Renan: 'Não tem sequer uma franja, uma prova' para abrir impeachment

Estadão Conteúdo




Em um encontro com artistas, intelectuais e parlamentares nesta quinta-feira (17), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou não haver "uma franja" de indício para que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), autorizasse a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. As declarações de Renan constam de vídeo postado no Youtube e também foram confirmadas por três participantes do encontro ao Broadcast.

"Não é constitucional - e os senhores têm absoluta razão - é você botar para andar um processo de impeachment cuja caracterização do crime de responsabilidade não existe. Não tem sequer uma franja, um indício, uma evidência, uma prova, nada", disse o peemedebista.




Renan destacou ainda que seu papel, como presidente do Senado e do Congresso, é "garantir a democracia". "Não tenho absolutamente nenhuma dúvida disso. Nós vamos em todos os momentos, nas maiores e menores dificuldades, somar esforços nessa direção", afirmou ele, sob aplausos dos presentes.

A conversa durou cerca de 25 minutos. No encontro, que começou por volta das 14h30, conforme relatos de presentes, o teólogo Leonardo Boff fez uma introdução sobre o manifesto em defesa do mandato de Dilma. O grupo entregou uma cópia do documento para Renan. E, sem ter sido instado, o próprio peemedebista se posicionou contrariamente à decisão do colega da Câmara.

O grupo comemorou a manifestação de Renan. "Se por acaso chegar (o processo de impeachment), e acho que não chega, o Senado vai redefinir a posição", disse Fátima Bezerra. "Pelo papel que ele (Renan) exerce nesse momento, tem um peso do ponto de vista político muito importante", completou.

O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), outro participante da reunião, disse que o presidente do Senado foi firme nas suas declarações. "O presidente Renan demonstrou com sua declaração respeito à Constituição e ao Estado de Direito, ao se declarar contrário ao golpe, sem abrir mão das críticas necessárias em relação à necessidade de mais mudanças no governo da presidenta Dilma", disse.

Nos bastidores, Renan já vinha se manifestando contra o impedimento de Dilma, mas, pela primeira vez, é revelada uma fala dele nesse teor. O peemedebista é o principal aliado do governo para barrar o impeachment no Congresso. O cacife dele também aumentou desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o Senado tem poderes para arquivar uma eventual decisão da Câmara de instaurar o processo de impedimento contra a presidente.

O encontro do peemedebista com o grupo ocorreu por volta das 14h30, pouco depois de Renan ter almoçado no Palácio do Alvorada com Dilma e os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). Na ocasião, a presidente o agradeceu por ter desafiado o vice Michel Temer que, na avaliação do governo, faz movimentos escancarados em defesa do impeachment.