por ser mulher?

Paula Bellizia: Quando eu entrei na Fatec, mulheres eram minoria. Em uma turma de 36 ou 40 alunos, seis eram mulheres. Mas eu nunca sofri preconceito lá. Muitas professoras eram mulheres e uma das diretoras também. Desse modo, eu via um equilíbrio.

Quando fui para o mercado de trabalho eu senti um pouco do preconceito, pois percebi que era um ambiente menos feminino. Mas ninguém nunca me disse: “você não serve para esse trabalho”. Além disso, eu também nunca senti um não-incentivo por parte da minha família, que é uma questão que as mulheres normalmente enfrentam.

Você acha que é um exemplo devido à sua trajetória?

Eu acho que sou uma história que pode ser referência para outras mulheres. Exemplo é uma palavra muito forte, mas eu sou uma história que ajuda a mostrar que, sim, é possível se você tiver um plano de carreira, se você souber o que você busca, se você não deixar que outras opiniões externas lhe tirem do seu caminho.

Eu posso ajudar outras mulheres que queiram trabalhar nessa área. Eu represento uma empresa que tem isso na cultura e sou uma porta-voz por ter passado por tantas empresas de tecnologia.

Tenho dois filhos, inclusive uma menina que eu quero incentivar a fazer a carreira que quiser. Uma das coisas que eu mais me preocupo é se eu dou o mesmo incentivo para a minha filha que eu dou para o meu filho. Por isso, eu quero ajudar outras mulheres a buscar um objetivo de carreira.

O que mudou para as mulheres na tecnologia desde quando você fez faculdade?

A evolução tecnológica trouxe uma possibilidade ainda maior para as mulheres. Hoje, temos um ambiente mais inclusivo para mulheres. Eu acho que quando uma mulher decidia ser programadora naquela época, era muito mais hardcore: laboratórios, CPD, grandes máquinas e processos longos. Hoje, você pode programar de qualquer lugar usando a nuvem.

A tecnologia é muito mais orgânica hoje em dia, pois você tem que olhar muito mais essa parte de interface, o fluxo dos sites, a experiência do consumidor em toda essa parte digital. Por isso que eu acredito que essa revolução tecnológica é um convite às mulheres.

De 2014 para 2015, houve uma diminuição no número de mulheres na área de tecnologia da Microsoft [de 17,1% para 16,7%]. A empresa regrediu nesse sentido?

A questão da diversidade na Microsoft vai além das mulheres. Nós queremos pessoas que se complementam, que tragam impacto do ponto de vista de negócios e sabemos que isso muda o resultado da empresa.

Hoje, temos uma grande representatividade de mulheres no conselho da Microsoft Brasil, 30% dos conselheiros são mulheres. As pessoas que reportam diretamente para mim são 60% mulheres. E isso é o resultado de uma cultura. Mas eu acho que ainda tem muito trabalho a ser feito.

Como chamar mais mulheres para trabalhar na Microsoft?

Em uma das primeiras semanas da minha volta à Microsoft, nós revisamos o plano de diversidade. Queremos ampliar a mensagem de que somos uma empresa cuja cultura é da diversidade. Aliás, 42% dos nossos estagiários são mulheres e no próximo ciclo de estagiários, nós queremos alcançar o número de 50% de mulheres.

Outra coisa na qual temos trabalhado é na questão de retenção de talentos. A Microsoft usa a tecnologia para ter flexibilidade no dia a dia. Isso é incrível para homens e, principalmente, para as mulheres. Nós queremos desenvolver os nossos talentos. Por isso, eu dou mentoria para vários dos nossos talentos femininos e conto a minha história para mostrar que é possível.

Nós acreditamos que as meninas e mulheres têm grande responsabilidade na sua trajetória profissional. A gente quer colocar todas as nossas ferramentas e a nossa cultura de diversidade à disposição, mas tem uma questão pessoal de a mulher realmente querer.

Qual proporção de mulheres você gostaria de alcançar na Microsoft Brasil?

Metade. Não temos 50% de mulheres na nossa sociedade? Então, deveríamos ter 50% de mulheres na Microsoft.

Como incluir as mulheres pode melhorar a Microsoft?

Eu acho que incluir a mulher na Microsoft melhora o nosso resultado do seguinte ponto de vista: a diversidade nos ajuda a refletir sobre os nossos projetos e a ver o que os nossos clientes querem.

Os homens, por exemplo, às vezes não se preocupam com algumas questões de desenvolvimento de produtos que as mulheres se preocupam. Por isso, a integração desses dois times diversos acaba contribuindo para um produto melhor, mais ergonômico, mais adequado que deixe os clientes mais felizes.

Você acha que as mulheres são mais desestimuladas a trabalhar com tecnologia no Brasil do que no resto do mundo?

Acho que o quadro é parecido no mundo todo. Tem muito ainda a ser trabalhado para chegarmos aos 50% de participação nas empresas. Alguns relatórios mostram que, no mundo inteiro, nós não fizemos muito progresso nessa questão.

Eu acho que é uma questão de sociedade e acredito que algumas empresas têm isso como pauta, mais do que outras. Elas têm um papel muito importante de acelerar essa transformação e essa é uma das grandes prioridades que eu tenho aqui com o meu time: promover essa grande pauta de diversidade como forma de fazer negócio e não de alcançar um número.

Desde que o Satya Nadella assumiu o comando da Microsoft, a empresa passou por grandes mudanças. Desde a chegada dele, a Microsoft se tornou uma empresa mais aberta?

Eu acho que tem uma questão de abertura. Diversidade já fazia parte da nossa cultura há muitos anos, inclusive antes de eu sair da Microsoft. Mas eu acho que a Microsoft é uma empresa mais aberta agora do ponto de vida de plataforma.

Hoje, nós somos uma empresa totalmente operável em todos os sistemas. Se você olhar a parte de open source, usamos uma parte do código aberto para o desenvolvimento do nosso produto.

Nós somos uma empresa que roda em qualquer sistema operacional. O Office 365, por exemplo, roda no iOS, no Android e no Windows. Assim, nós somos, sim, uma empresa mais aberta e mais inclusiva hoje em todos os termos e quem aumentou essa visão foi o Satya.

Neymar 'não escutou', mas liga espanhola vai investigar ofensas racistas contra ele

HuffPost Brasil  |  De Rafael Nardini



"Não escutei os gritos. Não escuto coisas fora do campo. É difícil as coisas me incomodarem, apenas jogo futebol".

Neymar diz que não ouviu, mas os torcedores do Espanyol, adversário do Barcelona do atacante brasileiro no último sábado, imitaram macaco e não tiveram vergonha de proferir gritos racistas no empate sem gols entre as equipes no último sábado.

E agora, finalmente, a Comissão Antiviolência da Liga Profissional de Futebol anuncia que irá investigar o caso. Para a entidade, os gritos e as imitações de macaco incitam a violência, o racismo, a xenofobia e a intolerância.

A Liga Espanhola não confirma o que pode acontecer com os torcedores flagrados pelo canal La Sexta durante a partida. Até o momento, nenhuma sanção foi anunciada contra o clube também.




Fora de campo, acusações de fraude e corrupção
Ainda sobre Neymar, a Justiça espanhola quer que ele preste depoimento sobre o caso em que é acusado por fraude e corrupção entre particulares. A acusação nasce da transação que tirou o camisa do 11 do Santos e o levou para Barcelona em 2013.

O pai de Neymar, Josep Maria Bartomeu (atual presidente do Barcelona), Sandro Rosell (ex-presidente do clube catalão) e os ex-presidentes do Santos Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro e Odilio Rodrigues também deverão ser ouvidos no processo.

Cardozo rebate Cunha e diz que determinou investigação de vazamentos

Mariana Jungmann - Repórter da Agência Brasil Edição: Beto Coura


O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, rebateu as críticas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que o acusou de não tomar providências quanto aos vazamentos de dados sigilosos da Polícia Federal. Em nota à imprensa, Cardozo disse que determinou a abertura de inquéritos para investigar “todo e qualquer caso em que ocorra a violação do dever legal de sigilo (vazamento ilegal)”.

Mais cedo, Cunha divulgou nota pública na qual lamentou o “vazamento seletivo de dados protegidos por sigilo legal e fiscal que deveriam estar sob a guarda de órgão do governo”, se referindo às notícias divulgadas ontem de que seu patrimônio evoluiu acima do que seria compatível com sua renda familiar. As reportagens são baseadas em relatório da Receita Federal.

Além disso, foi divulgado na imprensa a troca de mensagens de e-mail entre o ex-presidente da OAS, Leonardo Pinheiro – condenado por envolvimento na Operação Lava Jato – o presidente da Câmara, os ministros da Casa Civil, Jacques Wagner, do Turismo, Henrique Eduardo Alves, e da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Edinho Silva.

Cunha acusa o ministro Cardozo de ter uma “atitude seletiva” por não solicitar investigações quanto ao vazamento de informações sigilosas referentes a ele que estejam sob investigação da Polícia Federal. Para o presidente da Câmara, o ministro age diferente quanto os atingidos pelos vazamentos são membros do governo.

Cardozo respondeu que a crítica “causa espécie, uma vez que o pedido de apuração foi feito pelo ministro Jacques Wagner ao ministro da Justiça, e a determinação de abertura do inquérito visa a apurar vazamento em que, em tese, o próprio presidente Eduardo Cunha também seria vítima”.

E diz ainda que “caso o presidente da Câmara entenda que ainda existam vazamentos ilegais que exijam a abertura de novos inquéritos, poderá, como o tem feito em vários outros casos, representar ao ministro da Justiça pleiteando a abertura de investigação que julgar devida”.



Alemanha identifica 31 suspeitos de envolvimento em agressões no réveillon

Da Agência Lusa Edição: Juliana Andrade


O Ministério do Interior alemão anunciou hoje que identificou 31 suspeitos de envolvimento nas agressões e roubos que ocorreram na noite do réveillon na cidade de Colônia, 18 dos quais são requerentes de asilo.

"Dos 31 suspeitos cujos nomes conhecemos, 18 são requerentes de asilo", afirmou o porta-voz do Ministério, Tobias Plate, sobre os suspeitos de roubos e agressões. Plate disse também que os autores das agressões sexuais ainda não foram identificados.

