Mangueira recebe festa literária que homenageia Abdias Nascimento

Da Agência Brasil Edição: Aécio Amado

A Mangueira, na zona norte do Rio, foi a favela escolhida para sediar, de hoje (12) até domingo (16), a 3ª Festa Literária Internacional das Periferias, anteriormente chamada de  Festa Literária das Unidades de Polícia Pacificadora (Flupp). O evento é gratuito e reúne artistas e escritores, entre eles, cerca de 50 nomes da literatura mundial, moradores de comunidades, estudantes e organizações voltadas à luta dos indígenas, mulheres e negros. A estimativa dos organizadores é receber cerca de 20 mil pessoas durante os cinco dias de festa, o dobro da edição anterior, em 2013. o objetivo é promover uma discussão sobre a cidade, a literatura e as culturas, além de formar novos autores e leitores oriundos da periferia.

A terceira edição da Festa Literária Internacional das Periferias, a maior do país voltada para as comunidades, ocorre na Mangueira de 12 a 16 de novembro /Tânia Rêgo/Agência Brasil

Debates, oficinas, shows e uma exposição de obras do escritor e artista plástico Abdias Nascimento, homenageado da festa deste ano, fazem parte da programação. Nascimento completaria 100 anos em 2014 e foi uma das lideranças de maior destaque do movimento negro brasileiro. Como nas outras edições, será publicado um livro com textos de autores das periferias, selecionados previamente em um processo formador de escritores promovido em diversas comunidades do Rio durante os meses que precederam o evento.

Um dos idealizadores da festa literária, o produtor cultural Julio Ludemir disse que ela funciona como uma plataforma para as novas narrativas decorrentes das políticas públicas implantadas nas favelas e busca revelar uma nova realidade do país. “As mudanças ocorridas nas periferias por essas políticas, nas duas últimas décadas, só vão se consolidar quando o Brasil se tornar uma sociedade de leitores”, ressaltou.
A terceira edição da Festa Literária Internacional das Periferias, a maior do país voltada para as comunidades, ocorre na Mangueira de 12 a 16 de novembro /Tânia Rêgo/Agência Brasil


Entre os convidados do evento está a escritora e professora indígena Eliane Potiguara, que participa de um projeto de escolas sustentáveis em Ouro Preto, Minas Gerais, e trabalhou nos últimos 40 anos na valorização da literatura e educação dos povos indígenas. Eliane disse que a feira é de grande importância para o reconhecimento da interculturalidade.

“Somos pessoas diferenciadas enquanto povo, com diferentes raças e gêneros. Fazer esse intercâmbio por meio da valorização da literatura e das diferentes identidades, entre elas a indígena, nas comunidades, é muito enriquecedor para o desenvolvimento de uma nova mentalidade, menos elitizada e mais dinâmica”.

O escritor, ator e diretor de teatro Márcio Januário Batista é morador do Vidigal, comunidade da zona sul do Rio, e teve seu texto escolhido em edição anterior. “A gente ainda tem uma literatura no país muito mais voltada para uma elite, para a classe média alta e branca. A feira é a primeira atividade que vejo no Brasil que mostra os escritores da periferia falando da própria realidade”, disse.

A terceira edição da Festa Literária Internacional das Periferias, a maior do país voltada para as comunidades, acontece na Mangueira de 12 a 16 de novembro /Tânia Rêgo/Agência Brasil
Batista acrescenta que, além de dar espaço para os escritores das periferias, o evento incentiva a formação de novos autores. “A Flupp cria um elo entre o jovem e a palavra, pot meio de uma nova forma de se enxergar a literatura. Além disso, é muito estimulante contar com a participação de tanta gente importante no evento. Quando eu poderia imaginar, por exemplo, que iria ter meu texto lido por escritores consagrados como Felipe Pena e Paulo Scott”, ressaltou.

A programação completa dos cinco dias da Flupp está disponível no site http://www.flupp.net.br.

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