Esse cara pode ter sido o ancestral da humanidade inteira

POR Alexandre Versignassi
Cientistas descobrem hominídeo de dois milhões de anos que encaixa-se perfeitamente como o elo perdido entre o australopiteco e o Homo erectus

Homo nalediJohn Gurche / Mark Thiessen / National Geographic
A história da nossa espécie tem um buraco. A teoria mais aceita é a de que somos decendentes dos australopitecos - macaquinhos bípedes e frágeis, que na fase adulta tinham a compleição física de uma criança de 5 anos. Eles viveram há 3 milhões de anos, e, ao que tudo indica, não eram muito mais brilhantes que um chimpanzé. O marco seguinte da evolução é o Homo erectus, de 3 milhões de anos atrás. Ele já é praticamente um Homo sapiens, um homem moderno. Chegava a 1,70 m e tinha feições humanas suficiente para passar despercebido se botasse um terno e fose passear na Avenida Paulista. Além disso, ele era um gênio: dominava o fogo melhor do que você (já que sabia acender churrasqueira sem fósforo, coisa que você não faz), e desenvolvia armas que, para a realidade de 2 milhões de anos atrás, equivaliam a caças stealth - no caso, pontas de lança capazes perfurar o couro de uma gazela das savanas africanas, seu habitat natural. Mas ele gostava de viajar também. Muitos erectus saíram da África. Os que foram para a Europa e fincaram raízes por lá evoluíram até se tornar uma versão alternativa de sapiens: o neandertal - que tinha até um cérebro maior que o nosso, ainda que não soubesse usar esse hardware tão bem. Outros erectus popularam a Ásia, dando origem a vários tipos de hominídeo que não vingaram, e acabaram extintos. Os erectus que se deram bem mesmo foram os que ficaram na África: há 200 mil anos eles originaram você, o Homo sapiens.

Bom, acho que deu para perceber que tem alguma coisa faltando nessa história: como é que um macaquinho de um metro como o australopiteco deu um salto evolutivo e virou, de cara, um glorioso erectus?

O único primata entre eles que a ciência considerava como ancestral direto do erectus (e de nós) era o Homo habilis, de mais ou menos 2,5 milhões de anos atrás. Só tem um problema: o habilis (que ganhou esse nome porque, aparaentemente, fabricava ferramentas) semrpre esteve muito mais para australopiteco do que para erectus. O buraco, na prática, continuava basicamente o mesmo. Faltava um elo menlhor ali.

Mas só até agora, porque ontem mesmo os paleontólogos sul-africanos Lee Berger e Paul Dirks descobriram fósseis de uma nova espécie do gênero Homo, o nosso gênero. Batizado de Homo naledi (pronuncia-se "naledí"), ele é basicamente um híbrido de habilis com erectus - com feições que mesclam características de primatas mais antigos com traços definitivamente humanos, como mostra a concepção artística lá em cima, feita com base em um crânio quse completo. Ou seja: ele pode ser um dos elos perdidos que faltatavam à nossa evolução. "Pode ser" porque nada impede que o naledi sejá só uma linhagem paralela, e extinta (como é o caso dos próprios neandertais, que não são nossos ascendentes, são meros primos).

De qualquer forma, a aparência desse hominídeo, encontrado uma rede de carvenas perto de Johanesburgo, na África do Sul, indica que, sim, a possibiidade de ele ser nosso ancestral direto é grande. Se for isso mesmo, vale lembrar uma curiosidade matemática. Os geneticistas sabem que, se você voltar no tempo o bastante (alguns milhares de anos), todos os seres humanos vivos naquela época, e cujos decendentes chegaram até aqui, sem quebra na linhagem, pode ser considerado como ancestral comum da humanindade inteira ? como tatata(...)tataravô ao mesmo tempo de você, da Angela Merkel, de Jesus Cristo, enfim, de todos os humanos da terra. Essa regra naturalmente, se extende até os hominídeos (e até as bactérias de 3 bilhões de anos atrás, se você puxar a árvore genealógica o bastante). Sendo assim, então, o dono do crânio ali em cima pode ser do próprio Adão em pessoa (ou "em hominídeo", se preferir). Mais especificamente, de um dos muitos adões que construíram a história do gênero homo na face da Terra. Uma história que continua sendo escrita. Agora, por você.


Fonte: Revista SuperInteressante