A polícia estadual de Colônia confirmou que houve 121 queixas de agressão, que vão desde dois casos de estupro a vários relatos de agressão sexual, no que foi, aparentemente, uma onda de ataques coordenados em meio à multidão que se juntou nas ruas para celebrar a chegada do novo ano, em 31 de dezembro.

As vítimas dos ataques disseram que os autores eram homens "de aparência árabe ou do norte de África", dando origem a um debate sobre a capacidade de a Alemanha integrar os quase 1,1 milhão de refugiados que procuraram o país em busca de asilo no último ano.

Prêmio internacional de quadrinhos exclui mulheres, é alvo de boicote e reabre votos

HuffPost Brasil  |  De Caio Delcolli

O prêmio Grand Prix da organização francesa de quadrinhos Angoulême causou controversa ao não incluir uma mulher sequer em sua lista de 30 indicados neste ano.

No entanto, uma ameaça de boicote fez tudo mudar.

Conhecido por ser um dos principais do meio – já reconheceu artistas icônicos como Bill Watterson (criador da tirinha Calvin & Haroldo), Robert Crumb e Will Eisner – o prêmio, concedido no Festival Internacional de Quadrinhos Angoulême, tem sido contestado por vários quadrinistas internacionais, que têm se organizado para um boicote.

Florence Cestac, a única mulher a ganhar o Grand Prix de la ville d'Angoulême desde seu início em 1974, iniciou a campanha com um post em seu blog. Em seguida, a quadrinista Jessica Abel o traduziu para o inglês, de modo que a campanha passou a ter ainda mais alcance.

Aproximadamente doze quadrinistas indicados ao prêmio neste ano retiraram seus nomes da lista. São Brian Michael Bendis, Christophe Blain, François Bourgeon, Charles Burns, Pierre Christin, Daniel Clowes, Etienne Davodeau, Milo Manara, Riad Sattouf, Joann Sfar, Bill Sienkiewicz e Chris Ware, segundo o Mary Sue.

Todos são eles são figuras conhecidas dos quadrinhos, seja por trabalhar para editoras como Marvel e DC ou na cena independente, underground ou europeia.

Sfar escreveu no Le HuffPost que não queria seu nome em uma lista tão "anacrônica" quanto a anunciada.

"Eu simplesmente não quero participar de uma cerimônia tão desconectada das realidades dos quadrinhos contemporâneos. Trinta nomes, sem uma mulher, é um tapa naqueles que devotaram suas vidas criando e amando esta arte."

Cestac fez o cartum abaixo:


Começando da esquerda para a direita, os personagens dizem:

"É o 43º Festival Angoulême e apenas uma mulher foi eleita ao Grand Prix!"

"Mesmo?"

"Tem certeza?"

"Bem..."

A frase na parte inferior do cartum diz: "Sim, eles nem ao menos se lembram!"



"Mulheres? Que mulheres?", diz o primeiro gato.

"Nós procriamos apenas entre homens aqui", completa o outro, na arte de Gally.

Julie Maroh, autora de Azul É a Cor Mais Quente, também contribuiu com a campanha:





O 13th Dimension chegou a fazer uma lista de 13 mulheres que poderiam ser reconhecidas pelo prêmio.

A página de indicados foi tirada do ar.

Franck Bondoux, diretor executivo do festival, disse ao Le Monde que, "infelizmente, há poucas mulheres na história dos quadrinhos. Essa é a realidade".

"Similarmente, se você for ao [Museu do] Louvre, encontrará poucas mulheres artistas."

Em comunicado oficial, o Angoulême disse que "não pode mudar a história dos quadrinhos" e anunciou que incluiu duas mulheres na lista: Marjane Satrapi (Persépolis) e Posy Simmonds (Gemma Bovery), cujos nomes não foram contemplados por não terem sido votados o suficiente.

No entanto, depois, a premiação decidiu extinguir a lista completamente, e deixar que seus membros votem pelo ganhador do Grand Prix – ou ganhadora. Saberemos disso durante o festival, que acontece entre os dias 28 e 31 deste mês.

Diretora transgênera Lana Wachowski, de 'Sense8' e 'Matrix', é estrela de nova campanha da Marc Jacobs

HuffPost Brasil  |  De Caio Delcolli


A cineasta transgênera Lana Wachowski, 50, é o rosto da nova campanha Primavera-Verão de moda Marc Jacobs:




O designer de moda fez o anúncio nesta quinta-feira (7), no Instagram.

Conhecida por criar e dirigir com seu irmão Andy a trilogia cinematográfica Matrix (1999-2003) e a série Sense8, da Netflix, Lana foi escolhida por representar, segundo Jacobs, uma "celebração" de sua América, reforçando o espírito de beleza e igualdade da campanha.

O retrato da artista é o primeiro da campanha, cuja seleção de rostos se baseou em nomes que "personificam a coleção de moda através de suas individualidades".

A fotografia é de David Sims e Katie Grand fez o figurino. Guido Palau e Diane Kendal cuidaram de cabelo e maquiagem, respectivamente.

A polêmica do novo comercial de O Boticário: Machista ou empoderador?

HuffPost Brasil



O Boticário acertou em cheio quando, no ano passado, fez um comercial celebrando a diversidade para vender seus produtos. E, depois, no Dia dos Pais abordando a adoção como tema.

Mas o novo comercial da marca que "acredita na beleza", tem gerado polêmica entre as mulheres: machista ou empoderador?


O vídeo da campanha entitulada de "A Linda Ex" apresenta três casais, supostamente reais, que se separaram.

Às mulheres, um entrevistador pergunta o que levou ao término da relação. As respostas são: "Acabou por um monte de coisinhas", "a gente virou sócio da criação dos filhos".

Já os homens dizem que, "com a rotina, acaba ficando comum ficar do lado daquela pessoa, então deixa de ser atrativo", "a gente se acostuma com as coisas, com o carro, o anel, com a pessoa que está do lado", "acontece de parar de olhar".

A proposta da marca de cosméticos para essas mulheres então é que elas se arrumem mais e se maquiem na hora de assinar os papeis do divórcio.

O resultado? Os ex-maridos ficam com caras de bobo ao vê-las.

Assista ao vídeo:





Após assistir ao vídeo, algumas mulheres se sentiram incomodadas. Outras se sentiram representadas. E outras criticaram a forma que a marca encontrou ao falar de autoconfiança e empoderamento.

A posição dos homens também foi questionada -- já que, na construção do vídeo, os maridos não se mostram sensibilizados com o fim do relacionamento, e atrelam a dificuldade de superar o fim do casamento apenas às mulheres.

Se o que O Boticário queria lançar uma discussão, conseguiu.




Michel Temer entra com processo contra Cid Gomes após ser chamado de 'chefe da quadrilha'

Estadão Conteúdo



Sem alarde, o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, decidiu processar o ex-ministro da Educação de Dilma Rousseff e o ex-governador do Ceará, Cid Gomes, por declarações feitas durante convenção do PDT, no dia 17 de outubro passado, quando se filiou à legenda.

Durante a cerimônia, Cid acusou Temer de ser "chefe da quadrilha de achacadores que assola o Brasil" e disse que o País não iria avançar com o PMDB no Palácio do Planalto. Na ocasião, disse:

"Muito menos o Brasil pode avançar se entregar a Presidência da República ao símbolo do que há de mais fisiológico e podre na política brasileira, que é o PMDB liderado por Michel Temer, chefe dessa quadrilha que achaca e assola o nosso País".
No dia 5 de novembro, Temer e o PMDB ingressaram com uma representação criminal na Justiça Federal de Brasília contra o ex-governador cearense acusando-o de ter cometido os crimes de calúnia, injúria e difamação.

Na queixa-crime, o vice pede que as eventuais penas sejam aumentadas em um terço por três motivos: o crime ter sido cometido contra funcionário público, em razão de suas funções; na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação do fato; e contra pessoa maior de 60 anos.

O Ministério Público Federal no Distrito Federal apresentou parecer em que opina pelo parcial recebimento da queixa-crime proposta por Temer. Para o MP, a acusação para transformar Cid Gomes em réu deve ser recebida apenas quanto ao crime de injúria, quando há uma ofensa à dignidade ou ao decoro de alguém.

A Justiça Federal do DF, contudo, não discutiu ainda o mérito da ação. O juiz Marcus Vinícius Reis Bastos, da 12ª Vara Federal, decidiu remeter o caso para a Justiça Federal do Ceará por entender que a Seção Judiciária de Brasília não é competente para processar e julgar o fato.

Segundo o magistrado, o Código de Processo Penal prevê que a competência será fixada em razão do lugar em que se consuma a infração - no caso, em Fortaleza.

"Declaro-me incompetente para processar a presente queixa-crime e determino a sua remessa a um dos juízos federais da Seção Judiciária de Fortaleza/CE, a que couber por distribuição, foro que tenho por competente", decidiu Reis Bastos, em despacho de 30 de novembro. O caso ainda não chegou formalmente ao Judiciário cearense.

A reportagem do Broadcast Político não localizou a defesa de Cid Gomes para comentar a decisão de Temer de processá-lo. Cid e seu irmão Ciro Gomes - cotado para ser candidato a presidente pelo PDT em 2018 - são duros críticos da aliança de Dilma, uma ex-filiada do partido, com o PMDB.

Em entrevista na terça-feira, dia 5, Cid sugeriu à presidente que deixe o PT e se declare alheia ao processo eleitoral da sua sucessão como forma de tentar reverter os baixos índices de popularidade.

Atentado em Paris: polícia encontra coletes em Bruxelas durante investigação

Da Agência Lusa Edição: Graça Adjuto


As autoridades belgas anunciaram hoje (8) ter encontrado, em um apartamento em Bruxelas, três coletes que usados em ataques suicidas, vestígios de explosivos e uma impressão digital de Salah Abdeslam, suspeito de envolvimento nos ataques de Paris de 13 de novembro.

Em comunicado, o gabinete do promotor federal belga revelou que a descoberta foi feita em um apartamento na área de Schaerbeek, em Bruxelas, após buscas feitas em 10 de dezembro.

