CNBB volta a criticar aborto em caso de microcefalia

Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil Edição: Maria Claudia


Os presidentes da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Nestor Paulo Friedrich, da CNBB, dom Sérgio da Rocha, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), dom Flávio Irala, e o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, no lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 Elza Fiuza/Agência Brasil

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Sérgio da Rocha, voltou a criticar hoje (10) o aborto em casos de microcefalia de bebês, causada pelo vírus Zika.  “O aborto não é resposta para o vírus Zika, nós precisamos valorizar a vida em qualquer situação ou condição que ela esteja. Menos qualidade de vida não significa menor direito a viver ou menos dignidade humana”, disse.

O combate ao vírus Zika, para dom Sérgio, deve ser feito ao mesmo tempo, combatendo outras enfermidades provocadas pelo Aedes Aegypti, como dengue e Chikungunya. “E que isso seja feito mobilizando a população com medidas preventivas e campanhas educativas, mas sobretudo com o empenho do poder público”.

A intensa circulação do vírus no Brasil e a possível associação da infecção em gestantes com casos de microcefalia reacendeu o debate sobre o aborto no país.

Dom Sérgio da Rocha participou hoje do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016. Com o tema “Casa comum, nossa responsabilidade” e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”, a campanha tem foco no saneamento básico, no desenvolvimento, na saúde integral e na qualidade de vida.

“Infelizmente, a nossa casa comum está sendo assolada pelo mosquito transmissor de doenças e nossa família comum está sofrendo e morrendo por causa das enfermidades. A falta de saneamento básico está ligado à proliferação do mosquito [Aedes aegypt]”, disse dom Sérgio.

Na semana passada, a CNBB já havia se manifestado sobre o tema, lamentando que “alguns julguem que a solução para esses casos seja o aborto de bebês com microcefalia” e que isso representa total desrespeito ao dom da vida e às pessoas com algum tipo de limitação, apesar de entender a extrema gravidade da situação vivida por gestantes em todo o país.

Por outro lado, no Brasil, um grupo composto por advogados, acadêmicos e ativistas prepara uma ação, a ser entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), que cobra o direito de interromper a gravidez em casos em que a síndrome for diagnosticada nos bebês.

O Alto-Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) também defendeu que países com surto do vírus Zika autorizem o direito ao aborto em casos de infecção em gestantes. “Claramente, conter a epidemia de Zika é um grande desafio para os governos na América Latina”, disse o alto-comissário da ONU, Zeid Ra’ad Al Hussein, em coletiva de imprensa em Genebra no último dia 5. “Entretanto, a orientação de alguns governos para que mulheres adiem a gravidez ignora a realidade de que muitas delas simplesmente não podem exercer controle sobre quando e em que circunstâncias ficar grávida.”