Lázaro Ramos: Jovens de periferia merecem ouvir que são 'possíveis, bonitos e capazes' (VÍDEO)


O filme Tudo Que Aprendemos Juntos (Gullane e Fox Film do Brasil), de Sérgio Machado, conta a história de Laércio (Lázaro Ramos), um rígido professor de música que após um insucesso num teste para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) acaba num projeto experimental na comunidade de Heliópolis, na zona sul de São Paulo.

Seguindo a trilha do seminal Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, boa parte do elenco é formada por jovens das periferias paulistanas e que não tinham contato anterior com o cinema ou teatro. Mas, diferentemente da obra de 2002, a mensagem em meio às dificuldades são mais positivas.


Kaique Oliveira e Elzio Vieira são dois dos destaques do filme


O HuffPost Brasil conversou com Sérgio e Lázaro justamente sobre como se desenvolveu essa esperança narrada pelo roteiro e pelas atuações da juventude do filme. Se antes eram despreparados e lutavam para sobreviver, a música clássica deu a eles um motivo para respirar. A conversa na íntegra você acompanha no vídeo acima.

"O Instituto Baccarelli, que inspira o filme, é um lugar de esperança. Fui lá em 2012 quando fui filmar e voltei agora para lançar o filme e vi o mesmo vigor e a mesma transformação naqueles jovens, naquelas crianças que às vezes tiveram somente um olhar mais afetuoso para elas. Não é somente aula de violino, aula de música. É também um olhar cidadão. Dizer para ele: você é possível, você é bonito, você é capaz. Injeção de autoestima, injeção de crença, é receber aplauso", conta Lázaro.

Sérgio diz que chegou a chorar quando ouviu de seus atores de periferia a vida que levavam. "Fiquei muito assustado. A quantidade de sofrimento, de problemas que vi ali, não imaginava que poderia haver. Aqueles meninos sofreram mais com 16 ou 17 anos do que a maioria dos adultos. Fiquei muito transtornado. Voltei para casa chorando."

Sobre as expectativas da juventude que pena muito para fugir da criminalidade e tentar um lugarzinho ao sol, os dois veem um paralelo com as ocupações que tomam as escolas públicas do Estado de São Paulo nas últimas semanas. "Estou acompanhando com muita alegria, com muito otimismo essas ocupações. É o que o Brasil precisa", conta Sérgio. Lázaro embarca: "Muita gente fala da 'geração nem-nem', nem trabalha nem estuda, mas quando você o lado dessa nação que se transforma e quer transformar a sua comunidade, isso dá esperança."

A ideia de retratar a violência, mas não torná-la a única narrativa das histórias nas periferias brasileiras, também não é ao acaso. O motivo? Equilibrar os fatos e as narrativas, diz Lázaro:

"Periferia não é só uma coisa, favela não é somente uma coisa. Esse filme é quase um documento de uma coisa que aconteceu ali [em Heliópolis]. Tudo que está ali é o que está ali nós vivemos, nós vimos. A opção por mostrar esse extrato das coisas que nos completam - e não o extrato das faltas - é muito importante para a história atual do cinema brasileiro."

Lázaro no papel do professor Laerte. Ator diz que foi até Heliópolis para aprender

Além de encher de elogios os meninos pelo ótimo desempenho frente às câmeras e pelo extremo profissionalismo, Sérgio pede que a oportunidade e o acesso à cultura sejam um lema sério nas comunidades mais necessitadas.

"Esses meninos não são o problema do País. Eles são a solução. Eles são um foguete e estão tão ansiosos por uma oportunidade que, se você injetar um mínimo de autoestima, não tem limite. Todo mundo precisa disso, de uma força. E é uma coisa não se tem mais controle. Eles ocupam. Ocupam o coração da gente, escolas... É isso aí."

Tudo que Aprendemos Juntos fala de sinfonia, de Bach, de relações, perdas e vitórias. Mas, acima de tudo, tem o dom de prever o sentimento que tomaria as escolas de São Paulo.

O filme estreia nesta quinta-feira (3) em cem salas de cinema de todo o Brasil.


Fonte: HuffPost Brasil