"No âmbito do inquérito aberto após os ataques de Paris, o procurador federal confirmou que, durante uma busca domiciliar realizada em 10 de dezembro, em um apartamento da Rua Bergé, em Schaerbeek, foi encontrado material que pode ser usado para fabricar explosivos", diz o comunicado.

A mesma fonte disse ainda que também foram encontradas três correias feitas à mão que podem ser usadas para o transporte de explosivos, "bem como uma impressão digital de Salah Abdeslam."

A polícia belga continua à procura de Salah Abdeslam, um francês de 26 anos, suspeito chave dos atentados de 13 de novembro, que regressou no dia seguinte a Bruxelas e está desde então em paradeiro desconhecido.

Salah Abdeslam viveu em Molenbeek e é alvo de um mandado internacional de captura. As autoridades belgas acusaram e detiveram preventivamente oito suspeitos de terem ajudado os autores dos atentados de Paris, que causaram 130 mortos e centenas de feridos.

Os ataques foram reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico.


Tremor de magnitude 6 atinge Centro e Norte do Chile

Da Agência Lusa


Um tremor de magnitude 6 na escala Richter abalou 20 cidades no Centro e Norte do Chile nessa quinta-feira (7), sem registo de mortos ou danos materiais.

Segundo o Centro Sismológico Nacional da Universidade do Chile, o abalo foi sentido às 22h11 (hora local), com o epicentro a 42 quilômetros da localidade de Punitaqui e a 415 quilômetros de Santiago.

O epicentro ficou a 32,5 quilômetros de profundidade.


Turquia convoca embaixador do Irã após críticas a Erdogan na imprensa iraniana

Da Agência Lusa


A Turquia anunciou, nessa quinta-feira (7) que convocou o embaixador do Irã para esclarecer críticas feitas ao presidente Recep Tayyip Erdogan na imprensa iraniana, após a crise diplomática com a Arábia Saudita.

Erdogan recusou-se a condenar a execução, pela Arábia Saudita, este mês, do líder religioso xiita Nimr Al Nimr. A execução gerou protestos nos países de maioria xiita no Oriente Médio. Manifestantes atacaram duas missões diplomáticas sauditas no Irã, o que levou Riade a cortar laços diplomáticos com Teerã.

“Condenamos energicamente que o nosso presidente seja diretamente atacado em determinados artigos nos meios [de comunicação] iranianos, controlados pelas autoridades, e exigimos que esses artigos parem imediatamente”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco, em comunicado.

Na nota, o ministério acrescentou que os ataques à embaixada saudita em Teerã e ao consulado do país na segunda cidade do Irão, Mashhad, foram “inaceitáveis e deploráveis”.

A Turquia aboliu formalmente a pena de morte em 2004, como parte de seus esforços para integrar a União Europeia.

Na quarta-feira, Erdogan disse que a execução de Al Nimr era “um assunto de Justiça interno” da Arábia Saudita.

As relações entre Ancara e Riade têm melhorado nos últimos meses. O líder turco visitou a capital saudita no mês passado, como sinal de aproximação bilateral.


Obama: presidenciáveis contrários à regulamentação de armas não terão apoio

Leandra Felipe - Correspondente da Agência Brasil Edição: Graça Adjuto



O presidente norte-americano, Barack Obama, defende maior controle na venda de armasSaul Loeb/Pool/Agência Lusa

O presidente norte-americano, Barack Obama, prometeu nessa quinta-feira (7) que não fará campanha ou apoiará candidatos presidenciáveis que não defendam uma mudança  maior na regulamentação da venda de armas.

Em entrevista à rede CNN, ele defendeu a maior regulamentação do setor, além de ter um artigo de sua autoria publicado hoje no The New York Times. Desde que anunciou a publicação de um decreto, na terça-feira (5), que determina maior rigor na verificação de antecedentes criminais para a venda de armas, Obama participa de entrevistas e palestras para convencer a opinião pública.

No artigo publicado, o presidente garantiu que votará contra membros do seu próprio partido, se necessário.

Até agora, a candidata democrata, Hillary Clinton, foi quem defendeu que o controle de armas seja ampliado e que o Congresso coloque o tema em pauta. Entre os republicanos, a maioria é contrária a qualquer mudança na atual legislação.

Em todas as entrevistas concedidas e no artigo publicado nessa quinta-feira, Obama admite que a meta de reduzir a violência será difícil, mas pede “bom senso” ao Congresso.

Até agora, apenas os vendedores de armas com licença federal eram obrigados a verificar os antecedentes dos compradores. As regras atuais não abrangiam os mercados informais, como feiras ou sites.

A campanha de Obama para convencer a população apresentou resultados esta semana. Pesquisa divulgada na imprensa norte-americana revela que 67% dos entrevistados querem algum tipo de mudança na legislação sobre armas e aprovam o decreto assinado pelo presidente.


Paris vai fechar Champs Élysées para carros um domingo ao mês

Reuters



A avenida Champs Élysées, em Paris, será fechada para carros um domingo por mês para que os pedestres fiquem livres para transitar, anunciou a prefeita da capital francesa.

A prefeita Anne Hidalgo, Socialista, disse que seus planos para a elegante avenida e ponto da cidade muitas vezes usado para cerimônias nacionais, são parte de uma série de medidas ambientalmente amigáveis planejadas para 2016.

Outros planos incluem pedestrianização permanente em um trecho de estrada de alto tráfego na margem direita do Sena.

Milhares de parisienses passearam pelos quase dois quilômetros na Champs Élysées no último domingo de setembro, quando a avenida foi fechada como parte de um evento europeu de dia sem carro.

Anne Hidalgo disse que toda a cidade de Paris deveria ser fechada para carros na próxima edição do evento.

Com forte presença de museus, teatros e lojas de luxo, a avenida de 10 faixas é um grande centro turístico em uma das cidades mais visitadas do mundo

'Barraco' entre ator José de Abreu e senador Randolfe Rodrigues no Twitter pode acabar na Justiça

HuffPost Brasil  |  De Thiago de Araújo



O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) estuda acionar o ator José de Abreu na Justiça após um ‘barraco’ protagonizado pelos dois no Twitter, no fim do ano passado. A informação foi publicada pela colunista Monica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, nesta quinta-feira (7).

Tudo começou quando o ator, um dos protagonistas da novela A Regra do Jogo (Rede Globo), chamou Randolfe de ‘hipócrita safado’, no dia 31 de dezembro. A base da ofensa foi a notícia de que o senador teria recebido R$ 200 mil do doleiro Alberto Youssef, um dos envolvidos na Operação Lava Jato.


Entretanto, o próprio Youssef negou a informação e a investigação contra Randolfe foi arquivada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Naquele 31 de dezembro, o parlamentar da Rede rebateu Zé de Abreu – um conhecido militante do PT dentro e fora das redes sociais –, dizendo que o ‘baixo nível’ do ator era ‘notório’, chamando-o ainda de ‘submundo sujo’. O que se instalou a seguir foi um grande bate-boca, incluídos outros internautas.


“Devo fazer uma interpelação judicial”, disse Randolfe à colunista. Já Abreu minimizou o assunto quando questionado sobre o possível processo. “Não dou picadeiro a palhaço”, sentenciou.

CBF tem novo presidente interino

Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil Edição: Nádia Franco


Antônio  Carlos  Nunes  substituirá  Marco  Polo Del Nero  a  partir  desta  sexta-feira     CBF/Divulgação

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem novo presidente interino. O vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima, conhecido como coronel Nunes, ocupará o cargo a partir de amanhã (8), no lugar de Marco Polo Del Nero, que, “por motivos de ordem pessoal”, pediu licença voluntária, por um período de até 150 dias. Na mesma nota em que anunciou o anúncio da licença de Del Nero, a CBF comunicou a designação do substituto.

Candidato único, Nunes foi eleito vice-presidente representante da Região Sudeste no último dia 16, durante assembleia da CBF. Embora tenha assumido um cargo relacionado à Região Sudeste, Nunes é presidente da Federação de Futebol do Pará, estado que fica na Região Norte. Ele teve apoio de 44 das 67 federações estaduais e clubes das séries A e B aptos para votar. Houve 3 votos contra, 3 em branco e 5 abstenções.

Conforme determina o estatuto da CBF, por ser o vice-presidente mais velho, se o presidente licenciado da CBF renunciar, Nunes assumirá o posto. Ele é considerado aliado de Del Nero.

A eleição de Nunes foi cercada de polêmicas. Na véspera, o pleito estava ameaçado pela decisão do juiz Mario Cunha Olinto Filho, da 2ª Vara Cível da Barra da Tijuca, que suspendeu a assembleia geral e fixou multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento. A permissão para a votação veio com a decisão da desembargadora Cláudia Pires dos Santos Ferreira, da 6ª Câmara Cível do Rio Cláudia Pires dos Santos Ferreira, que acolheu recurso da CBF.

No dia da eleição o vice-presidente Gustavo Dantas Feijó afirmou que, apesar do descumprimento de artigos do estatuto, não é possível dizer que houve golpe, porque outros pontos do documento foram cumpridos.

O vice-presidente Delfim de Pádua Peixoto Filho, porém, ressaltou que houve uma jogada política, porque os vice-presidentes não foram ouvidos sobre o pedido de licença de Del Nero, o que é exigido pelo estatuto da CBF.


Um ano depois, criador do 'Je suis Charlie' fala sobre o fenômeno que nem ele mesmo conseguiu 'entender'

Le HuffPost  |  De Lauren Provost



Três palavras. Uma imagem. Em 7 de janeiro de 2015, às 12h52, um certo Joachim Roncin publica no Twitter uma mensagem que ele acredita ser pessoal: “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie). Roncin jamais pode imaginar que a mensagem se tornará, em apenas alguns minutos, um slogan que o mundo inteiro usará como demonstração de solidariedade.

Desde aquele 7 de janeiro, “Je suis Charlie” foi falado por todas as bocas, visto em todas as fotos de perfil nas redes sociais, nos cartazes das manifestações, nas primeiras páginas dos jornais e até mesmo em comunicações oficiais de algumas cidades. Um ano depois, a força da mensagem resiste. Sem querer, esse diretor de arte e jornalista musical parisiense criou o slogan para várias outras manifestações de solidariedade mundo afora.

