Princesas da Disney tem cada vez menos falas que personagens homens, aponta estudo

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Com exceção de Aladdin, todos os longas de princesas Disney são protagonizados por mulheres. Isso não significa, porém, que elas tenham tanta voz quanto os personagens masculinos.

As pesquisadoras Carmen Fought, do Pitzer College e Karen Eisenhauer, da North Carolina State University analisaram diálogos dos filmes de princesas Disney.


Descobriram que, de um modo geral, quanto mais novo o filme, menos machistas são os elogios que outros personagens fazem às princesas. Porém, apesar dos filmes serem protagonizados por mulheres, coadjuvantes masculinos quase sempre têm mais tempo de fala -- e isso está piorando com o tempo.

Histórico

Para chegar a esta conclusão, as pesquisadoras dividiram os filmes em três categorias: a Clássica, de Branca de Neve (1959) a A Bela Adormecida (1959); Renascentista, de A Pequena Sereia (1989) a Mulan (1998); e a Nova Era, de A Princesa e o Sapo (2009) a Frozen (2013).

Cinderela (1950), é o ÚNICO filme em que há o mesmo número de personagens femininas e masculinas. Em todos os outros, há mais homens que mulheres.

Para Carmem, essa desproporção não acontece só nos filmes infantis: é um reflexo da realidade. “Quando pensamos em médicos e advogados, por exemplo, a imagem que nos vêm à cabeça é de homens, mesmo com tantas mulheres nessas profissões”, afirma.

Surpresas sobre a diferença geracional

Ironicamente, as pesquisadoras descobriram que nos três filmes do período Clássico, as mulheres falaram tanto quanto ou mais que os homens. Em Branca de Neve, 50% das falas saem da boca de mulheres. Em Bela Adormecida, a proporção é de 71%.

A Pequena Sereia contrariou as expectativas. Mesmo que Ariel seja lembrada como uma princesa rebelde e subversiva em relação às anteriores, menos de 30% das falas do filme são femininas.

O período Renascentista -- no qual A Pequena Sereia está inserido, retrocedeu fortemente em quantidade de palavras ditas por personagens femininas, chegando ao ápice em Aladdin, com 90% da predominância de voz masculina.



Mesmo nos filmes da Nova Era, que procuram quebrar a ideia da mulher na busca incessante pelo casamento, a discrepância entre a presença de personagens femininas e masculinas ainda é grande.

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Em Valente (2009), um filme que conta, em sua essência, a história de uma mãe e filha; e Frozen (2013), que fala sobre o amor entre duas irmãs, o número de homens é quase o dobro do de mulheres.

"Os filmes mais recentes mostram evolução em algumas áreas. Em geral, as ideias estão sendo atualizadas. A ideia de ser salva por um homem parece ter mudado, e o casamento como meta única também. ". Um exemplo é Tiana, de A Princesa e o Sapo, cujo sonho é ter um restaurante", explica Carmen.

A luta contra a objetificação no discurso

Carmen e Karen analisaram também os elogios ditos para as princesas, para verificar se elas eram exaltadas apenas pela aparência ou também por suas habilidades.

A tendência se mostrou positiva nessa questão! Mais de metade dos elogios (55%) a princesas do período Clássico são ligados à aparência. Já no período Renascentista isso caiu pra 38%. Cerca de um quarto dos elogios eram relacionados às habilidades e feitos das princesas.




Na Nova Era, a lógica finalmente se inverteu. Pela primeira vez as personagens mulheres foram mais elogiadas por sua inteligência e realizações (40%) do que por sua aparência física (apenas 22%).

Parte disso tem a ver com a participação de profissionais mulheres no roteiro e na direção dos novos filmes. Frozen e Valente são ambos escritos e dirigidos por mulheres ou por um time em que mulheres estão inclusas.

“Os filmes do período Renascentista, como A Pequena Sereia e A Bela e a Fera foram muito falados como sendo filmes com mulheres mais fortes e independentes. Ok, isso é legal, mas esses filmes são realmente bons para meninas assistirem?”, questiona Carmen. “Quando você começa a olhar pra esses tipos de coisa, você passa a questionar todos os problemas e como eles influenciam o comportamento das meninas.”