Ex-diretor da Petrobras diz na CPI que doação eleitoral exige volta bem maior

Marcelo Brandão - Repórter da Agência Brasil Edição: Stênio Ribeiro

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse hoje (5), em seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, que as empresas que fazem doações a campanhas políticas cobram essas doações depois das eleições. Perguntado pelo relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), Costa disse que já ouviu de executivos de empresas que doações são fruto de propina.

“Não existe empresa que não vai cobrar de volta o que foi doado. Se a empresa doa R$ 5 milhões, ela vai querer de volta R$ 20 milhões. Foi-me dito com clareza, por alguns empresários, que várias doações oficiais vieram de propina”, disse o ex-diretor.

Segundo ele, dirigentes das empresas Toyo Setal e Camargo Corrêa lhe disseram que não havia doação sem esperar algo em troca. “As empresas falam muito isso: 'não existe almoço de graça'. Qual é o motivo da empresa doar milhões de graça? Por que ela vai doar R$ 20 milhões para uma campanha se ela não tiver nenhum motivo lá na frente?”, questionou.

Costa disse ainda que “o erro” dos diretores da Petrobras foi saber da existência de cartel entre as grandes empreiteiras e não tomar providências. No seu entender, não se pode chegar à diretoria da empresa sem alguma indicação política.

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) citou os nomes dos parlamentares da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), e perguntou com quais o ex-diretor teve envolvimento no esquema de corrupção. Dentre os nomes confirmados por Costa estão os ex-ministros Edison Lobão e Aguinaldo Ribeiro, a ex-chefe da Casa Civil e atual senadora, Gleisi Hoffmann, e o presidente do Senado, Renan Calheiros. Costa disse, no entanto, que não fez qualquer negociação com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

O ex-diretor da Petrobras confirmou o que já constava em sua delação, ao dizer que houve repasse de dinheiro, fruto de propina, da cota do PP, para a campanha de Dilma Rousseff, em 2010. Ele disse também que houve repasse de dinheiro para financiamento da campanha de Eduardo Campos (falecido no ano passado) para governador de Pernambuco.

“Houve uma solicitação nesse sentido, por um secretário dele, que hoje ocupa uma vaga no Senado. [O secretário] disse que seria muito importante uma ajuda para a campanha do Campos, e o valor foi repassado a ele”. Não mencionou quanto. Ao ser perguntado por Valente, Costa confirmou que o pedido foi feito pelo senador Fernando Bezerra (PSB-PE).

Houve um momento de tensão no depoimento, quando o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) e Costa iniciaram uma discussão mais áspera. Marun questionou o motivo de Costa ter aterrado a piscina de sua casa, quando “normalmente as pessoas compram piscinas, não se desfazem delas”. Costa, sempre em tom sério, disse que havia tido “problemas crônicos” de vazamento.

“Minha esposa propôs aterrar a piscina porque não aguentava mais pagar conta de água. Essa questão da piscina é um folclore”, disse o depoente. Em tom irônico, Marun disse que folclore seria Costa “ganhar milhões em propina e ter dificuldade de pagar conta de água”. Nesse momento, Costa, visivelmente incomodado, disse que Marun poderia fazer a escavação da piscina, caso quisesse investigar algo.

“O senhor me respeite! Não levante a voz comigo!”, gritou o deputado sul-matogrossense. “O senhor também me respeite. Estou arrependido do que fiz, pagando pelo meu erro, mas sou um cidadão brasileiro e mereço respeito”, respondeu Costa. Os ânimos, então, se acalmaram.

- Assuntos: CPI da Petrobras, Paulo Costa, doações, campanha, dinheiro, propina