O próprio Joachim Roncin diz que o “Je suis Charlie” não lhe pertence. Com certeza é por esse motivo que ele fala pouco do assunto e, quando o faz, menciona “aquele negócio lá”. Mas, um ano depois dos atentados contra o jornal satírico francês, quando começa uma semana de homenagens e três placas em memória às vítimas serão inauguradas com a presença do presidente François Hollande e das famílias, o criador do “Je suis Charlie” aceitou falar sobre o fenômeno que nem ele mesmo conseguiu “realmente entender”.



Le HuffPost: Onde você estava em 7 de janeiro de 2015?

Joachim Roncin: Estava numa reunião na redação da revista Stylist. Um jornalista que estava no Twitter nos avisou (do atentado). Paramos a reunião sem saber exatamente o que estava acontecendo. Naquele momento falava-se de “ataques”, de “tiros” no Charlie Hebdo. Corremos para o computador para saber mais.

No Twitter, as informações apareciam a conta-gotas. Percebi que algo terrível tinha acontecido.

E quando ninguém conseguia encontrar palavras, você criou uma frase e uma imagem...
Foi uma coisa automática, porque faço isso todos os dias como diretor de arte, juntando os temas com os elementos à disposição. Neste caso, a capa do Charlie Hebdo. O logotipo.

Olhei para ele por dois segundos e tentei entender que reação ele gerava em mim.

O que senti foi estupefação, incredulidade. Difícil saber como veio a ideia. Tudo aconteceu numa fração de segundos. Tuitei aquele negócio alguns minutos após o anúncio dos ataques, por volta de 12h50, e depois tudo aconteceu muito rápido.

Acho que me evocou a infância, a adolescência, a maneira como me educaram, a impertinência.


Você era leitor do Charlie Hebdo?

Não. Já tinha lido uma outra vez, mas não comprava toda semana. Via algumas edições na casa do meu pai. Li o Hara Kiri. Foi por isso que ele me lembrei dessa época. A possibilidade de rir de tudo e de contestar por meio do riso.

E seu reflexo foi criar uma imagem e publicá-la no Twitter?
Sim, mas jamais tive a intenção de criar um viral. Em nenhum momento foi meu objetivo. A ideia era realmente passar uma mensagem pessoal. Uma coisa muito pura.

Quando disse “Je suis Charlie” em 7 de janeiro, aquelas três palavras não eram de maneira alguma políticas, como costuma ser o caso comigo. Era só uma maneira de expressar o fato de que eu não tinha medo, de que fora atingido, minha visão da democracia, minha visão da liberdade de expressão. Foi isso o que quis expressar, de forma rápida.

Nos dias seguintes, lemos várias análises sobre o sentido profundo dessas três palavras. O Washington Post falou do inconsciente coletivo em torno da formulação “Eu sou”. Outros se perguntaram sobre o “sou”. Queriam saber se era o verbo “ser” ou o verbo “seguir” (em francês, a conjugação dos dois verbos na primeira pessoa do singular é idêntica). O que você acha dessas interpretações e dessa busca por sentido?

Quando escrevi, não havia nenhuma reflexão do tipo. A mensagem era pura. Era uma forma de respeito pelas famílias das vítimas. Um jeito simples de dizer “Sou solidário”.

Depois, citei minhas fontes. Evidentemente, citei Spartacus, de Kubrick, pois é um filme que conheço (uma das cenas famosas do filme é a captura de escravos. Perguntam quem do grupo é Spartacus, em troca da liberdade. Nenhum deles se manifesta, para que todos tenham o mesmo destino, dizendo “Não, eu sou Spartacus”). Citei Kennedy (“Ich bin ein Berliner”, sou berlinense). Também “We are all Americans” (somos todos americanos), depois dos atentados de 11 de setembro. Todas foram referências.

Mas, com tantas as análises e sobreanálises, podemos fazer as palavras e imagens dizerem o que queremos que elas digam. Houve uma análise (http://www.lemonde.fr/idees/article/2015/05/19/le-simplisme-d-emmanuel-todd-demonte-par-la-sociologie-des-je-suis-charlie_4635826_3232.html), que não foi minha, sobre a marcha de 11 de janeiro. Ela dizia que a manifestação era uma grande farsa e que não representava a demografia francesa. Tudo o que sei é que em 11 de janeiro houve uma grande comunhão, uma grande solidariedade para com as vítimas.

O importante é lembrar que pessoas foram mortas por desenhar. Não há como não ser contra isso. Não temos o direito de matar por causa de desenhos. É uma frase que poderia ser dita por uma Miss França, mas é verdade. E é o que eu quis dizer no dia 7 de janeiro.

Quando um slogan ganha projeção mundial, há opiniões contrárias. Há polêmica, críticas.

Você acredita que o slogan saiu do seu controle?

Era o que eu queria. Me desapeguei dele bem rápido. Não queria que ele me pertencesse.

É uma mensagem pessoal, que tuitei para 400 seguidores. O slogan seguiu seu caminho, mas não fui o responsável por seu sucesso. As redes sociais foram. Portanto, se as pessoas se reconhecem nele e aprovam a mensagem, ótimo. Ela pertence a todo mundo.

Nunca tentei registrar a marca. Além disso, procurei o Inpi (órgão responsável pela proteção da propriedade intelectual na França) quando soube que havia gente tentando registrar a marca “Je suis Charlie”. Para mim, ela deve ser livre, sem dono – nem mesmo eu. Mesmo sem saber que eu tinha essa relação com o slogan, o Inpi divulgou um comunicado dizendo que não aceitaria registros ligados ao “Je suis Charlie”.

Mas isso não impediu que pessoas tentassem se apropriar do slogan. Algumas fizeram coisas belas, outras, coisas engraçadas. Também houve coisas repugnantes, como “Je suis Charlie Coulibaly” ou “Je suis Charlie Martel”, que saíram antes que as vítimas fossem enterradas. Isso me deixou louco.

Você entrou em contato com os sobreviventes do atentado ao Charlie Hebdo?
Sim, com certeza. Foi uma loucura. Eu, um simples cara atrás da tela, jogo três palavras na internet e a imagem dá quatro voltas ao mundo. Foi surreal... Francamente, não entendo por quê.

Mas havia uma coisas que me perturbava: eu não tinha entrado em contato com as pessoas do Charlie Hebdo e não sabia o que elas estavam achando daquilo tudo. Tinha medo que eles entendessem errado minhas intenções. Foi por isso que falei tão pouco do assunto! Não queria parecer inconveniente. As vítimas foram os funcionários do Charlie Hebdo, os clientes do supermercado Hyper Cacher, os policiais... Não eu!

Na véspera da publicação da primeira edição do Charlie Hebdo depois dos atentados, dia 13 de janeiro, fui convidado a participar do programa “Grand Journal”, do Canal+, com funcionários do Charlie Hebdo. Recusei o convite, mas disse que adoraria conhecer a equipe do jornal para conversar. Eles disseram “sim” e fui correndo.

Conheci Zineb e Luz. Foi um encontro incrível. Eles me abraçaram e elogiaram o slogan. Tirei um peso enorme das minhas costas! Disse para mim mesmo: “Tudo bem, eles entenderam”.

Luz me disse algo sublime, que jamais vou esquecer e que me fez chorar muito. Ele falou sobre a marcha de 11 de janeiro:

“Sinceramente, Joachim, não sei se o domingo teria sido tão importante se você não tivesse escrito essas palavras”. Fiquei profundamente tocado, e foi nesse instante que chorei como criança.

Houve várias versões do “Je suis Charlie” nas correntes de solidariedade. Podemos mencionar o “Eu sou Raif” em apoio ao blogueiro saudita Raif Badawi. “Eu sou Túnis” depois do ataque ao Museu Bardo. Você aprova essas iniciativas?

Com certeza! A partir do momento que vimos um slogan da ADN defendendo a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a democracia. Sim. Não há como não apoiar.

Mas não vou apontar pontos positivos nem negativos. Como o “Je suis Charlie” não me pertence mais, não é meu papel.

Também vimos várias versões humorísticas do slogan. “Je suis, je suis, je suis Julien Lepers”, por exemplo. Qual sua opinião sobre essas apropriações?

Acho engraçado! Quer dizer que o negócio virou um símbolo pop. E sabe quando me dei conta? Quando vi o slogan no fim de um episódio dos Simpsons. Disse para mim mesmo: “Ah, agora entrou para o mundo pop”.

Agora, esse negócio virou uma massa de modelar que toma a forma de várias causas, de várias formas de humor etc. Me lembro do “Je suis Chablis”, por exemplo.

Na noite de 13 de novembro, me mandaram um “Je suis en terrasse” (algo como “estou numa mesa de calçada”, em apoio às vítimas dos atentados de novembro). Algumas das versões mantêm o espírito combativo.

Mas nem tudo é tão bom. Perdão, mas não acho que encanadores e chaveiros precisem encher nossas caixas de correio com flyers que dizem “Je suis utile” (Eu sou útil). Quando é comunicação pura, sem nada por trás, acho que fica fora do contexto.

Você nunca condenou publicamente uma utilização do “Je suis Charlie”?

Logo no começo, quando vi camisetas e bonés estampados com “Je suis Charlie”. E esses produtos ainda estão à venda. Dizem que parte das receitas será revertida para as famílias das vítimas ou para o Charlie Hebdo, mas isso é obviamente mentira. Não duvido da sinceridade das pessoas que compram esses produtos com a intenção de demonstrar solidariedade, mas as pessoas que os vendem só querem saber do dinheiro...

A única organização com que trabalho é a Repórteres Sem Fronteiras, que lançou uma camiseta. Os recursos são usados para apoiar a liberdade de imprensa.

Você está envolvido com a Repórteres Sem Fronteiras?

Eles foram os primeiros a entrar em contato comigo sobre o uso do “Je suis Charlie”. Respondi que sim, sem problema. E desde então venho trabalhando com eles. Faço parte do conselho de administração dos Repórteres Sem Fronteiras e participo da luta em defesa da liberdade de expressão em todo o mundo.

O que o “Je suis Charlie” mudou para você, pessoal e profissionalmente?

