Maioria do Copom diz que incertezas justificam monitoramento da economia

Kelly Oliveira – Repórter da Agência Brasil Edição: Denise Griesinger


A maioria dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) considerou que a recente elevação das incertezas internas e, principalmente, externas justifica continuar monitorando a evolução do cenário macroeconômico para definir os próximos passos na estratégia de política monetária (definição da taxa básica de juros, a Selic). A informação consta da ata da última reunião do Copom, divulgada hoje (28) pelo BC. No último dia 20, por seis votos a dois, o comitê decidiu manter a taxa Selic em 14,25% ao ano.

Uma das incertezas citadas pelo Copom está relacionada à velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais. O BC também considerou que o processo de realinhamento de preços relativos “mostrou-se mais demorado e mais intenso que o previsto”. Além disso, a ata cita "as incertezas em relação ao cenário externo [que] se ampliaram, com destaque para a crescente preocupação com o desempenho da economia chinesa e seus desdobramentos e com a evolução de preços no mercado de petróleo”.

Para os seis membros do Copom que votaram pela manutenção da Selic é necessário “acompanhar os impactos das recentes mudanças" nos ambientes doméstico e externo no balanço de riscos para a inflação, o que, combinado com os ajustes já implementados na política monetária [elevações da Selic], pode fortalecer o cenário de convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017”.

Na opinião dos dois diretores que votaram pelo aumento da Selic em 0,5 ponto percentual “seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação e reforçar o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias”.

Votaram pela manutenção da taxa Selic o presidente do BC, Alexandre Tombini, e cinco diretores: Aldo Luiz Mendes (Política Monetária), Altamir Lopes (Política Econômica), Anthero Meirelles (Fiscalização), Luiz Edson Feltrim (Relacionamento Institucional, Cidadania e Administração) e Otávio Damaso (Regulação). Os diretores Sidnei Marques (Organização do Sistema Financeiro) e Tony Volpon (Assuntos Internacionais) votaram pela elevação da Selic em 0,5 ponto percentual.

A última reunião do Copom foi cercada de polêmica. No primeiro dia de reunião (19), Tombini decidiu divulgar comentário sobre as revisões de projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia brasileira. Em nota, ele disse que as revisões das projeções foram significativas e seriam consideradas na decisão do Copom. O FMI aumentou a projeção de queda da economia brasileira, este ano, de 1% para 3,5%. Em 2017, a expectativa é de estabilidade, com estimativa de crescimento zero do Produto Interno Bruto (PIB), contra a expectativa de crescimento de 2,3%, divulgada em outubro do ano passado.

A fala do presidente do BC em dia de reunião do Copom é incomum e indicou uma mudança de direção em relação à Selic. Com isso, os analistas, que esperavam aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, mudaram as apostas para alta de 0,25 ponto percentual ou estabilidade da Selic. Analistas criticaram a comunicação do BC que, anteriormente, informou que adotaria as medidas necessárias para controlar a inflação, ou seja, elevar a Selic. Para alguns analistas, o BC estaria cedendo a pressões ao mudar a comunicação e tomar a decisão de manter a Selic em 14,25% ao ano.