As maiores profecias científicas de Star Wars. Parte 1: astronomia

POR Salvador Nogueira 

A trilogia original anteviu descobertas astronômicas que só viriam décadas depois, como os Sistemas Solares com duas estrelas e as luas amigáveis à vida.
Bip. Biiip. Bip
O primeiro planeta orbitando uma estrela fora do Sistema Solar foi descoberto somente em 1995. Até então, embora já soubéssemos que estrelas distantes nada mais eram que outros sóis, não tínhamos uma noção exata de que tipos de sistema planetário poderiam existir lá fora.
Conhecendo apenas um exemplo, o do nosso próprio Sistema Solar, os cientistas até então haviam modelado suas teorias de formação de planetas com base no nosso próprio sistema, com planetas rochosos e pequenos nas regiões mais internas, e gigantes gasosos nas externas. Nesse esquema, não havia a possibilidade de gigantes gasosos próximos à estrela, nem a existência de mundos em órbitas altamente elípticas (ovais). Com a descoberta dos primeiros planetas fora do Sistema Solar, sacamos que a natureza era muito mais criativa do que supunham nossos modelos. Havia sistemas planetários nas mais variadas configurações, e planetas não ficavam sempre na mesma órbita. Em alguns casos, eles migravam.


DOIS SÓIS

TatooineDivulgação
Outra coisa que os astrônomos achavam que não poderia existir eram planetas que orbitassem em torno de duas estrelas - como Tatooine, o lar de Anakin e Luke Skywalker, que serviu de palco para a abertura do primeiro Star Wars. Era 1977 e, de acordo com tudo o que sabíamos sobre modelos de formação planetária na época, o ambiente gravitacional num sistema com dois sóis seria instável demais. Sistemas assim nem poderiam existir.
Ocorre que, depois do lançamento do satélite Kepler, em 2009, descobrimos que não é nada disso. Na verdade, planetas em torno de uma estrela que faz par com outra estrela são o feijão com arroz do cosmos. E até mesmo mundos que giram ao redor de duas estrelas ao mesmo tempo são comuns.
A essa altura, graças ao Kepler, os cientistas já conhecem dez planetas que orbitam dois sóis ao mesmo tempo. Mas devem existir muitos mais. Ao anunciar a descoberta do décimo, chamado Kepler-453b, em agosto, Jerome Orosz, da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos, apontou que o padrão orbital do planeta é tal que foi um golpe de sorte o Kepler tê-lo visto.
Esse planeta ora passa na frente das estrelas que lhe servem de sóis, ora não, por conta de uma variação periódica em sua órbita. Como é justamente essa passagem, obscurecendo parte do brilho da estrela por alguns instantes, o fenômeno que o satélite detecta para descobrir planetas, foi um golpe de sorte a órbita desse mundo ter se alinhado para isso bem na hora em que o Kepler estava observando. "A baixa probabilidade de detecção significa que, para cada sistema como o Kepler-453 que vemos, há provavelmente outros 11 que não vemos."
Em outras palavras, deve haver muitos mundos como Tatooine lá fora. E um aspecto curioso disso tudo é que, em torno de estrelas duplas, a região do sistema em que a temperatura é adequada para a vida ? nem muito quente, nem muito fria ? é mais larga. O que na prática significa que a chance de encontrarmos mundos habitáveis e, quiçá, com vida num sistema com dois sóis é até maior que em sistemas com uma única estrela, como o nosso.


LUAS HABITÁVEIS

Outra profecia cientificamente correta de George Lucas é a existência de luas capazes de abrigar uma biosfera tão pujante quanto a da Terra. Em Star Wars, podemos citar os exemplos de Yavin e Endor, duas luas em torno de planeta gigantes que tinham porte e ambiente similares ao terrestre.
Já sabemos que há planetas gigantes localizados na chamada "zona habitável" de suas estrelas, onde o nível de radiação é o ideal para a vida. Por serem gasosos e não terem uma superfície sólida, eles, por si mesmos, não são bons lugares para uma biosfera. Mas luas de grande porte em torno deles podem muito bem ser.
É verdade que, no Sistema Solar, não temos nenhuma lua que seja de tamanho comparável ao da Terra. Todas são bem menores. Mas modelos de formação sugerem que é possível. E agora os cientistas estão se esforçando para descobri-las, fuçando nos dados colhidos pelo Kepler. Até o momento, sem sucesso. Mas se você pensar que, duas décadas atrás, nem planetas conseguíamos detectar, tudo vira apenas uma questão de tempo.


Fonte: Revista SuperInteressante