Antes eu tinha convicções, mas não me envolvia. Agora me envolvo. Me envolvo com os Repórteres Sem Fronteira, como disse.

Também visito escolas. Explico o que significa liberdade de expressão e difamação. Desmonto clichês sobre a imprensa e tento mostrar aos jovens que eles não podem levar a sério tudo o que leem na internet.

Do ponto de vista profissional, nada mudou. Me procuraram, mas recusei. Mantive a cabeça fria, sabendo que, se me abordaram naquele momento, não foi pelos motivos certos. Não quero incentivar as pessoas que só me enxergam através do prisma do “Je suis Charlie”.

Um ano depois, o que lhe resta do “Je suis Charlie”?

Continua sendo uma luta pela liberdade de expressão. Qualquer coisa que mereça ser celebrada. Até 7 de janeiro, era tudo na França. Vimos que não é mais o caso.



Este artigo foi originalmente publicado pelo Le HuffPost e traduzido do francês.

Papa Francisco: a vida, as ideias, os amigos e os perigos dentro do Vaticano

Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL   |   Por: Robert Draper
 
Ao levar ao mundo sua mensagem de mudança, Francisco privilegia os pobres em vez da doutrina, trazendo alegria e preocupação aos católicos romanos


Foto: Dave Yoder

Quando as 7 mil pessoas da plateia se impressionam ao vê-lo pela primeira vez no palco, ele ainda não é o papa. Mas, como nos frêmitos de uma crisálida, algo extraordinário já está presente naquele homem. Na casa de eventos Luna Park, em Buenos Aires, Argentina, católicos romanos e cristãos evangélicos congregam-se para um evento ecumênico. Ao microfone, um pastor pede ao arcebispo da cidade que venha dizer algumas palavras. O público fica surpreso, pois quem se adianta com um andar decidido estava sentado lá no fundo durante horas, como se fosse um qualquer. Embora seja cardeal, ele não traz a tradicional cruz peitoral; veste apenas uma camisa preta de clérigo e um paletó, como o simples padre que foi em décadas passadas. Quem vê o idoso magro e circunspecto nesse momento, nove anos atrás, dificilmente pode imaginar que aquele argentino despretensioso e soturno será um dia conhecido em todas as partes do mundo como uma figura radiante e carismática.

De início em tom baixo mas sem nervosismo, ele fala em espanhol, sua língua nativa. Não trouxe nada escrito. O arcebispo não faz menção ao tempo em que ele, com o mesmo menosprezo de muitos padres católicos latino-americanos, comparava o movimento evangélico a uma escola de samba – um espetáculo frívolo como os ensaios nos galpões do Carnaval. Em vez disso, o argentino de maior poder na Igreja Católica, que se intitula a única igreja cristã verdadeira, diz que, para Deus, essas distinções não importam. “Que lindo é ver que irmãos estão unidos, que irmãos oram juntos”, louva ele. “Que lindo é ver que ninguém negocia sua história no caminho da fé, que somos diversos, mas queremos ser, e já começamos a ser uma diversidade reconciliada.”

De mãos espalmadas para o alto, o rosto de repente animado e a voz vibrante de emoção, ele roga a Deus: “Pai, estamos divididos. Une-nos!”

Os que conhecem o arcebispo ficam atônitos, pois sabem que sua habitual expressão implacável já lhe trouxera apelidos como “Mona Lisa” e “Carucha” (por suas mandíbulas de buldogue). Mas o gesto marcante que também será lembrado desse dia acontece assim que ele acaba de falar. O cardeal se ajoelha devagar no palco e pede que os presentes orem por ele. Após uma pausa perplexa, todos o atendem, conduzidos por um ministro evangélico. A imagem do líder religioso prostrado de joelhos em meio a homens de menor prestígio, numa postura de súplica ao mesmo tempo submissa e imponente, estará nas primeiras páginas em toda a Argentina.

Uma das publicações que estampam a foto é a revista Cabildo, considerada a voz dos católicos ultraconservadores do país. Na manchete da reportagem, um termo chocante: apóstata. O cardeal é retratado como traidor de sua fé.

Esse é Jorge Mario Bergoglio, um argentino. O futuro papa Francisco.


O papa Francisco abraça um jovem deficiente defronte à Basílica de São Pedro. O líder dos 1,2 bilhão de católicos conquistou a admiração do mundo por sua simpatia, franqueza e humildade - Foto: Dave Yoder

“Preciso começar a fazer mudanças agora mesmo”, anunciou Francisco a meia dúzia de amigos argentinos certa manhã, apenas dois meses depois que 115 cardeais no conclave do Vaticano o propeliram do relativo anonimato ao papado. Para muitos observadores, uns exultantes, outros incomodados, o novo papa parecia já ter mudado tudo da noite para o dia. Ele era o primeiro papa latino-americano, o primeiro papa jesuíta, o primeiro papa não nascido na Europa em mais de mil anos e o primeiro papa a adotar o nome Francisco, em honra a São Francisco de Assis, padroeiro dos pobres. Logo após sua eleição, em 13 de março de 2013, o novo chefe da Igreja Católica materializou-se em um terraço da Basílica de São Pedro todo vestido de branco, sem o tradicional manto escarlate nos ombros e sem a estola bordada em ouro ao pescoço. Saudou as massas ululantes lá embaixo com eletrizante simplicidade: “Fratelli e sorelle, buona sera” – “Irmãos e irmãs, boa noite”. E encerrou com um pedido que muitos de seus conterrâneos já conheciam como sua marca registrada: “Rezem por mim”. Ao partir, ele passou direto pela limusine que o aguardava e entrou no ônibus reservado aos cardeais que tinham acabado de nomeá-lo seu superior.

Na manhã seguinte, o pontífice pagou sua conta no hotel onde estivera hospedado. Depois, abriu mão dos tradicionais aposentos papais no Palácio Apostólico e preferiu morar em um apartamento de dois dormitórios na Casa Santa Marta, a residência de hóspedes dentro do Vaticano. Em seu primeiro encontro com a imprensa internacional, ele enunciou sua ambição primordial: “Como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres!” E, em vez de celebrar a missa noturna da Quinta-Feira Santa (comemorando a Última Ceia) em uma basílica e lavar os pés de padres, como é tradicional, ele pregou em uma prisão para jovens, onde lavou os pés de 12 detentos, entre eles mulheres e muçulmanos, ato inédito para um papa. Tudo isso ocorreu em seu primeiro mês como bispo de Roma.

Os amigos do novo papa compreenderam o que ele queria dizer com “mudanças”. Embora até o menor de seus gestos fosse dotado de uma importância considerável, o homem que eles conheciam não se contentava em exibir símbolos. Ele era um porteño prático, calejado da vida de cidade grande em sua Buenos Aires natal. Queria que a Igreja Católica fizesse diferença na vida das pessoas – que fosse, nas palavras dele, um hospital num campo de batalha, recebendo todos os feridos, não importando de que lado lutassem. No empenho por esse objetivo, segundo um amigo argentino, o rabino Abraham Skorka, ele podia ser “uma pessoa muito teimosa”.

Jorge Mario Bergoglio antes de virar o papa Francisco

Se, para o resto do mundo, o papa Francisco parecia ter desabado do céu como uma chuva de meteoros, em sua terra ele era uma figura religiosa bem conhecida – às vezes polêmica. Filho de um contador cuja família emigrou da região do Piemonte, no noroeste da Itália, Bergoglio logo se distinguiu ao entrar para o seminário, em 1956, aos 20 anos, depois de ter trabalhado como técnico de laboratório e, por breve período, como segurança de boate. Pouco depois, ele escolheu a intelectualmente exigente Sociedade de Jesus como seu caminho para o sacerdócio. Como aluno do Colégio Máximo de San José em 1963, demonstrou “elevado discernimento espiritual e habilidades políticas”, segundo um de seus professores na época, o padre Juan Carlos Scannone, e rapidamente se tornou um conselheiro espiritual tanto para estudantes como para professores. Ele lecionou para rapazes rebeldes, lavou pés de prisioneiros, estudou no exterior. Tornou-se reitor do Colégio Máximo e presença assídua em conturbadas favelas de Buenos Aires. E ascendeu na hierarquia jesuíta ao mesmo tempo que navegava pelas turvas águas da política de uma era em que a Igreja Católica se enredou em tensas relações com Juan Perón e, mais tarde, com a ditadura militar. Ele perdeu as boas graças de seus superiores jesuítas, depois foi resgatado do exílio, por um cardeal seu admirador, e consagrado bispo, em 1992, arcebispo, em 1998, e cardeal, em 2001.

De temperamento tímido, Bergoglio – que se autointitula callejero, isto é, “rueiro” – preferia a companhia dos pobres à dos ricos. Eram poucos os seus prazeres: literatura, futebol, tango e nhoque. Apesar de tanta simplicidade, esse porteño era um animal urbano, um observador perspicaz e, no seu jeito discreto, um líder nato. Também sabia aproveitar o momento, fosse em 2004, ao deblaterar contra a corrupção em um discurso na presença do presidente da Argentina, fosse em 2006, ao cair de joelhos no Luna Park. Como diz o padre Carlos Accaputo, um fiel assessor desde que começou a trabalhar para Bergoglio, em 1992: “Acho que Deus o preparou, durante todo o seu pastorado, para este momento”.

Além disso, seu papado não foi golpe do acaso. O escritor romano Massimo Franco explica: “A eleição de Francisco surgiu de um trauma”. Ele fala da súbita (e, por quase seis séculos, sem precedentes) renúncia do papa Bento XVI, ao mesmo tempo que crescia o sentimento entre os cardeais mais progressistas de que a mentalidade encanecida e eurocêntrica da Santa Sé estava apodrecendo a Igreja Católica por dentro.

Desafios do papado

Sentado na sala de estar de seu apartamento naquela manhã, o papa admitiu para seus velhos companheiros que tinha pela frente desafios formidáveis. Caos financeiro no Instituto para as Obras de Religião (mais conhecido como Banco do Vaticano). A burocracia travando a administração central, chamada de Cúria Romana. Contínuas revelações sobre padres pedófilos isolados da Justiça por autoridades da Igreja. Nesses e em outros problemas, Francisco pretendia agir com rapidez, sabendo que, nas palavras de um amigo presente naquela manhã, o pastor pentecostal e acadêmico Norberto Saracco, “ele iria fazer uma porção de inimigos. Ingênuo ele não é, certo?”

