Doença da atriz Tônia Carrero pode ser mais comum do que se imagina

HuffPost Brasil  |  De Andréa Martinelli



Aos 93 anos, a atriz Tônia Carrero, um dos principais nomes da televisão, do teatro e do cinema brasileiros, reapareceu em uma foto ao lado de familiares na noite de Natal e levantou dúvidas -- e preocupações -- sobre o seu estado de saúde.

A imagem, publicada no último sábado (26), mostra Tônia debilitada, sentada em uma poltrona e segurando a mão de uma integrante da família.




Em entrevista ao UOL, o ator e diretor Leonardo Thierry, sobrinho da atriz, explicou o estado de saúde dela:

"Ela não anda mais, se desloca em cadeira de rodas e raramente fala, o que leva muita gente a achar que ela não está lúcida, mas ela está".

Ele disse ainda ao UOL que, em 2000, a atriz foi diagnosticada com hidrocefalia oculta.

Após cirurgias, a atriz voltou para o teatro e televisão. Mas, atualmente, mesmo com o quadro estável, necessita de cuidados e faz fisioterapia regularmente.

Segundo o sobrinho, ela teve gripe e muita tosse dias antes do Natal, por isso apareceu abatida na imagem publicada nas redes sociais.

O ator Cécil Thiré, filho de Tônia, falou pela primeira vez sobre o estado de saúde da mãe ao jornal Extra e confirmou que, devido a doença, "ela não se comunica mais" e nem consegue "andar normalmente".

Ainda ao jornal Extra, o Leonardo Thierry ainda esclareceu boatos de que Tônia não sofre de Alzheimer:

"O neurologista dela é categórico neste ponto: ela não tem Alzheimer", disse.

Esta é a primeira aparição de Tônia desde setembro, quando comemorou 93 anos com a família.

No final de junho deste ano, parentes publicaram uma foto com a atriz para desmentir boatos de que ela havia morrido:




Tônia está afastada da TV desde 2004, quando fez uma participação especial na novela Senhora do Destino.

Seu trabalho mais recente como atriz foi no filme Chega de Saudade (2008).

Atualmente, Tônia mora no Rio de Janeiro com o sobrinho Thierry, e o filho, Cécil Thiré.

Hidrocefalia oculta: o que é?

A hidrocefalia oculta ocorre quando o líquido cefalorraquidiano (chamado de "liquor"), que circula pelo cérebro e atua como um sistema de proteção, não consegue ser reabsorvido no próprio cérebro.

De acordo com a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira – Albert Einstein, no Brasil há aproximadamente 11 mil novos casos como o de Tônia em adultos por ano principalmente a partir dos 65 anos.

E a doença por ser mais comum do que se imagina.

O neurocirurgião José Ricardo Pinto, que operou a atriz duas vezes, explicou ao jornal Extra:

"Não é uma doença rara. Antigamente, quando se descobriu a hidrocefalia do adulto, media-se a pressão desse líquido, e essa pressão era normal. E aí então, passou a se chamar hidrocefalia oculta ou hidrocefalia de pressão normal."

Segundo ele, boa parte dos pacientes diagnosticados acabam se curando, mas afirma que o caso de Tônia é irreversível devido a idade avançada.

O tratamento usado para este tipo de doença é a colocação de uma válvula no cérebro que tem a função de regular o fluxo deste líquido. Ela se abre toda vez em que há um aumento e drena o excesso.

Tônia fez duas cirurgias para colocação de válvulas como estas, uma em 2000 e a outra em 2008.

"A Tônia teve, por conta da própria doença, a evolução dela. Ou seja, aí já não era nem a hidrocefalia, mas, sim, era a hipertrofia do cérebro, que já ocorreu por conta da idade, fazendo que ela perca os movimentos das mãos e das pernas. É como se se fosse uma vela que vai se pagando", explicou o médico da atriz ao jornal Extra.

É mais comum do que se pensa

A grande maioria das ocorrências de hidrocefalia em idosos, porém, está associada à incapacidade do cérebro de reabsorver adequadamente o liquor, por razões que especialistas dizem ainda desconhecer.

“Trata-se de uma doença extremamente limitante. O paciente não consegue se locomover e fica preso ao leito, com incontinência que favorece infecções urinárias de repetição", atenta o médico Ivan Hideyo Okamoto, neurologista do hospital Albert Einstein em entrevista à Agência Brasil.

Já o neurocirurgião Reynaldo André Brandt, e presidente da mesa diretora da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, explicou à EBC que "mais de 90% dos pacientes que apresentam a tríade de sintomas (comprometimento de memória e/ou funções cognitivas, marcha irregular e incontinência urinária) têm hidrocefalia".

Alguns sintomas que muitos consideram "comuns" em idosos e associam a outras doenças ou até à idade avançada como falta de equilíbrio, perda de memória e incontinência urinária, podem fazer parte do diagnóstico de hidrocefalia oculta, uma doença comumente subnotificada.

Poucos idosos recebem o tratamento adequado porque simplesmente não sabem que tem a doença.

Além dos sintomas citados, a hidrocefalia em adultos pode ocorrer quando o paciente sofre algum trauma na região da cabeça.

"Quando a doença é diagnosticada em até dois anos, é possível que haja reversão total do quadro", afirma o neurocirurgião Fernando Campos, do Hospital das Clínicas ao Estadão.

(Com informações do Estadão Conteúdo e agências de notícias)