Professor diz que Anísio Teixeira pode ter sido morto por torturadores

Sayonara Moreno - Correspondente da Agência Brasil Edição: Beto Coura



Esquerda para a direita: Joviniano Neto, João Rocha e Haroldo LimaSayonara Moreno / Agência Brasil 

O relatório que coloca em dúvida a versão inicial da morte do educador baiano Anísio Teixeira foi apresentado hoje (11), em Salvador, 45 anos depois que um laudo da polícia atestou que ele morreu em um acidente, no Rio, cidade onde morava. O relatório indica que Anísio Teixeira pode ter sido morto por torturadores.

Anísio Teixeira foi um escritor e educador brasileiro. Ao lado de Darcy Ribeiro, fundou a Universidade de Brasília (UnB), da qual foi reitor em 1963. No dia de sua morte, ele saiu da Fundação Getúlio Vargas, onde trabalhava, e foi andando até o prédio onde morava Aurélio Buarque de Hollanda, no Edifício Duque de Caxias, no bairro de Botafogo. Lá, conversariam sobre a candidatura de Teixeira para a Academia Brasileira de Letras.

Apesar de não ter sido visto no edifício, o corpo dele apareceu no fosso do elevador, dois dias depois do desaparecimento. As novas análises sustentam a suspeita de que Teixeira teria sido morto pela repressão militar, durante o governo do então presidente Emílio Médici. Anísio Teixeira teria sido levado para depor na Aeronáutica, com a promessa de que seria liberado depois.

Mas o escritor e professor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia João Augusto de Lima Rocha contesta a versão oficial. Ele obteve acesso ao laudo do Instituto Médico-Legal e às fotos do corpo de Anísio Teixeira. A partir daí, começou a estudar os documentos, as imagens e se baseou, também, em depoimentos de pessoas próximas ao educador.

Segundo o professor, a versão sustentada até agora era de que Anísio Teixeira morreu após cair no fosso de um elevador, no prédio onde morava o dicionarista Aurélio Buarque de Hollanda, em 1971.


Anísio Teixeira Imagem cedida pela Comissão Nacional da Verdade

“Ele não chegou à casa do Aurélio e, quando a família o procurou, os funcionários do condomínio disseram não ter visto Teixeira entrar no prédio. Mas quando foi no dia 13 de março, o corpo dele apareceu no fosso do elevador. Então, a suspeita começa daí, porque se ele não chegou à casa do Aurélio e o corpo aparece lá, dois dias depois, há suspeita”, diz o professor, que é também sobrinho-neto do educador.

João Rocha conta que trabalhou em cima de outra contradição, porque, segundo informações que chegaram a ele, Anísio Teixeira prestou depoimento em um quartel da Aeronáutica, no Rio, no dia 12 de março, um dia depois do desaparecimento dele.

“O que estou provando, agora, é que a versão da queda é falsa. O resto – quem matou, como e por que matou –, deixaremos para a comissão de mortos e desaparecidos, em um pedido formal para que investiguem”, completa Rocha.

As análises foram possíveis porque, segundo João Rocha, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) teve acesso ao laudo da perícia do cadáver de Anísio Teixeira, e às fotos tiradas depois que o corpo apareceu no fosso do elevador.

“A CNV me passou esses documentos, e pelas imagens fica claro que ele não caiu [do elevador]. A minha hipótese básica é de que ele morreu por tortura, e depois deram alguns golpes no cadáver, para simular a queda”, afirma o sobrinho-neto de Anísio.

Haroldo Lima, também sobrinho do intelectual nascido em Caetité, Bahia, disse que os próximos passos para as investigações serão muito importantes para os intelectuais do Brasil.

“Anísio foi um estadista da educação e fez muito pela ideia da educação pública, universal e gratuita. Era tido como comunista e dono de ideias perigosas. No final dos estudos, João demonstra que naquele elevador, Anísio não morreu. Gostaríamos que o Estado brasileiro se debruçasse sobre esse fato para apurar as verdadeiras causas da morte de Anísio Teixeira”, declara Lima.

Laudo médico

Laudo sobre a morte de Anísio TeixeiraImagem cedida pela Comissão Nacional da Verdade

Segundo o laudo médico da perícia feita em 1971 e assinado pelo legista João Guilherme Figueiredo, foi possível afirmar que a versão sustentada pelo governo da época não é verdade, de acordo com os estudiosos.

As análises mostram que a posição do corpo, os ferimentos na cabeça e a disposição dos objetos pessoais de Anísio Teixeira não correspondem ao que seria uma queda. As imagens mostram que os óculos, por exemplo, têm uma das hastes dobradas e estão aparentemente intactos mesmo depois da suposta queda de quatro metros de altura. A hipótese é de que o corpo e os objetos teriam sido depositados no local, para simular um acidente.

“Hoje, comprova-se, documentalmente e fotograficamente, com laudos periciais, que não é verdade que Anísio Teixeira tenha caído no poço daquele elevador. Vamos pedir à Comissão de Mortos e Desaparecidos que inclua o nome de Anísio Teixeira na lista de mortos da ditadura militar e prossiga com as investigações”, disse o coordenador da Comissão Estadual da Verdade, na Bahia, Joviniano Neto.