Saracco lembra-se de que expressou preocupação com a audácia do papa. “Jorge, sabemos que você não usa colete à prova de balas”, disse ele. “Há muitos loucos por aí.”

Francisco então replicou, calmamente: “O Senhor me pôs aqui. Ele vai ter que tomar conta de mim”. Embora não tivesse pedido para ser papa, ele conta que, no momento em que anunciaram seu nome no conclave, foi tomado por uma imensa sensação de paz. E, apesar das animosidades que ele provavelmente provocaria, assegurou aos amigos: “Ainda sinto a mesma paz”. Já o Vaticano sente outra coisa.

Federico Wals, que por vários anos foi assessor de imprensa de Bergoglio, viajou de Buenos Aires para Roma no ano passado para ver o papa. Mas fez, primeiro, uma visita ao padre Federico Lombardi, veterano relações-públicas do Vaticano cujo trabalho é essencialmente análogo às antigas funções de Wals, só que em escala bem maior. “E então, padre, como se sente com respeito ao meu exchefe?”, perguntou o argentino. Lombardi forçou um sorriso e respondeu: “Confuso”.

Lombardi fora porta-voz do papa Bento XVI, Joseph Ratzinger, um homem de precisão germânica. Ao sair de um encontro com um líder mundial, Lombardi me conta com palpável saudade, o ex-papa disparava um resumo incisivo. “Era incrível a clareza de Bento. Ele dizia: ‘Falamos sobre tais coisas, concordei em tais aspectos, discordei nesses outros, o objetivo do nosso próximo encontro será tal e tal’ – e, em dois minutos, eu ficava inteiramente a par do conteúdo.”

Agora, com um risinho meio desarvorado, Lombardi fala sobre Francisco: “O novo papa é um homem sensato; teve umas experiências de vida interessantes. Diplomacia, para ele, não é bem uma questão de estratégia. É mais uma coisa de ‘conheci tal pessoa, agora temos uma relação pessoal, então que a partir de agora façamos o bem para o povo e para a Igreja’”.

Em um evento público na Praça de São Pedro, Francisco vai de papamóvel, sem a proteção de vidros blindados. O pontífice caminhava livremente quando era cardeal em Buenos Aires, mas, por segurança, não pode fazer isso em Roma - Foto: Dave Yoder
O porta-voz do papa discorre sobre os novos valores do Vaticano sentado em uma pequena sala de conferência no prédio da Rádio Vaticano, vizinha do Rio Tibre. Suas vestes sacerdotais amarrotadas condizem com sua expressão de cansado desnorteio. Ontem mesmo, ele conta, o papa recebeu na Casa Santa Marta um grupo de 40 líderes judeus – e o escritório de imprensa do Vaticano só ficou sabendo após o fato. “Ninguém sabe tudo o que ele está fazendo”, diz Lombardi. “Nem mesmo seu secretário pessoal. Tenho de ligar para um monte de gente. Um conhece uma parte da agenda dele; outro sabe de outra parte.”

Por fim, o chefe de comunicação do Vaticano observa, resignado: “É a vida”.

Mudaças no Vaticano

As coisas mudaram. A vida era totalmente diferente no tempo de Bento, um acadêmico cerebral que continuou a escrever livros teológicos durante seus oito anos de papado, assim como no tempo de João Paulo II, que se valeu de sua formação em teatro e de seus talentos linguísticos em quase 27 anos de pontificado. Ambos foram confiáveis guardiões da ortodoxia papal. O espetáculo desse novo papa, com seu relógio de plástico e seus sapatões ortopédicos tomando o café da manhã no refeitório do Vaticano, requer tempo para deixar de pasmar as pessoas.

O mesmo vale para seu senso de humor, distintamente informal. Depois de receber na Casa Santa Marta a visita de um velho amigo e conterrâneo argentino, o arcebispo Claudio Maria Celli, Francisco fez questão de acompanhar seu convidado até o elevador. “Para que isso?”, perguntou Celli. “É para ter certeza de que fui embora mesmo?” De bate-pronto, o papa retorquiu: “E de que não está levando nada”.

Para as tentativas de adivinhar as idas e vindas do papa de 78 anos, o mais próximo de um intermediário com quem as autoridades do Vaticano podem contar é o cardeal Pietro Parolin, o secretário de Estado de Francisco. Ele é um respeitadíssimo e veterano diplomata e, o mais importante, tem a confiança de seu chefe, segundo Federico Wals, “porque não é demasiado ambicioso, e o papa sabe disso. Essa é uma qualidade fundamental para o papa”. Ao mesmo tempo, Francisco reduziu drasticamente os poderes do secretário de Estado, em especial no que diz respeito às finanças do Vaticano. “O problema, nesse aspecto, é que a estrutura da cúria não é mais clara”, diz Lombardi. “O processo é contínuo, e como será no final ninguém sabe. O secretário de Estado não é mais tão centralizador, e o papa trata de muitos assuntos que são geridos somente por ele, sem intermediação.”

Bravamente enfatizando o lado bom, o portavoz do Vaticano acrescenta: “Em certo sentido, isso é positivo, pois, no passado, se criticava o fato de alguém ter poder demais sobre o papa. Agora não podem mais dizer tal coisa”.

Como muitas instituições, o Vaticano é avesso a mudanças e desconfia de quem quer implementá- las. Desde o século 14, o epicentro católico tem sido uma cidade-estado murada de 44,5 hectares no meio de Roma. A Cidade do Vaticano há tempos é ímã para turistas, graças à Capela Sistina e à Basílica de São Pedro, e destino de peregrinação para 1,2 bilhão de católicos do planeta. Em outras palavras: o mundo vai até lá, e não vice-versa. Mas é também o que sua designação implica: uma entidade territorial autossuficiente, com seus próprios administradores municipais, força policial, tribunais, corpo de bombeiros, farmácia, correio, mercearia, jornal e time de críquete. Seus jornalistas, os vaticanisti, monitoram os vaivéns da instituição com o mesmo ceticismo penetrante dos repórteres políticos no resto do mundo. Sua força de trabalho reacionária não paga impostos sobre vendas na Cidade do Vaticano. Sua burocracia diplomática, como toda burocracia que se preze, recompensa bispos favoritos com cargos invejáveis enquanto relega os menos diletos a setores do mundo desoladores. Por séculos, a Cidade do Vaticano sobreviveu a conquistas, pestes, fomes, fascismo e escândalos. Os muros resistiram.

Um papa disponível

Agora vem Francisco, um homem que despreza muros e certa vez disse a um amigo quando passavam em frente à Casa Rosada, a residência presidencial da Argentina: “Como podem saber o que as pessoas comuns querem se constroem uma cerca em volta deles?” Bergoglio se empenha em ser o que Massimo Franco, que escreveu um livro sobre Francisco e o Vaticano, chama de “um papa disponível – uma expressão contraditória”. A própria ideia parece que faz empalidecer a face opaca do Vaticano. “Acho que ainda não vimos as verdadeiras mudanças”, diz Ramiro de la Serna, padre franciscano residente em Buenos Aires que conhece o papa há mais de 30 anos. “Também acho que ainda não vimos a verdadeira resistência.”

Os próceres do Vaticano estão, de fato, avaliando o homem. Tem sido um exercício tentador para eles interpretar as reações francas do papa como prova de que ele é puro instinto. “Totalmente espontâneos”, diz o porta-voz Lombardi sobre os muito comentados gestos de Francisco durante sua viagem ao Oriente Médio, entre eles abraçar um imame, Omar Abboud, e um rabino, seu amigo Skorka, depois de orar com eles diante do Muro das Lamentações. No entanto, Skorka revela: “Discuti isso com ele antes de partirmos para a Terra Santa. Eu disse: ‘É um sonho meu abraçar você e Omar ao pé do muro’”.

O fato de Francisco ter concordado de antemão em atender ao pedido do rabino não torna o gesto menos sincero, obviamente. Sugere a percepção de que cada ato e cada sílaba seus seriam analisados em busca de significado simbólico. Essa prudência condiz com o Jorge Bergoglio conhecido por seus amigos argentinos, que riem da ideia de que ele seja ingênuo. Eles o descrevem como um “enxadrista”, que tem cada dia “muito organizado”, no qual “cada passo foi totalmente pensado”. O próprio Bergoglio disse aos jornalistas Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin, vários anos atrás, que raramente seguia seus impulsos, pois, em suas palavras, “a primeira resposta que me vem à cabeça costuma ser errada”.

Mesmo nas mudanças aparentemente drásticas que Francisco trouxe ao estilo de vida, com bom senso ele fez concessões às realidades do Vaticano. Sugeriu que sua Guarda Suíça não precisaria segui-lo por toda parte, mas, desde então, se resignou com sua presença constante. (Costuma pedir aos guardas que tirem fotos dele com visitantes – outra concessão, pois há muito tempo Bergoglio se esquiva de câmeras.) Embora evite o papamóvel de vidros blindados usado depois que João Paulo II sofreu um atentado em 1981, ele reconhece que não pode mais andar de metrô nem se misturar ao povo nos guetos, como era seu famoso costume em Buenos Aires. Isso o fez lamentar, quatro meses depois de assumir o papado: “Sabem que muitas vezes anseio por caminhar pelas ruas de Roma, pois, em Buenos Aires, eu gostava de sair para andar na cidade. Gostava muito de fazer isso. Nesse sentido, me sinto um pouco engaiolado”.


Aclamado como o “primeiro papa latino”, Francisco é filho de italianos que emigraram para a Argentina. Como Jorge Mario Bergoglio, ele tinha a reputação de buscar estar perto do povo em Buenos Aires, onde nasceu, foi criado, entrou para a Ordem dos Jesuítas e se tornou cardeal. Ele ia a favelas e andava de metrô, como nesta foto de 2008 - Foto: Dave Yoder

Amigos dizem que, como chefe do Vaticano e argentino, ele se sente na obrigação de receber a presidente de seu país, Cristina Kirchner, mesmo sendo evidente para ele que Cristina usa essas visitas em proveito político próprio. “Quando Bergoglio recebeu a presidente com simpatia, foi por pura bondade”, comenta o pastor evangélico Juan Pablo Bongarrá, de Buenos Aires. “Talvez a visita não fosse necessária. Mas é assim que Deus nos ama, por pura bondade.”

