Crise pode se agravar se proposta de credores for aceita, diz deputado grego

Eliana Gonçalves - Repórter da EBC Edição: Carolina Pimentel

O representante do partido Syriza no Parlamento Europeu, Stelios Koglolou, avalia que a Grécia pode sofrer um aprofundamento da crise se os gregos aceitarem a proposta dos credores em um referendo marcado para o próximo domingo (5).

Segundo ele, existe uma “campanha do medo” para que a população aceite, no referendo, a proposta apresentada pela Troika, grupo formado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, que inclui corte de aposentadorias e pensões e aumento de impostos como forma de recuperar a economia do país. “Um discurso que diz 'que se vocês votarem não e não aceitarem os acordos, será o fim do mundo, os bancos vão entrar em colapso. A [Angela] Merkel [premiê da Alemanha e principal defensora das medidas de austeridade] vai ficar zangada. Eles cortaram todo o dinheiro que vinha para Grécia e fecharam os bancos. É uma campanha do medo”, disse Koglolou, ligado ao partido do governo grego, em entrevista exclusiva à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Sobre o referendo, ele avalia que o país pode enfrentar uma grave crise política caso as condições dos credores sejam aceitas. "O governo estaria dividido e abriria espaço para que outro grupo político assuma o poder e implemente essa proposta catastrófica", destacou.

O europarlamentar conversou com a reportagem na noite de ontem (29), mesmo horário em que uma passeata com cerca de 17 mil pessoas, segundo agências internacionais de notícias, tomou as ruas da Grécia em apoio ao Syriza e as bolsas de valores de todo o mundo despencavam em razão do referendo. Hoje (30), milhares de pessoas estão na Praça Syntagma, no centro de Atenas, para manifestar apoio à permanência da Grécia na zona do euro, em uma marcha organizada por partidos de oposição e entidades de comércio e indústria.

Para Koglolou, o objetivo da Comunidade Europeia é desestabilizar o governo do Syriza para evitar que novos movimentos de esquerda ganhem espaço em outros países da Europa que também enfrentam graves crises econômicas desde 2008. "Se o Syriza for bem-sucedido na Grécia, outros países como Espanha e Portugal também vão se fortalecer para combater as medidas de austeridade e isso vai aumentar a catástrofe. Por isso, eles não querem que o governo respire. Eles querem acabar com o governo.  A única possibilidade que o Tsipras [Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego] tinha era dizer: 'se vocês insistirem nesse programa inacreditável, preciso perguntar ao povo se eles aprovam ou não aprovam esse programa'. É por isso que estamos fazendo o referendo", argumenta.

Entre as exigências apresentadas pela Troika estão o corte de pensões e a elevação da carga tributária, especialmente das empresas de turismo, uma das principais fontes de renda da economia grega. "Não teríamos apenas que aumentar os impostos, mas começar a cobrança a partir de 1º de julho. Isso é suicídio. Outros países -Turquia, França, Espanha - que atraem turistas, cobram de 4%, 8% a 9% de impostos e pedem à Grécia para aumentar de 13% para 23%".

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse nessa segunda-feira que a vitória do "não" no referendo seria também um não à União Europeia .

Na avaliação de Koglobou, se os gregos decidirem não aceitar as condições exigidas pelos credores, esse resultado não significa o desejo de deixar a Zona do Euro ou a Comunidade Europeia. "Se as pessoas disserem não, aí vamos usar esse resultado não para a saída da Zona do Euro, mas para negociar um acordo melhor tendo a vontade do povo conosco".