Torturado agradece a Dilma por acolher mãe e irmãs na prisão

Paulo Victor Chagas e Marcelo Brandão – Repórteres da Agência Brasil Edição: Nádia Franco

Pela segunda vez depois que saiu da prisão, Ivan Akselrud de Seixas encontrou-se com a presidenta Dilma Rousseff. Porém, só nesta quarta-feira (10), ele teve oportunidade de agradecer à presidenta pella acolhida dada à sua família na cadeia, na época da ditadura militar.

Ao discursar na abertura do Prêmio de Direitos Humanos 2014, Ivan Seixas, preso e torturado por ter enfrentado a ditadura, disse que foi uma “emoção muito grande” receber menção honrosa do prêmio no dia em que o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi entregue, depois de dois anos e sete meses de trabalhos.

Dirigindo-se a Dilma, Seixas contou que perdeu o pai de forma brutal, logo depois de ambos serem presos, e que uma de suas irmãs foi violentada sexualmente. Ele lembrou que uma das presas que, apesar de torturada, não entregou seus companheiros, foi a Vanda. “Vanda era Dilma Rousseff”, afirmou.

“As pessoas que chegavam à prisão estavam fragilizadas por todo o clima de horror que acontecia, fisicamente, inclusive. E quem estava lá [na cadeira] já há algum tempo recebia essas pessoas e as protegia. No caso específico da minha mãe, Dilma já estava lá e a recebeu e protegeu, assim como, quando ela [Dilma] chegou lá alguém a recebeu. Aí, eu fiz questão de agradecer a recepção”, disse Ivan após a cerimônia. Ele lembrou que Dilma também acolheu e protegeu na prisão suas duas irmãs.

Sobre o relatório da CNV, a presidenta disse que é “um passo fundamental para garantir um direito de todos brasileiros: conhecer sua história sem restrição para que se possa construir, cada vez mais, uma sociedade melhor”.

Receberam o prêmio 21 pessoas e instituições que desenvolveram neste ano ações de combate à violação de direitos e de defesa das garantias fundamentais dos cidadãos. Também foram distribuidas duas menções honrosas. Categorias como cultura e direitos humanos, igualdade racial e comunicação e direitos humanos tiveram o rapper Emicida, o goleiro Aranha e o grupo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social entre os agraciados.

Dilma manifestou o “mais profundo reconhecimento do governo brasileiro” aos premiados. “A luta que vocês travam é trabalho e sacrifício. [...] Ao lutar pelas garantias de direitos, vocês impulsionam o Brasil para a frente”, afirmou.

Dilma cumprimenta um dos premiados, o cacique Damião  Paridzané    Wilson  Dias/Agência  Brasi
Após a entrega do prêmio, tomaram posse os 22 membros titulares do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, que substitui o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. É a primeira composição do colegiado, cujo projeto tramitou quase 20 anos no Congresso Nacional. Metade dos conselheiros é de representantes do Poder Público e metade indicada por organizações da sociedade civil, como o Coletivo Nacional de Juventude Negra, os conselhos Federal de Psicologia e Indigenista Missionário e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

De acordo com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência (SDH), Ideli Salvatti, o conselho vai se dedicar às denúncias de violações de direitos humanos recebidas por meio do Disque 100 e da ouvidoria da SDH. “O conselho é um mecanismo forte de supervisão, acompanhamento e superação de situações onde os direitos humanos venham a ser violados. O conselho vai fazer o trabalho de acompanhamento, monitoramento e proposição”.

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