Para Federico Wals, seu ex-assessor de imprensa, o início cuidadoso de Bergoglio no papado não foi nenhuma surpresa. Prenunciou-se já no modo como ele deixou seu cargo anterior. Percebendo que havia a chance de o conclave elegê-lo – afinal, ele ficara em segundo lugar quando Ratzinger fora eleito após a morte de João Paulo II, em 2005 –, o arcebispo viajou para Roma em março de 2013, conta Wals, “com todas as cartas terminadas, o dinheiro em ordem, tudo em perfeita forma. Na véspera da partida, ele ligou à noite só para discutir detalhes do cargo comigo e também para me dar conselhos sobre o meu futuro, como alguém ciente de que talvez estivesse partindo para sempre”.

Estava mesmo, e, apesar da serenidade que tem mostrado, Francisco encara suas novas responsabilidades com seriedade – temperada com a sua característica autodepreciação. Como ele comentou no ano passado a um ex-aluno, o escritor argentino Jorge Milia, “procurei muito na biblioteca de Bento, mas não consegui achar nenhum manual do usuário para o cargo. Por isso, eu me viro o melhor que posso”.

Francisco é um reformador, como a mídia gosta de retratá-lo. Um radical. Um revolucionário. Mas também não é nada disso. Seu impacto até o presente é tão impossível de passar despercebido quanto de ser medido. Francisco acendeu uma fagulha espiritual não apenas nos católicos mas em outros cristãos, em pessoas de outras fés e até em não crentes. Nas palavras do rabino Skorka, “ele está mudando a religiosidade no mundo inteiro”. O líder da Igreja Católica é visto por muitos como uma boa notícia para uma instituição que durante anos antes de sua chegada só tivera más notícias. “Dois anos atrás”, diz o padre Thomas J. Reese, jesuíta e analista sênior do noticioso National Catholic Reporter, “se você perguntasse a qualquer um na rua ‘O que a Igreja Católica defende e combate?’, ouviria ‘É contra o casamento gay, contra o controle da natalidade’ e coisas do tipo. Hoje, se você perguntar, as pessoas dirão ‘Ah, o papa é o cara que ama os pobres e não mora em palácio’. É uma proeza e tanto para uma instituição tão antiga. Costumo gracejar que a escola de negócios de Harvard poderia contratá-lo para ensinar como se reformula uma marca. E, cá entre nós, os políticos fariam qualquer coisa para ter uma taxa de aprovação como a dele.”

Obviamente, como podemos perceber ao falar com autoridades do Vaticano, não fica bem para uma instituição tão augusta o espetáculo de um culto à personalidade, como se o papa fosse um astro de rock. Para alguns, a popularidade de Francisco também é ameaçadora. Reforça o mandato dado a ele pelos cardeais, que desejavam um líder capaz de deixar de lado o pomposo distanciamento da Igreja e de expandir seu rebanho espiritual. Um deles, o cardeal Peter Turkson, de Gana, recorda: “Pouco antes do conclave, estávamos todos os cardeais reunidos, e trocamos ideias. Havia certo clima de ‘vamos ver se conseguimos uma mudança’. Era marcante. Ninguém disse ‘Basta de italianos ou de europeus’, mas o desejo de mudança estava lá”.

“O cardeal Bergoglio era ainda um desconhecido de todos os que ali estavam”, continua Turkson. “Mas então ele fez um pronunciamento – uma espécie de manifesto. Recomendou que pensássemos na Igreja que chega à periferia – não só a geográfica, mas a periferia da existência humana. Para ele, o Evangelho convida todos nós a ter esse tipo de sensibilidade. Essa foi a contribuição dele. E trouxe nova mentalidade ao trabalho pastoral, uma experiência diferente nos cuidados com o povo de Deus.”

Para aqueles que desejavam uma mudança, como Turkson, Francisco não decepcionou. Em dois anos, ele já nomeou 39 cardeais, dos quais 24 não são da Europa. Antes de fazer um causticante pronunciamento em dezembro passado enumerando as “doenças” que afetam a cúria (entre elas “vanglória”, “bisbilhotice” e “lucros mundanos”), o papa encarregou nove cardeais – apenas dois deles não pertencentes à cúria – de reformar a instituição. Classificando o abuso sexual na Igreja como um “culto sacrílego”, ele criou a Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores, chefiada por Seán Patrick O’Malley, arcebispo de Boston. Para trazer transparência às finanças do Vaticano, o papa escolheu um ex-jogador de rugby durão, o cardeal George Pell, de Sydney, Austrália, e nomeou-o prefeito da Secretaria de Economia – designação que deixa Pell no mesmo nível do secretário de Estado. Em meio a todas essas nomeações, o papa ainda fez um gesto notável de respeito pela velha guarda: manteve o cardeal Gerhard Müller, um linhadura nomeado por Bento, no cargo de chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, incumbida de salvaguardar as crenças da Igreja.


O papa chega em um carro comum e entra no Palácio Apostólico com o prefeito da Casa Pontifícia, Georg Gänswein. Esta costuma ser a moradia dos papas, mas Francisco prefere viver num apartamento modesto - Foto: Dave Yoder

Atos assim são muito significativos, mas é difícil dizer aonde levarão. As primeiras pistas fascinaram tanto os reformistas quanto os católicos mais tradicionais. Ao mesmo tempo que ele aceitou a renúncia de um bispo americano que foi o primeiro a ser condenado por não informar sobre suposto abuso sexual, Francisco nomeou para o bispado um padre chileno que teria encoberto os abusos sexuais de outro clérigo, provocando protestos na cerimônia de posse do bispo. Além disso, a reunião preliminar do Sínodo da Família convocada por Francisco em outubro passado não produziu nenhuma mudança doutrinária drástica, o que abrandou católicos conservadores que temiam exatamente isso. Mas o sínodo de outubro próximo poderá gerar um resultado diferente. Sobre a questão de revogar a proibição à comunhão para os católicos divorciados que não tiveram o casamento anulado, Juan Carlos Scannone, amigo e ex-professor do papa, comenta: “Ele me disse ‘Quero ouvir todos’. Então, ele vai esperar pelo segundo sínodo e vai ouvir todos. Mas, com certeza, é receptivo a mudanças”. Nas mesmas linhas, Norberto Saracco, o pastor pentecostal, debateu com o papa sobre a possibilidade de remover o sempre polêmico requisito do celibato para os padres. “Se ele conseguir sobreviver às pressões da Igreja agora e aos resultados do Sínodo sobre a Família em outubro, creio que depois disso estará pronto para falar sobre celibato”, diz Saracco. Quando pergunto se o papa lhe disse isso ou se ele está afirmando por intuição, Saracco responde com um sorriso astuto: “É mais que intuição”.

Por outro lado, os ouvintes do papa Francisco podem interpretar suas palavras e seus gestos como bem entenderem. Para um homem de falas e hábitos tão simples, isso parece irônico. Mas também não é novidade.

O papa vai mudar a Igreja? Ou a Igreja vai mudar o papa?

Em 2010, Yayo Grassi, um fornecedor de refeições residente em Washington, DC, mandou um zangado e-mail a seu exprofessor, o arcebispo de Buenos Aires. Grassi, que é gay, lera que seu querido mentor havia condenado a legislação destinada a permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. “O senhor foi meu guia, sempre ampliou os meus horizontes, moldou os aspectos mais progressistas da minha visão de mundo”, escreveu Grassi. “E ouvir isso de sua parte é uma tremenda decepção.” O arcebispo respondeu por e-mail – embora, sem dúvida, tenha dado um rascunho redigido com sua letra miúda a seu secretário digitar, já que o papa Francisco, naquela época como hoje, nunca navegou na internet, nunca usou computador nem possui telefone celular. (Todos os dias, a assessoria de imprensa do Vaticano prepara os tuítes nas nove contas @Pontifex, que ele tem no Twitter, com 20 milhões de seguidores, e os publica com a aprovação do papa.) O papa começou dizendo que as palavras de Grassi o tinham afetado profundamente. A posição da Igreja Católica quanto ao casamento era o que era, rigorosa e doutrinária. Contudo, doía-lhe saber que havia desgostado seu aluno. O ex-maestrillo de Grassi assegurou a ele que a mídia deturpara toda a sua posição. Acima de tudo, disse o futuro papa em sua resposta, em sua obra pastoral não havia lugar para a homofobia.

Essa correspondência nos dá um vislumbre do que podemos e não podemos esperar de seu papado. No fim, Bergoglio não repudiou sua posição contrária ao casamento gay, que, como ele escreveu em uma daquelas cartas, vê como ameaça “à identidade e à sobrevivência da família: pai, mãe e filhos”. Nenhum das dezenas de amigos que entrevistei acredita que Francisco modificaria a postura da Igreja nessa questão.

O que renovou a reverência de Grassi por seu ex-professor é justamente aquilo que hoje fascina multidões na Praça de São Pedro e, sem dúvida, terá o mesmo efeito em setembro, quando ele for aos Estados Unidos. É a brancura cegante de sua veste papal, reinventada para simbolizar uma simplicidade acessível. É a afinidade do porteño com as ruas combinada à crença do jesuíta no convívio intenso com a comunidade. Esse encontro envolve procurar e ouvir e requer a coragem da humildade – uma tarefa mais árdua que a publicação impessoal de éditos. É o que impeliu Bergoglio a se ajoelhar e pedir orações a milhares de cristãos evangélicos. É o que o deixou de olhos marejados ao visitar uma favela em Buenos Aires onde um homem declarou saber que o arcebispo era um deles porque o tinha visto viajando nos fundos do ônibus. É o que o levou, quando papa, a não querer que um padre albanês preso e torturado por seu governo lhe beijasse a mão, e, em vez disso, ele é que tentou beijar a mão do padre e depois chorou sem disfarce abraçado a ele. E é o que estarreceu milhões de pessoas dois anos atrás, quando Francisco, em seu emblemático momento retórico, proferiu estas simples e espantosas palavras em branda resposta a uma pergunta sobre padres gays: “Quem sou eu para julgar?”

Quem sabe seja essa a verdadeira missão do novo papa: desencadear uma revolução dentro e fora dos muros do Vaticano, sem contudo derrubar nenhuma porção de preceitos históricos arraigados. “Ele não vai mudar a doutrina”, garante Ramiro de la Serna, seu amigo argentino. “O que ele vai fazer é devolver a Igreja à sua verdadeira doutrina: a doutrina que ela esqueceu, a que prioriza o homem. A Igreja valorizou o pecado por tempo demais. Devolvendo ao centro o sofrimento do homem e sua relação com Deus, essas atitudes severas com a homossexualidade, o divórcio e outras coisas começarão a mudar.”

Por outro lado, o homem que disse aos amigos que precisava “começar a fazer mudanças agora mesmo” não tem o tempo a seu favor. Seus velhos amigos argentinos não se surpreenderam quando ele comentou, em meados deste ano, que seu papado talvez dure apenas “quatro ou cinco anos”, pois sabem que Jorge Mario Bergoglio gostaria de terminar seus dias em sua terra natal. Essas palavras decerto trouxeram alívio aos linhas-duras do Vaticano, que tudo farão para desacelerar os esforços de Francisco pela reforma da Igreja e torcerão para que seu sucessor venha a ser um adversário menos arrojado.

Ainda assim, essa revolução, bem-sucedida ou não, é sem igual, mesmo que seja só pela alegria inquebrantável com que vem sendo implementada. Quando o novo arcebispo de Buenos Aires, o cardeal Mario Poli, comentou com Francisco durante uma visita à Cidade do Vaticano que era extraordinário ver seu amigo outrora tão sisudo com um sorriso onipresente, o papa refletiu bastante nessas palavras, como sempre faz.

E então Francisco, com um sorriso, apenas disse: “Ser papa é muito divertido”.

Receita aponta que Eduardo Cunha, mulher e filha possuem aumento incompatível de bens, diz jornal

HuffPost Brasil  |  De Thiago de Araújo



Um relatório sigiloso da Receita Federal aponta que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a sua mulher, Cláudia Cruz, e a sua filha, Danielle Dytz da Cunha, acumularam um patrimônio de R$ 1,8 milhão entre 2011 e 2014. Tais bens, segundo a Receita, seriam incompatíveis com os rendimentos da família Cunha.

A denúncia foi feita na edição desta quinta-feira (7) do jornal Folha de S. Paulo. A reportagem da publicação teve acesso ao relatório datado em 29 de outubro de 2015, no qual consta a investigação conduzida pela Divisão de Análises Especiais (Diaes) da Receita. Ao chamar o crescimento patrimonial de ‘a descoberto’, os auditores indicam que o salário bruto de R$ 33,7 mil como deputado não justifica os bens de Cunha no período de três anos.

O presidente da Câmara é investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na Operação Lava Jato, por supostamente ter recebido dinheiro de propina em contas no exterior, as quais não foram declaradas às autoridades brasileiras e que foram utilizadas para pagar gastos da família Cunha em cursos fora do Brasil.

“Os montantes dos indícios apontados estão significativamente influenciados pelos gastos efetuados com cartão de crédito”, afirma trecho do relatório, de acordo com a Folha. Especialistas ouvidos pelo jornal dizem que não significa automaticamente que Cunha cometeu sonegação fiscal, mas pode ser o início para a investigação dos auditores da Receita.

À Folha, a assessoria de Cunha negou qualquer irregularidade em suas declarações à Receita. Como já havia informado no ano passado, o peemedebista atribui a negócios na África nos anos 90 os seus recursos depositados em trustes no exterior, dos quais se diz somente ‘usufrutuário’.

No início de fevereiro, com o fim do recesso do Supremo Tribunal Federal (STF), deve ser analisado o pedido de afastamento de Cunha da presidência da Câmara, feito pelo procurador-geral Rodrigo Janot. Expira ainda o prazo de defesa do deputado na ação que pede o seu indiciamento com base nas apurações da Lava Jato – o que pode torná-lo réu, caso o processo seja oficialmente aberto pelo relator, ministro Teori Zavascki.

Anvisa suspende comercialização de shampoos e condicionadores

Da Agência Brasil Edição: Beto Coura


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária suspendeu a fabricação, a distribuição, a divulgação e a comercialização de todos os produtos da empresa Lord Tech Cosméticos.

Segundo a agência reguladora, os produtos são fabricados por uma empresa desconhecida e distribuídos pela Lord Tech, que não tem autorização de funcionamento e está situada em local incerto.

A Anvisa determinou ainda a apreensão e inutilização dos produtos da marca que ainda estão no mercado. As medidas saíram no Diário Oficial da União de hoje (7).

O condicionador Chá Verde Cabelos Oleosos Nutraactive, da Pétalas Cosméticos Indústria e Comércio, também teve fabricação, distribuição, divulgação e comercialização suspensos pela Anvisa.

Neste caso, segundo a agência reguladora, o fabricante havia pedido o cancelamento da autorização para fabricação do produto, porém, depois do cancelamento ainda produziu o condicionador. A determinação prevê, ainda, que a empresa promova o recolhimento do estoque existente no mercado.

Procuradas pela reportagem, nenhuma das empresas quis se manifestar.



Dilma diz que Brasil vai ter que encarar a reforma da Previdência

Ana Cristina Campos – Repórter da Agência Brasil Edição: Juliana Andrade


Em café da manhã com jornalistas, Dilma disse que o país vai ter que encarar a reforma da PrevidênciaIchiro Guerra/PR

A presidenta Dilma Rousseff disse hoje (7) que o Brasil vai ter que “encarar” a reforma da Previdência Social. Segundo ela, a população brasileira está envelhecendo, e a expectativa de vida do brasileiro aumentou nos últimos anos em torno de 4,6 anos.

“Vamos ter que encarar a reforma da Previdência. Não é possível que a idade média de aposentadoria no Brasil seja 55 anos. Para a mulher, um pouco menos. Não é possível por uma questão quantitativa. Vai ter menos gente trabalhando no futuro para sustentar mais gente sem trabalhar: os mais velhos que vão ter uma longevidade maior e os mais novos, que estão nascendo”, afirmou Dilma, em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.

Segundo a presidenta, há várias formas de lidar com a questão da Previdência. “Os países desenvolvidos buscaram aumentar a idade mínima de acesso à aposentadoria. Tem outro caminho que é o 85/95 móvel, progressivo, que resultará na mesma convergência. Em todos os dois casos, uma coisa vai ter de ser considerada: não se pode achar que se afetam direitos adquiridos.” Dilma destacou que a estabilidade e a segurança jurídica preveem que os direitos já adquiridos devem ser preservados.

As novas regras para o cálculo da aposentadoria, sancionadas em novembro, levam em consideração a soma da idade e o tempo de contribuição do segurado, a chamada regra 85/95 progressiva. Alcançados os pontos necessários, o trabalhador irá receber o benefício integral, e não haverá a aplicação do fator previdenciário.

A fórmula 85/95 significa que o trabalhador pode se aposentar, com 100% do benefício, quando a soma da idade e tempo de contribuição for 85, no caso das mulheres, e 95, no caso dos homens. A partir de 31 de dezembro de 2018, essa fórmula sofrerá o acréscimo de um ponto a cada dois anos. A lei limita esse escalonamento até 31 de dezembro de 2026 quando a soma para as mulheres passará a ser de 90 pontos e para os homens, de 100 pontos. O tempo mínimo de contribuição permanece de 30 anos para as mulheres e de 35 anos para os homens.

Na conversa com jornalistas, Dilma acrescentou que outra preocupação do governo será o tempo de transição para as novas regras de aposentadoria que leve em conta tanto direitos adquiridos quanto a expectativa de direitos de quem já está no mercado de trabalho. “Pretendemos abrir esse debate chamando o Fórum de Trabalho e Previdência composto por trabalhadores, governo, empresários e Congresso”, completou a presidenta.

Perguntada se haverá viabilidade política para que uma reforma da Previdência seja aprovada no Congresso em ano eleitoral, Dilma afirmou que “a oposição no Brasil tem de ter um mínimo de compromisso com o país”.

“Se os partidos políticos de oposição não tiverem um mínimo de compromisso com o país, eu acho que a sociedade brasileira tem maturidade suficiente também para desfazer a crítica porque estariam tendo um comportamento que coloca seus interesses eleitorais na frente dos interesses do país. É responsabilidade do governo em propor. Mas a responsabilidade também é da oposição em encaminhar de um jeito do quanto pior melhor, que tem sido a característica no último ano, ou ter uma atitude construtiva com o país”, disse.


Dilma afirma que equilíbrio fiscal é essencial para reduzir inflação

Ana Cristina Campos e Danyele Soares – Repórteres da EBC Edição: Carolina Pimentel


Presidenta Dilma Rousseff durante café da manhã oferecido aos jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto Ichiro Guerra/PR

A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (7), em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, que o equilíbrio fiscal é essencial para reduzir a inflação. O objetivo do governo é trazer a inflação “o mais rápido possível” para o centro da meta de 4,5%. “Com o equilíbrio fiscal, é possível garantir o superávit de 0,5% [do Produto Interno Bruto (PIB)] e criar condições para trazer a inflação para o centro da meta”. O superávit primário é a economia feita pelo governo para pagar os juros da dívida pública.

Segundo a presidenta, questões de política interna, como a aprovação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), são mais importantes que a discussão sobre o impeachment aberto contra ela na Câmara dos Deputados. “O Brasil não pode parar [por causa do processo]”.

Dilma afirmou que é preciso desmentir “um mito”: de que a carga tributária no país vem crescendo. “Pelo contrário, está em 33,4%. Considerando só os impostos federais, cai para 22% e se desse valor for retirado o que vai para Previdência, Sistema S e FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço], o montante vai ao que era a carga tributária em 2002”.

A presidenta espera que este ano seja melhor que 2015 e destacou que vai se esforçar para retomar o crescimento e garantir a estabilidade econômica.

Dilma está a caminho de Porto Alegre onde nasceu hoje cedo seu segundo neto, Guilherme.